Mostra e seminário reacessam práticas artísticas e políticas “subversivas” de diferentes contextos internacionais nos anos 1980
De 25 de outubro até março de 2013, a Rede Conceitualismos do Sul apresenta a mostra Perder a Forma Humana no Museu Reina Sofia em Madrid.
O brasileiro Eduardo Kac, artista pioneiro em interações e cruzamentos da arte com ciências – sejam elas robóticas, digitais, biotecnológicas – e um dos dinamizadores da cena underground brasileira nos anos 1980, exibe dentro da mostra sua série radical de fotoperformances Pornograms, criada entre 1981 e 1982.
Sob ditadura militar, Kac liderou o Movimento de Arte Pornô e fez apresentações públicas semanalmente nas ruas do Rio de Janeiro. Vestindo sua icônica minissaia rosa, o Bufão do Escracho – personagem de Kac na Gang, braço performático do movimento – poetava com o corpo e a cidade, executando performances que eram experiências físicas de suas poesias pornográficas, textos escritos para serem gritados, literalmente incorporados.
Os registros desses espetáculos que marcaram o Rio de Janeiro serão exibidos pela primeira vez em um museu – não só as publicações originais e fotografias, mas também um vídeo raro do memorável evento vivido pela Gang de Kac na praia de Ipanema.
Legenda: O chileno Pedro Lemebel, que escreveu em 1986 o Manifiesto Hablo por Mi Diferencia, é um dos debatedores do seminário Perder a Forma Humana (Foto: Divulgação)
Com a exposição Perder a Forma Humana, o grupo de pesquisa Conceitualismos do Sul – atuante desde 2007 no Museo Reina Sofia – reativa práticas artísticas e políticas que ocorreram durante a década de 1980 em diferentes contextos internacionais. A imagem do título da mostra remete à transformação física do humano, imposta ou voluntária, como processo com um epicentro de coordenadas geográficas e cronológicas bem determinadas: a América Latina durante a década de oitenta.
Aqui, a perda da forma humana diz respeito tanto à violência física exercida pelas ditaduras militares, estados de sítio e guerrilhas revolucionárias quanto às experiências de liberdade fruto da subversão ou insubordinação a essas imposições. O corpo é objeto de mutação, de questionamentos, é suporte e elemento que encarna as circunstâncias históricas mas também é capaz de transformá-las. A exposição mostra como simultaneamente, táticas de subversão e ativismo artísticos apareceram em diferentes países que sofriam com os sufocamentos provocados pelos regimes ditatoriais.
Além da exposição, o grupo organiza um seminário nos dias 26 e 27 de outubro, com entrada gratuita (para quem estiver em Madrid!), e transmissão ao vivo pela internet.
Confira abaixo a programação completa do seminário (horário de Brasília):
Dia 26/10
13h – Apresentação do Projeto – Jesús Carrillo e Jaime Vindel (Red Conceptualismos del Sur)
13:30h – Fazer política com nada. Materialidade marginal e ativismo artístico – Guillermo Giampietro, Eduardo Kac, Marta Cocco e Mauricio Guerrero. Mediação de Fernanda Nogueira e Ana Longoni
15:30h – Corpos desobedientes. A irrupção de sexualidades rebeldes – Pedro Lemebel e Francisco Casas (Yeguas del Apocalipsis), Sergio Zevallos e Maris Bustamante. Mediação de Fernanda Carvajal e Fernando Davis
Dia 27/10
06:30h – Cenas under. A festa e a ocupação urbana como nova política – Alfredo Márquez, Sarah Minter, Ral Veroni, Gonzalo Rabanal (Los Ángeles Negros). Mediação de Miguel López e Daniela Lucena
12:30h – O que nos dizem hoje os anos oitenta? – Rachel Weiss, Suely Rolnik, Ana Alvarado e Roberto Amigo. Mediadores: Sol Henaro e André Mesquita
Saiba mais:
Perder la forma humana. Una imagen sísmica de los años ochenta en América Latina
De 25 de outubro de 2012 a 11 de março de 2013
Museo Reina Sofia – Madrid
Curadoria: Red Conceptualismos del Sur