Urso dançarino, figura rupestre, interferência política ou simplesmente brincadeira. As histórias dos distintivos dos clubes de futebol pelo mundo estão recheadas de curiosidades que podem surpreender até o mais fanático torcedor. Veja 16 desses escudos mais curiosos, separados a dedo após um bate-papo com o jornalista Marcelo Duarte, apresentador do canal ESPN Brasil e autor de O Guia dos Curiosos (Cia. das Letras), e José Renato S. Santiago Jr., autor do livro Os Distintivos de Futebol Mais Curiosos do Mundo (Panda Books).
Union Deportiva Almeria
– Espanha
Se não é comentado, mal se percebe, mas entre as letras U e D há a forma de uma figura humana (de braços e pernas abertas, como as crianças costumam desenhar). Trata-se de um Índalo, pintura rupestre do período Neolítico que foi descoberta em 1868 e fica em uma região próxima à cidade de Almería. Esse símbolo é considerado um amuleto de sorte pelos moradores e, claro, foi incorporado ao clube de futebol também.
Atlanta Silverbacks
– Estados Unidos
Antigamente chamado Atlanta Ruckus, o clube ganhou novo nome e também um grande homenageado, o querido – mas um tanto mal-humorado – gorila Willie B., que aparece no escudo. Tudo bem, para nós, brasileiros, ele não passa de um simpático animal, mas Willie é o gorila que viveu por mais tempo em cativeiro na história dos Estados Unidos e era muito querido pela população que visitava o zoológico local. Para se ter uma ideia da fama, uma estátua de bronze foi criada em sua homenagem após sua morte, em 2000.
Football Club Avenir Beggen
– Luxemburgo
O Avenir atualmente disputa a Segunda Divisão do campeonato luxemburguês – ou seja, importância próxima de zero. Mas não tem como não simpatizar com a figura do sorridente duende montado em cima de uma bola no escudo do clube. Diz a lenda que o Elfo surgiu após a invasão alemã a Luxemburgo na Primeira Guerra Mundial. O pequeno mascote seria uma forma de trazer motivação, esperança e o espírito de alegria à população.
Bangu Atlético Clube
– Rio de Janeiro – Brasil
Futebol também é cultura. A fundação do Bangu é amparada em três pernas: a social, a cultural e a esportiva. Assim, as letras do distintivo representam objetos que remetem a esses setores. O “B” é um pincenê, óculos sem , haste usados entre os séculos 15 e 19, e mostra o lado intelectual. O “A” é um suporte para cavalete de pintura, a ala cultural. O “C” é uma ferradura, para dar sorte nos esportes.
Club Atlético Boca Juniors
– Argentina
É sempre bom lembrar a história das cores do clube: os fundadores decidiram que o time teria as cores do primeiro navio que passasse pelo porto de Buenos Aires. E então surgiu um de bandeira sueca, azul e amarela. O que muitos não sabem é que o distintivo do Boca está sempre em mutação. As estrelas representam todos os grandes títulos conquistados em sua história – por enquanto, 50: seis conquistas nacionais amadoras, 23 títulos nacionais profissionais, 18 títulos internacionais e três copas e títulos oficiais.
Esporte Clube Patos
– Paraíba, Brasil
Os fundadores do clube paraibano queriam homenagear a cidade de Patos com o nome do clube e também no distintivo. Escolheram colocar um pato. Até aí, tudo bem. O problema é que esse pato era o Donald, em desenho fiel ao criado por Walt Disney. O pessoal da Disneylândia não gostou muito da ideia e pediu para o time mudar o símbolo. Primeiro, eles só tiraram a roupa de marinheiro, mas parece que o resultado ainda não agradou. Então, o clube criou um novo pato – que, convenhamos, ainda lembra o Donald.
Club Social y Deportivo Colo-Colo
– Chile
Reconhecido no mundo todo por seu nome, o clube garante a fama também pelo escudo singular. O índio representado no emblema é Colo-Colo – Gato das Montanhas –, nome do cacique da tribo Mapuche, morto em 1559 após lutar contra a invasão espanhola no Chile.
Clube Atlético Juventus
– São Paulo – Brasil
É quase unanimidade: o distintivo do Juventus da Mooca é um dos mais bonitos do mundo. O clube é cria de italianos que vieram morar em São Paulo, a maioria originária de Turim, cidade-sede dos clubes Juventus e Torino. Assim, a homenagem com o nome do primeiro e a cor grená, que representa o segundo clube. Para os italianos de Turim, essa cor representa o sangue dos soldados da Brigada de Savoia, que expulsaram os franceses da cidade em 1706.
