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Postado em 26/08/2011 - 5:39
Existe mídia após a morte?

Twitter-tevê ou a novela da vida real? Cibele Dorsa, atriz que anunciou seu suicídio no Twitter e Facebook em janeiro, dá o que pensar

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Foto: Agência IstoÉ

Ivana Bentes

Ela ia se jogar pela janela, mas antes escreveu uma carta para a família, enviou um depoimento/denúncia para a revista Caras e deixou uma mensagem de despedida no Twitter, que quintuplicou seus seguidores de “mídia após a morte” e compartilhou toda sua tristeza e incertezas no mural do Facebook.

A “atriz e escritora” Cibele Dorsa, que se suicidou em 26 de março, repetindo o gesto do namorado apresentador de tevê, Gilberto Scarpa, que morreu em janeiro, entendeu direitinho que a mídia de massa, a revista, o jornal, a televisão, por mais visibilidade que tenham, tornaram-se mídias frias, diante da epidemia colaborativa e o gozo em compartilhar tudo, inclusive o que parecia a última das “transações solitárias”: a morte. É que as mídias sociais deram uma turbinada e tanto, verdadeira ressurreição, em vícios que não ousavam dizer seu nome, como acompanhar o “lixo extraordinário” que vemos passar pelo esgoto público das imagens, a tevê.

E o melhor de tudo, as redes sociais acabaram com o crack entre real e virtual, acabaram com a fissura, virtualizando tudo, de tal modo que a forma mais divertida e inteligente de “ver tevê” é navegando pelas redes, tuitando, postando, clicando.

Estava no Twitter quando soube que, na tevê, “Dilma estava na Ana Maria Braga fazendo uma horrível omelete”; “Imagens impressionantes do tsunami no Japão ao vivo”; que “Maria ganhou o BBB” e “Manifestantes tomam a Praça Tahrir em demonstração para Salvar a Revolução. CNN#Egito”.

Ou seja, não preciso mais ver tevê, as notícias navegam até mim e posso acessar a tevê, compartilhar a tevê ou apenas repercutir, analisar, criticar ou gozar a partir do que se diz dela. Mais ainda, explodir a tevê em janelas, estrimando a realidade em milhares de microtransmissões ao vivo. Copresença para além do espetáculo. Acontecimento-tevê.

Eis o desespero do capital, das velhas mídias e do espetáculo: ser tão nômade e fluido quanto a própria vida. Daí as ferramentas do comando e do controle serem as mesmas da colaboração e do cuidado. O Capitalismo Total Flex precisa da criação, subjetividade, inteligência, velocidade, e encontrou um campo incrivelmente fértil nesse “suicídio” vital e contagiante que nos faz seguir afetos por todas as janelas entreabertas.
I love sharing! Venha comigo!

Ivana Bentes é pesquisadora da Escola de Comunicação da UFRJ. Participa das redes Mídia Livre, Cultura Digital e Universidade Nômade. Autora de Avatar: o Futuro do Cinema e A Ecologia das Imagens Digitais (2010), entre outros.