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Postado em 14/05/2012 - 2:48
Feira para que te quero?
Juliana Monachesi

O Brasil tem uma feira de arte do porte dos principais eventos de comércio mundial de obras contemporâneas

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Legenda: Construcción Pictórica #4 (2012), pintura-objeto do português Carlos Bunga exposta pela Galería Elba Benítez, de Madri

Em cinco dias de SP-Arte 2012 – que terminou ontem no pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera – algumas coisas ficaram claras:

1. O mercado brasileiro deixou para trás os tempos de bairrismo e conservadorismo. Hoje, colecionadores brasileiros equacionam arte nacional e arte estrangeira em seus acervos. A presença na feira de São Paulo de galerias como a londrina White Cube, a francesa Yvon Lambert, as espanholas La Caja negra, La Frábica, Elba Benítez e Fernando Pradilla, a alemã Anita Beckers e a japonesa Kaikai Kiki – nas quais o movimento de compradores era tão grande quanto nas galerias brasileiras – atesta a mudança de paradigma das coleções brasileiras. Outro sintoma é o aumento de nomes estrangeiros nos times de artistas das galerias paulistanas, com destaque para a galeria Baró, que acaba de assinar com Norbert Bisky, um dos artistas alemães contemporâneos mais incensados da atualidade.

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Legenda: Pintura de Norbert Bisky exposta no estande da galeria Baró

2. Temos, muito provavelmente, uma bolha financeira em formação. Muito se falava pelos corredores que os preços das obras estão inflacionados – um objeto de Damien Hirst por US$ 1 milhão, uma escultura de Antony  Gormley por R$ 1 milhão, uma pintura de Flávio de Carvalho por R$ 4 milhões, gravuras de Anish Kapoor a R$ 19 mil – e que estaríamos alimentando a criação de uma bolha financeira que poderá estourar a qualquer momento. Sobre a geopolítica da economia, o crítico de arte e consultor de projetos culturais (nas áreas de design, moda, política cultural e economia criativa) Afonso Luz afirma que o excesso de liquidez do mercado de arte projeta uma crise de valor financeiro.

3. É inviável absorver tanto conteúdo em tão curto espaço de tempo. Artistas que a seLecT entrevistou durante a SP-Arte comentavam que preferem visitar uma Bienal, onde é possível ver as obras com calma e voltar alguns dias depois, quando a primeira experiência já se sedimentou. Por outro lado, outros players do sistema ouvidos pela equipe da revista afirmaram que a vantagem de uma feira é conquistar um novo público – que sequer frequenta bienais – para a arte. O colecionador Dario Zito, por exemplo, contou que iniciou sua coleção na primeira edição da feira e que o acervo só cresceu desde então. Já a artista e professora Regina Johas disse que a visita a uma feira de arte nunca lhe possibilitou uma experiência transformadora.

4. Mercado aquecido às vezes é sinônimo de pasteurização da arte. Infelizmente, uma parcela de obras e de artistas demonstrava que a velocidade de produção e de consumo afeta visivelmente a qualidade e a densidade das propostas dos criadores.

5. E, finalmente, também ficou evidente que a cobertura jornalística de um evento de arte em tempo real não funciona como, por exemplo, a transmissão ao vivo com análise simultânea de uma partida de futebol. Mas a seLecT reportou, na semana passada, direto da SP-Arte, tudo o que conseguiu apurar e/ou veicular em suas diversas plataformas: o Flickr, o Vimeo, o Twitter, o Facebook e o Instagram. Nesta semana, aos poucos, vamos publicar aqui no site o que, na correria da feira, não houve tempo hábil para formatar. Acompanhe!