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Roberto Rugiero (Foto: Divulgação)
Postado em 22/12/2020 - 11:35
Descobridor do inconsciente coletivo na arte
Roberto Rugiero (1942-2020), fundador da Galeria Brasiliana, é lembrado pelo amigo Ralph Camargo, galerista

Desde que era Peperto, como Piva o batizou lá pelos idos 1960, acompanho esse gentilhomme – que, como bem lembrou alguém, jamais se alterou inadequadamente, jamais elevou o tom, mesmo em contendas ideológicas. Fidalguia de Lord! 

Tudo em Robertex era pausado, cordato, respeitoso com quem quer que fosse, e sua indisfarçável timidez era uma zona de reflexão de sua perene observação. Embora nossos parceiros venerassem por coerência e identificação a beat generation, Robertex flanava à margem, apesar da corrente que irmanava de Piva, Willer, de Haro, Mautner, Aguilar e uma dúzia de outros, nós os amigos diários. 

Não era suficientemente desregrado como os demais e nunca o vi no Gigetto, Jardim di Napoli, Paribar, Barbazul ou João Sebastião Bar das geladas madrugadas da terra da garoa. Também não participou de nenhum dos recitais no Teatro de Arena, seu diapasão era até o sunset, quando se enfurnava no Jardim S.Bento, escorado por Verlaine e Rimbaud, temperados no THC.

Preservando seu comedimento, nunca o vi igualmente nas viagens lisérgicas de Wesley, Grassmann e Peticov, que atravessavam literalmente nossos fins de semana. Apesar disso, era uma unanimidade entre todos os companheiros que o cultivavam afetuosamente. Esse era justamente seu ponto culminante: o afeto. Sua ausência era sensível a todos nós que temperávamos nossa impetuosidade com sua dedicação à palavra, ao poema byroniano à fixação na metalinguagem. 

Roberto Rugiero (Foto: Divulgação)

Já Rugiero, nos tempos de descobridor do inconsciente coletivo na arte espontânea – como sempre enfatizou, desprezando a designação convencional de “arte primitiva” ou “popular” –, a partir dos anos 1980 teve contribuição única no mercado de arte, propondo uma centena de nomes fortes e originais, que hoje são presentes em exposições temáticas e museológicas e em importantes coleções. 

Embora sua Galeria Brasiliana não tenha tido uma atuação nos moldes de tradicionais – propondo exposições e impulsionando seus artistas para coleções públicas e privadas, documentadas por publicações e mídia –, detendo-se fundamentalmente na compra e venda para particulares e colegas, sua postura de seriedade e dedicação ficaram incorporadas ao mercado, sinalizando caminhos para as futuras gerações.