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Postado em 29/02/2012 - 5:16
Falso conceitual
Nina Gazire

Grupo ligado ao movimento Occupy Wall Street falsifica site da bienal do museu Whitney de Nova York

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Legenda: Página falsificada da Bienal do Whitney traz declarações e críticas contra os patrocinadores da bienal (reprodução)

Nesta semana tem início um dos eventos mais tradicionais do mundo da arte: a Bienal do Whitney 2012. Com duração de 1 a 27 de março, a Bienal  − organizada pelo Whitney Museum of American Art , de Nova York −  vem se dedicando a mostrar o que há de melhor na produção norte-americana desde 1932, quando tiveram início suas mostras anuais, que em 1973 transformaram-se na tradicional bienal.

Porém, a imprensa especializada acordou chacoalhada no último dia 27 de fevereiro quando descobriu-se que o site whitney2012.org − que aparentemente seguia toda identidade oficial da mostra e dava os detalhes sobre a Bienal − era, nada mais nada menos, do que um site falsificado e criado por artistas ligados ao movimento Occupy Wall Street, que anda insatisfeito com o status quo da arte americana. 

Obter informações sobre um evento de tamanha magnitude é tarefa complicada quando se frequenta uma exposição com trabalhos de mais de cinquenta artistas. Por parte da instituição sempre há, teoricamente, um esforço de antecipar da melhor maneira possível os detalhes do evento e a transparência quanto aos critérios curatoriais definidos na escolha dos artistas. O detalhe que chamou atenção sobre a excessiva sinceridade das informações disponíveis no site que circulava (e ainda se encontra disponível na web) foi o inusitado pedido de desculpas que a Instituição “fazia” em relação ao comportamento de seus patrocinadores, no caso o Deutsche Bank e a casa de leilões Sotheby’s. 

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Legenda: Detalhe da página falsificada da Bienal do Whitney (reprodução)

Sobre o banco alemão, uma declaração disponível na página falsa afirma: “estamos renegando o patrocínio recebido pelo Deutsche Bank, que atualmente está enfrentando inúmeros processos e acusações de fraude por parte investidores dos EUA”. Quanto a Sotheby’s, o rompimento falsamente anunciado se dava pela não renovação de contratos com um grande número de seus funcionários sindicalizados, mesmo diante dos lucros astronômicos atingidos no último ano de 2011. Um segundo statement ocupa a página tratando-se de um pedido de desculpas aos artistas. Na declaração lê-se: “O Whitney tem orgulho de ser capaz de redistribuir os recursos de grandes doadores corporativos e indivíduos super-ricos para artistas merecedores, especialmente dentro de um sistema político e econômico que concentra a riqueza para uma pequena minoria…”

Prontamente o Whitney Museum anunciou que se tratava de uma falsificação de seu site. O site oficial da Bienal do Whitney − cujo endereço é http://whitney.org/Exhibitions/2012Biennial − é realmente muito semelhante ao falso, mas obviamente contém muito mais informações e detalhes sobre a grande mostra e nenhuma declaração polêmica sobre seu envolvimento com patrocinadores escusos aos olhos de outrem.

Além de sofrer esta espécie de golpe conceitual − já se ouviu falar em obras de arte falsificadas ou até mesmo de ataques de hackers a sites de instituições, mas nunca da falsificação de um site de um museu − o grupo de artistas anônimos e envolvido com o OWS ameaça fazer uma invasão na festa de abertura da Bienal. Ouve-se o boato por Nova York de que artistas levariam os funcionários demitidos pela Stoheby’s como convidados para a festa. 

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Legenda: Página original da Bienal de Whitney 2012 (reprodução)

As ações perpetradas contra a Bienal do Whitney fazem parte de um programa maior também ligado ao OWS e criado em outubro de 2011, denominado Occupy Museums. O grupo declarou guerra às grandes instituições de Nova York, incluindo o Whitney Museum, afirmando serem essas “templos do elitismo cultural, controlados por apenas 1%”. Em muito os movimentos de Occupy têm sido ovacionados mundo a fora, mas sobre essa atitude especificamente recai dúvida.

Em seu excelente artigo Why is Occupy Wall Street protesting NYC museums, and not super rich galleries and art fair? (Porque o Movimento Wall Street protesta contra os museus de Nova York, e não as galerias e feiras de arte super-ricas?), a crítica de arte e curadora independente nova-iorquina Karen Archey argumenta que o “Movimento” estaria direcionando suas forças para os alvos errados. “O Occupy Museums sofre de um caso de amnésia histórica! Não se lembram que, em 2009, viu-se o fechamento de vários museus de todo o país”, ela argumenta. “Deveriam estar tentando ocupar as feiras e as galerias, cujos projetos e planos para o mundo da arte possuem verdadeiro impacto na economia artística”, ela continua.

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Legenda: Detalhe da página original da Bienal do Whitney (reprodução)

O Whitney Museum, assim como o Guggenheim, é uma instituição particular, mas que funciona com a lógica de uma instituição pública e que depende de patrocínios e de patronos. Rica ou pobre, qualquer instituição cultural que se preze necessita de financiamento quando se depende de uma economia pública quebrada como está a americana desde a crise das hipotecas de 2008. Além do mais, dificilmente os museus públicos e as grandes instituições exercem alguma influência no mercado de arte da maneira maniqueísta como o OM prega. Elas apenas reproduzem sua lógica e exibem seus eleitos. Infelizmente, os protestos do OM soam mais como choradeira de artistas frustrados do que a fala de pessoas realmente engajadas com o contexto histórico e econômico, tão necessários para se entender como gira a roleta do mundo da arte.