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Postado em 13/10/2011 - 9:06
Enquanto isso, em Paris…
Juliana Monachesi

De Gerhard Richter a Henrique Oliveira: o que os parisienses vêem?

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Escultura de Not Vital na entrada da galeria Thaddaeus Ropac (foto: wayne/theimagist)

Não é exatamente como Chelsea, em Nova York, mas o bairro de Marais, em Paris, conta inúmeras galerias de arte contemporânea de excelente nível, como as famosas Yvon Lambert, Thaddaeus Ropac, Chantal Crousel, Perrotin e Marian Goodman. Nas primeiras semanas de outubro, a reportagem de seLecT conferiu a programação de espaços comerciais e institucionais na capital francesa, e relata as novidades da cena artística local, com exclusividade, aqui no site da revista.

Not Vital, artista que figura na seLecT03 (a edição que está agora nas bancas!), realiza mostra individual até 15 de outubro na Thaddaeus Ropac, reunindo cinco esculturas de grandes dimensões, além de uma instalação e outras esculturas menores no piso superior da ampla galeria. Suíço que gosta de se estabelecer em lugares incomuns do mundo para trabalhar e realizar suas pesquisas de materiais, Not Vital apresenta nesta exposição o resultado de cinco meses de residência no bairro chinês de Caochangdi, em Pequim.

Neste bairro na periferia, o artista encontrou artesãos de aço inoxidável excepcionalmente habilidosos, que colaboraram na produção das peças: “o aço inoxidável é trabalhado à mão, em vez de moldado. O processo complicado, difícil e demorado é uma parte importante do trabalho, resultando em uma superfície suavemente polida que é altamente reflexiva”, informa Alma Zevi no texto sobre a obra disponibilizado na galeria.

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Archivo General de Indias Sevilla IV (2010), de Candida Höfer (Divulgação/cortesia Yvon Lambert)

Perto dali, uma exposição que mistura fotografias de Candida Höfer com esculturas do jovem Vincent Ganivet, na galeria Yvon Lambert, reserva uma experiência acachapante; a primeira sala não chega a surpreender, com imagens da fotógrafa alemã que retratam arquivos e outros espaços arquitetônicos, sempre enquadrados simetricamente e apresentados sem vestígio da presença humana, e -no centro da sala- conjuntos escultóricos despretensiosos do artista francês, sem grande impacto visual (ou conceitual).

O espírito do lugar e a imponência da arquitetura, que Höfer captura tão bem, dão lugar, na sala seguinte, à presença imponente da escultura de Ganivet, que eclipsa as fotografias ao seu redor: com seis metros de altura, a estrutura de tijolos de concreto é equilibrada fragilmente por fitas de náilon tensionadas em cada um dos cinco pés da forma abobadada que parece prestes a ruir. Uma obra semelhante do artista acabou mesmo em colapso, depois de dez dias exposta na rotunda da Orangery, no Staatliche Kunsthalle Karlsruhe, na Alemanha.

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Escultura de vidro modifica a percepção de obras da série Strip, de Gerhard Richter (foto: divulgação/cortesia Marian Goodman)

Gerhard Richter ocupa a galeria Marian Goodman com suas pinturas de faixas. Não se trata exatamente de pinturas, mas de ampliações digitais derivadas de uma pintura de 1990, intitulada Abstract Painting (724-4), que o artista alemão dividiu na vertical, utilizando um software, primeiro em duas partes, depois em quatro, oito, 16, 32, 64, 128, 256, 512, 1.024, 2.048 e 4.096.

Cada uma das 8.190 tiras verticais resultantes -todas com a mesma altura da tela original- foi rebatida e espelhada até atingir o comprimento da pintura que lhes deu origem; e assim nasceu a série de impressões únicas intitulada Strip (2011), da qual a galeria exibe seis (outras 215 podem ser apreciadas, reproduzidas -a esta altura, quem ainda consegue determinar o que é original e o que é cópia/reprodução etc.?- no livro de 520 páginas a venda na Marian Goodman).

Uma escultura e uma série de pequenas pinturas criadas derramando tinta sobre uma superfície de vidro complementam a exposição. Constituída de seis painéis de vidro paralelos montados em uma estrutura de aço, a escultura Six Standing Glass Panes modifica a visão do espaço e, por conseguinte, das obras e dos (poucos) visitantes. Em uma exposição de pintura que não é propriamente pintura, esta escultura que não é propriamente escultura cabe muito bem, mas não chega a modificar a impressão de que Gerhard Richter ficou cansativo.

Do Marais para Montmartre, onde se esconde, em uma ruela próxima à Place de Clichy, um centro cultural dedicado à fotografia documental, Le Bal. Ali, em cartaz até dia 18 de dezembro, está a exposição coletiva Topographies de la Guerre, que reúne obras dos artistas Paola de Pietri (To Face), Jananne Al-Ani (Shadow Sites II), Jo Ractliffe (As Terras do Fim do Mundo), An-My Lê (29 Palms), Harun Farocki (Serious Games 4), Donovan Wylie (Outposts), Till Roeskens (Aïda, Palestine), Eyal Weizman e Luc Delahaye (The Space of this Room Is Your Interpretation) e -o mais inquietante entre os artistas- Walid Raad (Let’s Be Honest, the Weather Helped), além do vídeo Collateral Murder (“mis en circulation par WikiLeaks”, informa a instituição).

Na Rive Gauche não há tantas opções de galerias de arte contemporânea, mas como estava havendo mostra individual de Henrique Oliveira na galeria Vallois, claaaaaro que fomos até lá. A exposição é um espetáculo. E por dois motivos: 1. mostra que a arte brasileira não deixa nada a desejar em meio ao que há de melhor na arte internacional de hoje, e, 2. comprova que um artista que se torna conhecido com uma linguagem ou um suporte específicos é sempre capaz de se reinventar, mesmo quando não parece haver outro caminho senão a repetição. 

Confira na galeria acima imagens de todas as exposições mencionadas aqui. A visita termina com a mostra Alien Theory, da dupla de artistas portugueses João Maria Gusmão e Pedro Paiva no espaço cultural Le Plateau.