Liverpool Football Club
– Inglaterra
A frase acima do brasão, You’ll never walk alone (Vocês nunca caminharão sozinhos) é uma homenagem ao técnico Bill Shankly, que chegou ao clube em 1959 e ficou por 15 anos, período que tirou o Liverpool do anonimato da Segunda Divisão para torná-lo um dos principais times do mundo. A frase vem de um musical da Broadway encenado pela primeira vez em 1945. Em 1963, com a ascensão do time, a banda liverpooliana Gerry and the Pacemakers regravou a música, que virou hino para os torcedores.
Club Deportivo Pan de Azucar
– Panamá
Fundada em 1974, você consegue imaginar de onde surgiu o nome e o distintivo desta equipe que atualmente disputa a Segunda Divisão de seu país? Além do Pão de Açúcar como nome e no símbolo, a cidade do Rio de Janeiro ainda é homenageada com outros dois pontos turísticos, o Cristo Redentor e as belas praias.
FC Smorgon
– Bielorrússia
Fundado em 1987, o jovem clube disputa atualmente a Segunda Divisão do campeonato nacional da Bielorrússia. Seu distintivo mostra um urso segurando o brasão de armas da cidade, mas a curiosidade mesmo é uma de suas patas levantadas. A região abrigava no século 18 um centro de adestramento de ursos e, diz a lenda, eles eram colocados em jaulas com carvão quente no chão, para que “dançassem” Mais um detalhe: a parte vermelha do escudo representa esse chão em brasa.
Arsenal Football Club
– Inglaterra
Um verdadeiro time de operários. É isso o que representa não só o nome, mas o distintivo do clube. Fundado no fim do século 19 por funcionários de uma fábrica de armamentos, o canhão sempre esteve presente no emblema do Arsenal. A diferença é que no início apareciam três deles, todos apontados para o alto.
Botafogo de Futebol e Regatas
– Rio de Janeiro – Brasil
Fusão entre o Club de Regatas Botafogo, que sempre ostentou a estrela branca em um fundo preto, e o Botafogo Football Club, que usava o preto e o branco da Juventus de Turim, em um escudo em formato suíço. A história contada é que a Estrela Solitária representava a estrela D’Alva e foi adotada por ter sido a primeira a aparecer no céu no dia da fundação do clube – porém, o ponto brilhante era o planeta Vênus.
Sport Club Corinthians Paulista
– São Paulo – Brasil
O atual campeão mundial de clubes foi fundado em 1910, mas seu símbolo como o conhecemos só foi desenhado em 1939, quando foram adicionados os dois remos e a âncora, esportes praticados com maestria pelo clube naquela época, no límpido e belo Rio Tietê. A arte-final foi feita por um craque das telas e que, curiosamente, foi jogador do Timão: Francisco Rebolo.
Sociedade Esportiva Palmeiras
– São Paulo – Brasil
Inicialmente, o clube usava apenas as iniciais PI, de Palestra Itália. Com a Segunda Guerra Mundial e a pressão nacionalista contra nomes estrangeiros, a equipe mudou de nome para Palmeiras. Essa alteração aconteceu em 1942, com a criação do escudo com a letra P, o nome do clube abaixo e as oito estrelas acima, quatro de cada lado. Engana-se quem pensa que elas representam títulos: significam apenas o mês de fundação do clube, em agosto.
Futbol Club Barcelona
– Espanha
Um dos maiores clubes do mundo, o todo-poderoso time espanhol também tem um distintivo cheio de curiosidades. A começar pelo seu canto superior esquerdo, com a cruz de São Jorge, padroeiro da Catalunha. A região também é homenageada no lado direito superior, com as listras com as cores da bandeira. Porém, no período de ditadura de Francisco Franco, entre 1939 e 1976, essas listras viraram apenas duas, para representar a bandeira da Espanha. Na parte inferior, as cores da agremiação inspiradas em um clube suíço, o Basel.
*Paulo Borgia é jornalista e autor de Demotape, livro sobre bandas independentes de São Paulo. Faz parte do coletivo de fotógrafos We Shot Them.
*Publicado originalmente na #select11.