No meio do sanduíche social contemporâneo, nós, internautas, leitores, ativistas, artistas e cidadãos, ficamos à mercê de imagens da sociedade que mais e mais nos aproximam da condição puramente espetacular. Progresso é sinônimo de hackear a rede social.
Entre o íntimo e o anônimo, o secreto vira público: da sociedade líquida à ordem wikilíquida, ícones e máscaras confundem-se em bailes e jogos de linguagem publicitária, científica e jornalística. Onde está de verdade a sociedade?
Como ela é tão espetacularmente transformada e abduzida pela rede, pela voz e pela alma? Todo Facebook será castigado. Na sociedade do controle espetacular de volumes crescentes de informação (meus cliques, meus prontuários eletrônicos, minhas pizzas e fugidas para o Sul de Minas), o “big data” torna-se “big stick”. Fala-se muito da Agência Nacional de Segurança dos EUA e das escutas ilegais da correspondência eletrônica da Petrobras e até da Presidência da República. Na União Europeia, a chapa esquentou com o lançamento aberto de suspeitas quanto às práticas de due dilligence (inspeção de contas) e fiscalização das autoridades financeiras norte-americanas.
O fato é que a economia europeia está em pedaços, os Estados nacionais resistem como podem ao receituário do FMI, que, como sabemos há décadas, produz desnacionalização, concentração do poder econômico e doses cavalares de exclusão social. É o lado B ou negro da Força, pois sem esse sacrifício no altar da ortodoxia financeira as empresas e os governos tornam-se incapazes de continuar vinculados ao circuito internacional de irrigação de dólares (a política kiwi do Fed, uma espécie de wiki financeiro global às avessas).
Enquanto isso, nós, brasileiros, continuamos lavando a alma no Facebook, gerando altas audiências para certas baboseiras no Twitter (#prontofalei) e ganhando campeonatos mundiais de consumo de lixo digital, do Gangnam Style ao número de horas em games.
Algo mais está acontecendo nesse fluxo de informações sobre a própria forma de gerar novas arquiteturas de transformação social, e esse algo é de natureza econômica. É algo econômico novo que se apresenta nas redes sociais e, assim sendo, pode ser apropriado por empreendedores. A informação pode tornar-se capital na sociedade do espetáculo.
Nessa sociedade fluida, associar valor a um ícone é a condição de existência social. Quando apenas redes são capazes de produzir ícones, surge a iconomia. Na iconomia, a empresa que sabe criar e gerenciar redes sociais tem a chave da arca do tesouro do valor. Os Black Blocs jamais serão desmascarados, mas nunca serão capazes de criar riqueza.
*Artigo publicado originalmente na edição #15