icon-plus
Postado em 01/07/2013 - 9:16
Geografia afetiva
Luciana Pareja Norbiato

Artista é o primeiro colocado da edição 2013 do BES Photo, principal prêmio da fotografia em Portugal

Pedro Motta_ A Natureza Das Coisas

Legenda: Imagem da série inédita Natureza das Coisas, na qual o artista intervém diretamente com lápis

O mineiro Pedro Motta é de certa forma, como ele mesmo declara, um escultor frustrado. Nas suas fotografias, em que faz intervenções ora diretamente no papel, ora com materiais alheios e sobrepostos, ele busca criar uma geografia afetiva que coloca em tensão as esferas da natureza e da ocupação humana. 

Foi graças a essa poética que Motta ganhou em primeiro lugar o prêmio BES Photo, do Banco Espírito Santo, concedido a artistas portugueses e, desde 2011, também a artistas de países de língua oficial portuguesa. Depois de ficar entre quatro finalistas, o artista criou a obra inédita Natureza das Coisas, comissariada pelo prêmio e com a qual tornou-se o escolhido pelo júri formado por Geoff Dyer (Londres), Luc Sante (NY) e Rosa Olivares (Madri).

A série agraciada é composta por imagens de árvores em encostas e pequenos morros como os deixados por escavações de mineração, por exemplo. Sobre elas, Motta intervêm com lápis branco, criando raízes portentosas e longas para troncos muitas vezes mirrados, como numa espécie de insurgência da vegetação contra a atividade humana que ceifa e domina o relevo.

Além do belo resultado plástico, as imagens contêm sua dose de mistério: até onde o que se vê é de fato natural ou produto da mão do artista? No jogo de recriar os elementos geológicos e vegetais, Pedro Motta parece querer devolver à terra sua potência original desfazendo o gesto que desconstroi, que danifica.

Tal efeito é sutilmente distinto daquele obtido em outra de suas séries também em cartaz, Testemunho, em que o visual de erosão do solo explorado por máquinas é (ou não?) inserido pelo fotógrafo no relevo. Nesse caso, a cicatriz de terra cravada em meio ao gramado da encosta tem o efeito de enfatizar a exploração desmedida do solo.

Se antes Motta pautava seu trabalho pela ação documental, hoje diz preferir usar a fotografia como matéria final de um processo preconcebido.  A terra de verdade que recobre suas árvores em foto na série Espaço Confinado, como no assoreamento da chuva nos morros, confere coerência interna à proposta e sua execução, o faz de sua premiação mais que justa. 

BES Photo 2013
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima, 201 (Entrada pela Rua Coropés, 88) – Pinheiros, São Paulo
11.2245-1900
Terça a domingo, das 11h às 20h – entrada franca
Até 11 de agosto

Galeria Silvia Cintra + box 4
Rua das Acácias, 104 – Gávea, Rio de Janeiro
21.2521-0426
De segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Sábado, das 12h às 19h
Até 10 de agosto