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Postado em 29/10/2013 - 6:22
Entrevista Xiclet
Marion Strecker

“O espaço não nos diz o que é arte e o que não é, não detém este poder nem assume esse papel, e a experiência é mais rica por causa disso”, diz a proprietária da Casa da Xiclet

Xiclet

Legenda: Xiclet em foto de sua fanpage no Facebook

Entrevista parte da série especial Mercado de arte

Por que e quando você criou seu espaço?

No início do século 21 as estruturas disponíveis para os artistas eram os espaços institucionalizados e totalmente herméticos, ou os poucos espaços independentes como os extintos Espaço Miolo e galeria 10,20 x 3,60, que de certa forma também eram fechados, pois aceitavam apenas artistas do seu próprio grupo ou ateliê. Foi nesse ou por este contexto hermético que em setembro de 2001 surgiu a casa da Xiclet, como um espaço de arte independente e informal onde todos podiam expor, sem seleção, sem curadoria, sem jabá, sem juros, sem-eixo, sem entrada e sem saída (“sem eixo” foi acrescentado recentemente apenas para deixar claro que não fazemos parte do Fora do Eixo). Como escreveu Marilena Chauí em Filosofia da Arte, “todo artista tem direito a dar visibilidade a sua obra”, independente de ser boa ou ruim, até porque o que é bom para um pode ser ruim para outro (assim como jiló).

Qualquer pessoa pode expor na Casa da Xiclet?

Sim, desde que respeite o espaço e siga o regulamento (que serve apenas para a organização da exposição e dá instruções de uso do espaço).

Quais as diferenças entre seu espaço e uma galeria de arte?

A Casa da Xiclet é uma galeria de arte e também uma residência. A presença de uma transforma a outra – a galeria é diferente por causa da casa e a casa é diferente por causa da galeria. Além disso, a partir da consciência desse processo, existe a perspectiva da galeria-casa como obra. A casa trabalha com um amplo espectro tanto quantitativamente quanto qualitativamente. São muitos artistas. Enquanto uma galeria convencional trabalha com quinze ou vinte artistas por ano, a Casa da Xiclet trabalha com quinze ou vinte artistas por mês. Além disso, por não haver seleção de obras, há essa variante qualitativa, onde encontramos tanto trabalhos situados no atual contexto de produção de arte contemporânea, a par de suas discussões, quanto pinturas de ‘praça da República’. Há ali publicitários, fotógrafos, médicos, donas-de-casa, adolescentes, cineastas, coletivos, anônimos, desempregados e todo o tipo de artistas, enfim, há muita gente diferente expondo. Dessa maneira, a Casa da Xiclet não nos diz o que é arte e o que não é, não detém este poder nem assume esse papel, e a experiência é mais rica por causa disso.

Quais as vantagens de expor num espaço independente?

No caso da Casa da Xiclet as vantagens são: 1. Liberdade, pois o próprio artista seleciona a obra que quer expor; e porque não exigimos exclusividade, mas sim fidelidade; 2. Transparência, pois todos os artistas sabem por quanto sua obra será vendida; 3. Acessibilidade, pois todo artista pode expor na casa, desde que respeite o espaço e siga o regulamento. A desvantagem é que todos têm de pagar por essa liberdade, transparência, acessibilidade e demais serviços prestados, como espaço, divulgação, montagem/desmontagem, atendimento, iluminação, vendas e vernissage.

Próxima entrevista: Aloisio Cravo