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Postado em 19/11/2011 - 1:00
Entre as fronteiras e ruídos
Nina Gazire

Mostra Ruídos de Fronteiras traz a Belo Horizonte artistas da Europa e América que repensam as fronteiras entre periferia e centro

Pensar as fronteiras em uma era de informação difusa e realidades múltiplas. Esse é apenas um dos princípios que regem a curadoria da mostra Ruídos de Fronteiras, realizada em Belo Horizonte dentro do Festival Eletronika 2011. Proposta pelos artistas Lucas Bambozzi e Rodrigo Minelli, a exposição parte em busca de não só um, mas vários “pontos cardeais” representados pelos trabalhos de artistas da Croácia, México, Alemanha, Estônia, Espanha e Brasil. Mas se engana quem pensa que na época do slogan “aldeia global”, tão exaustivamente repetido como bordão “marketeiro”, estamos todos conectados e livres em uma rede mundial sem hierarquias de poder e discursos.

“Um dos conceitos da curadoria parte do princípio de que o mundo digital, na verdade, não dilui as fronteiras: sejam elas físicas, políticas, geográficas ou de linguagens artísticas. As redes digitais acabam exacerbando as diferenças na medida em que diferentes discursos emergem e entram em conflito. O ruído é o efeito colateral, e aqui aparece nos trabalhos de artistas que tencionam essas desigualdades e essas diferenças de fronteiras”, explica o curador Lucas Bambozzi. 

Exemplo de trabalho que problematiza a questão das fronteiras e seus ruídos é White Series (vídeo acima), do croata Goran Škofić. Em uma série de video-perfomances, o artista realiza movimentos bruscos parecidos com os de uma máquina robótica. Adicionam-se aos movimentos os ruídos e gestos convulsionados semelhantes ao de um mecanismo em pane. “Estamos o tempo todo conectados pelo Facebook, Twitter, Gmail. Às vezes sinto que é como se fôssemos autômatos comandados por essas redes sociais e pela demanda de estarmos sempre conectados”, comenta Škofić.

Já o trabalho Esquemáticos: Desenhos Expandidos e Funcionais, da mexicana Amor Munhoz, mescla a arte têxtil e o craftivismo para fazer uma representação simbólica de desenhos técnicos de design de circuitos eletrônicos. “A arte do bordado é tida como uma arte menor e é relacionada a um afazer doméstico feminino. Eu quero pensar de que maneira isto se relaciona com o mercado, onde milhões de trabalhadoras mexicanas estão nas linhas de montagem americanas ganhando 50 centavos a hora”, declara Munhoz.

A artista ressalta um segundo ponto importante da proposta curatorial, que é repensar a interindependência entre os centros e as periferias. “Talvez as periferias e centros ainda existam do ponto de vista econômico, mas não faz mais sentido pensarmos essa separação do ponto de vista cultural”, ela ressalta. De fato, em uma era de mobilidade onde não só o capital se dilui, mas também a própria criação artística dada cada vez mais em redes desterritorializadas, é preciso se pensar menos em binaridades do que em polaridades movediças. Além da exposição, a mostra Fronteiras de Ruídos conta com uma série de performances e debates com os artistas participantes.

Ruídos de Fronteiras
Belo Horizonte, até 27 de novembro
Palácio das Artes, av. Afonso Pena, nº 1.537
Entrada gratuita

Foto: Amor Munhoz (site).