O design em um mundo onde o consumo consciente é cada vez mais necessário
Ilustração de Bruno Pugens, a partir de foto do livro Design Revolution: 100 Products that Empower People
Ucho Carvalho
Faz muito tempo que as discussões sobre a sociedade de consumo dividiam opiniões. As gerações atuais assimilaram naturalmente seus prós e contras e não se incomodam com sua existência solidificada, antes tão polêmica. Hoje qualquer grupo social pode ser definido a partir do que consome. E consumado está. A questão passa a ser, então, como regular os excessos desse antigo monstro filosófico que dorme placidamente conosco, mas mantém um olho aberto. Seus excessos são visíveis e causaram um colapso nas escolhas. Por que consumimos tanto? Por que produzimos tanto? É porque desejamos muito?
Será que o design, antes mera categoria profissional que desenhava cadeiras e bolava embalagens atraentes, e que agora define e resolve necessidades de consumo, pode ajudar o mundo a se orientar nesse emaranhado de prateleiras cheias, vitrines acolhedoras e promessas vãs? Há milhares de objetos do nosso cotidiano. São chamados de utilidades, mas nem sempre são tão úteis. As sociedades precisam considerar o impacto de todas as mudanças causadas pela inclusão de tanta tralha em nossas vidas.
A sociedade do conhecimento, base da sociedade de consumo, inova mais que em qualquer outro momento da história. Muita coisa é cuspida pelas empresas e mais de 70% dos novos produtos nos EUA fracassam nas prateleiras ou em seu uso cotidiano. Na linha de frente desse jorro está o design, pois ele traduz ideias em realidade.
Qual é o papel do designer nesse tempo de “inutilidade funcional”? Se o design é a adaptação intencional do ambiente para satisfazer necessidades individuais e sociais (não somente um artefato), é necessário que a relação homem–objeto seja repensada. Para ir além das questões estéticas e funcionais e ajudar a solucionar problemas de forma sustentável e otimista, o designer deve, antes de projetar, pensar em para quê/para quem/por que faz?
Que tal trazer questões históricas, geográficas, culturais, legais e éticas ao projeto e assim fazer um design estratégico que contemple o problema das mudanças climáticas, da energia, do crescimento populacional, da mobilidade, da educação e da diversão? Como o exemplo bem-humorado de um clube noturno holandês, cuja pista de dança produz energia cinética a partir dos movimentos dos clubbers. O mundo não precisa de mais uma cadeira!
Ucho Carvalho é consultor de imagem, tendências e estilo e diretor da Asia Branding.