Equação das Cores apresenta ao público brasileiro, pela primeira vez, um conjunto de pinturas do artista escocês Daniel Mullen, que vive em Amsterdã, na Holanda, onde se graduou em artes plásticas, pela Gerrit Rietveld Academy, em 2011. Com a colaboração da cineasta Lucy Engelman, com quem é casado, ele explora as possibilidades visuais de relações que se apresentam espontaneamente em uma pequena porcentagem (4%) da população mundial, manifestando-se pela capacidade de transitar entre diferentes sensações. Isto lhes dá uma característica singular para lidar com os sentidos – olfato, visão, paladar, audição e tato – como tradicionalmente os conhecemos.
Daniel Mullen não é um sinesteta: não tem a capacidade de “misturar” os sentidos ou, como diz a palavra de origem grega que denomina o fenômeno, “unir sensações”. Sua atual investigação está, porém, intimamente ligada a essa forma de relação sensorial e resulta em pinturas produzidas a partir da escolha aleatória de datas que são, sinestésica e cromaticamente, transcodificadas para as telas.
A colaboração decorre da percepção que Engelman detectou na produção pictórica de Mullen. Partindo do interesse dela, que detém a condição de sinesteta das cores e números e que enxergou nas pinturas dele uma relação direta entre esses dois códigos. É preciso ressaltar que isto não havia sido pensado previamente pelo artista. A identificação da possível condição sinestésica nos trabalhos passou a ser um foco de investigação que ele experimenta, construindo imagens que decodificam essa união de sensações – número e cor – para rearticulá-las nas pinturas.
O que poderia soar como uma exploração temática, e desprovida de relação com a anterior produção do artista, precisa ser observado por outra perspectiva. A sinestesia surge aqui na dimensão de desdobramento de suas pesquisas de natureza abstrata geométrica, construtiva, óptica e de interesses pela espacialidade, transpostas para a bidimensionalidade da tela. Esses elementos são claramente visíveis em sua produção desde 2015, período em que realiza a série Future Monuments, pinturas nas quais já se podem vislumbrar as condições cromáticas e espaciais virtuais encontradas na recente produção.
Extrapolar a Op Art
Nesta nova série, o artista prossegue sua investigação em torno da tridimensionalidade, articulando relações cromáticas, conciliando rigor e liberdade, proporcionando uma dimensão de virtualidade e extrapolando a relação com as condições originais da Op Art. Dessa forma, transpõe a busca do efeito e mantém-se fiel ao espírito de propor experiências visuais, perceptivas e objetivas, aqui também permeadas pela proposta sinestésica, com um vocabulário que permanece simplificado, porém potente.
Mesmo que não seja a única possibilidade de leitura para as imagens, o fenômeno óptico é componente fundamental para compreender as composições visuais em toda a sua dinâmica e potencialidade. Constitui-se em elemento de articulação da produção do artista, em suas distintas séries já produzidas, desde a já mencionada Future Monuments.
Na exposição, uma série de pinturas que exploram a relação de cada número com sua cor correspondente proporcionará ao visitante uma oportunidade de entender o raciocínio da inter-relação, além de permitir que esses mesmos olhos possam decodificar a articulação proposta nos demais trabalhos que compõem o conjunto exposto.
Dentre as telas selecionadas, cinco se apresentarão, rigorosa e meticulosamente, dispostas lado a lado nas paredes da galeria. Elas fornecerão uma chave para decifrar as elaboradas construções articuladas pela dupla e transpostas, por ele, para as pinturas.
Não parece ser possível identificar na produção do artista qualquer pretensão de mergulhar nas discussões e argumentações científicas, da genética, ou de natureza médica, neurológica, psiquiátrica ou psicológica sobre o assunto. Muito menos se ela é naturalmente desenvolvida ou adquirida. Tudo isso sem mencionar o fato de uma propensão comprovada de incidência da condição sinestésica em mulheres; não por acaso, é Lucy Engelman a portadora dessa condição.
Porém, é preciso destacar que a dimensão da sinestesia, como experiência única de cada sinesteta, encontra nas propostas do artista um possível caminho de compartilhamento. Ele busca ampliar no observador a potencialização dos sentidos e das sensações.
Uma série de argumentos originários das correntes vanguardistas europeias – desde os primeiros experimentos das vanguardas como o Construtivismo russo, De Stjil, deslocando-se ao longo das décadas pela arte concreta, Cinetismo, Minimalismo, Hard-edge e Op Art, para mencionarmos os de mais direta e imediata referência – pode ser de diferentes maneiras associadas aos processos do artista.
A eficácia de sua proposição afirma a presença de seu interesse pelo prazer da ambiguidade, do dinamismo e do movimento como fontes de provocação do olhar. Esses parecem atributos com os quais podemos caracterizar sua produção.
Elementos como cor, planos, linhas, ângulos, espaço e repetição, entre outros, que podem ser associados a cada momento de sua distinta produção – nas séries como Future Monuments, Surfacing Spatial, Feedback, Monoliths, White Series –, estão articulados em Synesthesia de forma a ampliar a investigação sobre a condição do olhar humano.
As dimensões de temporalidade e espacialidade são duas matérias-primas fundamentais nas construções pictóricas de Daniel Mullen. Ele nos propõe mergulhar na experiência sensível e enigmática das representações que elabora, unindo sensações e percepções.
Serviço
Equação das Cores, de Daniel Mullen
Emmathomas Galeria
Al. Franca, 1054
de 30/3 a 4/5
emmathomas.com.br