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Postado em 19/09/2014 - 8:04
Em movimento
Guilherme Kujawski

Depois de Nova York e Londres, feira centrada em trabalhos de videoarte e expressões similares expande suas atividades para Istambul

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Legenda: Excerto de Waste_Generation, 2011, de Chris Doyle (imagem: cortesia Galeria Catharine Clark)

Depois de Londres e Nova York, Moving Image, feira de videoarte e quejandos, partiu para Istambul, um dos maiores pontos históricos de convergência de civilizações do mundo. Procede em paralelo a outro evento, que vai também de 25 a 28 de Setembro: a segunda edição da ArtInternacional, feira de arte contemporânea que reúne 78 galerias internacionais.

As obras de Moving Image Istanbul se dividem em três eixos – instalações, projeções e mono-canal – mas todas têm em comum características cinemáticas. Outro destaque importante para suportes midiáticos dessa natureza é a estrutura do espaço expositivo: a feira acontece em Haliç, maior centro de convenções de Istambul. O catálogo (virtual) está hospedado na Artsy.net, repositório voltado para o colecionismo e a educação sobre arte contemporânea.

O comitê consultivo, nomeado pelos diretores Murat Orozobekov e Edward Winkleman, é constituído por um painel de curadores internacionais. Paula Alzugaray, diretora de redação da revista seLecT, está entre eles. Há também um prêmio de U$10.000 para a aquisição de um dos trabalhos, que será destinado ao acervo do Borusan Contemporary, plataforma de artemídia localizada na Turquia.

Veja alguns dos destaques:

Technologia

Technologia (2010), de Mounir Fatmi
Uma versão “islâmica” dos Rotoreliefs, experiência de arte cinética elaborada por Marcel Duchamp, que dispôs litografias circulares sobre pratos de toca-discos em movimento. Em Technologia, o artista marroquino radicado na França assume o papel dos primeiros astrônomos árabes que auscultavam pacientemente o movimento de estrelas e planetas. Mas agora o que está sendo observado é a velocidade do mundo contemporâneo e o truncado diálogo entre Oriente e Ocidente.

South China Sea Pishkun (2009), por Dinh Q. Le
O vietnamita Dinh Q. Le é fascinado por helicópteros. Não é à toa. Na década de 1960, testemunhou os helicópteros AH-1 Cobras devastarem aldeias inteiras no interior de seu país. Para a feira foi selecionada a sua primeira incursão no mundo da animação, uma narrativa inspirada na fuga do corpo diplomático norte-americano de Saigon em 1975, quando da derrota dos EUA na guerra do Vietnã. Na pressa, as aeronaves não foram completamente abastecidas, provocando a queda de algumas no Mar do Sul da China.

Nino

Untitled (Shirt) (2004), de Nino Cais
Nino Cais começou sua carreira realizando esculturas com nós em panos, trabalhos marcados pela influencia de sua mãe, uma costureira profissional. Em sua produção, ele gera poéticas a partir de atos e objetos triviais, sempre usando o seu próprio corpo como agente de mediação. Nino Cais realiza, nesse registro, uma curiosa performance na qual bacias e chaleiras embrulhadas ao redor de seu torso adquirem o aspecto de uma “camisa-de-força-auto-complexificada”.

Waste_Generation (2011), de Chris Doyle
Animação que tem como ponto de partida o problema do lixo eletrônico. Torna-se atual após a coletiva de imprensa da Apple, na qual foi lançado o novo iPhone, aparelho que adquire obsolescência ato continuo ao seu lançamento (em um universo paralelo, ao invés de a empresa ter incluído o último álbum do U2 nos dispositivos iOS, inseriu sorrateiramente a versão digital de A Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord). Neste trabalho, Doyle associa fortes simetrias gráficas para questionar a assimetria socioeconômica perpetrada pelo neoliberalismo.