icon-plus
Postado em 17/04/2012 - 7:39
De volta às origens
Nina Gazire

Após 30 anos sem pintar, Jenny Holzer usa documentos do Wikileaks como suporte para cores

Endgame2_jenny-holzer_collabcubed

A norte-americana Jenny Holzer é conhecida internacionalmente por seus displays de LED com frases provocativas. Parecidos com informes publicitários, a artista já exibiu seus dizeres luminosos nas mais reconhecidas instituições do mundo, e também mostrou-os em locais públicos.

Ligada a um grupo de artistas mulheres da década de 1980, como Barbara Kruger e Sarah Charlesworth, cujos trabalhos incluíam uma reinterpretação de discursos de gênero advindos da mídia e da publicidade, Holzer inspirou toda uma nova geração com suas narrativas aforísticas. A frase “protect me from what I want” (proteja-me daquilo que quero), pertencente à série Truisms e exibida exaustivamente em diferentes lugares, praticamente se tornou um bordão do mundo arte.

O que talvez pouca gente saiba é que Holzer começou a carreira como pintora. Seus primeiros trabalhos foram telas influenciadas pelo abstracionismo, estilo que a artista abandonou nos fins da década de 1970 quando começou a se voltar para a arte conceitual. Agora, após 30 anos sem pintar, ela retorna às tintas revisitando os estilos Hard-Edge (borda dura) e Color Field (Campo de Cor), cujos mestres Mark Rothko e Barnnett Newman foram grande influência em seu início de carreira.

Picture 10

A exposição Endgame, exibida na Skarstedt Gallery, em NY, faz um retorno pela história da pintura norte-americana com um grande diferencial. Sem abandonar completamente o texto como suporte artístico, Holzer pinta e serigrafa as cores por cima de cópias de documentos militares sobre técnicas de interrogação e tortura. Para o crítico de arte do New York Times, Ken Johnson, a “eficácia da acusação que Holzer faz sobre a arte depende muito da sobrevivência da culpa”. Isso significa que Holzer estabelece sua arte sempre em um jogo duplo: “difícil apreciar arte em uma galeria chique quando você é lembrado de que existem pessoas sofrendo mundo afora”, completa Johnson.

O site Artinfo afirmou que a exposição de Holzer seria “uma abstração politicamente engajada em plena era Wikileaks”, já que parte das cópias dos documentos usados vieram dos vazamentos de informações provocadas pelo site de Julian Assange. Por mais que a “mistura” entre arte abstrata e documentos secretos pareça díspar, existe algo de interessante sobre as possíveis associações que o experimento provoca. Procurar em meio as cores vivas um subtexto sobre a dor da tortura é revelar ao mundo uma alternativa de como a arte pode responder às políticas de hegemonia militar norte-americana. Ao mesmo tempo, Holzer mostra que se antes seus aforismos evidenciavam um mundo de ironias filtradas e escolhidas, hoje a verdade vaza rapidamente pela aparência falsa do agradável.