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Postado em 12/12/2011 - 1:58
Jandig #CulturaDigitalBR
Mariel Zasso

Conheça o Jandig, projeto que mistura realidade aumentada, software livre e arte 

Jandig

Jandig em ação. O nome é uma apócope de “janelas digitais” (Foto: Mariel Zasso)

Mais uma das experiências selecionadas para exibição no Festival CulturaDigital.Br, que aconteceu de 2 a 4 de dezembro de 2011, no Rio de Janeiro, o Jandig é um projeto que nasceu em São Paulo, no seio da Casa de Cultura Digital. Ideia do memeLab, acabou transbordando no ambiente propício da Casa, que funciona como um cluster criativo, e hoje é uma parceria do laboratório de tecnologias interativas com o Garoa Hacker Clube, “laboratório comunitário para entusiastas da tecnologia”.

Foi no Festival que o Jandig saiu do papel – ou da tela? – e tomou a rua. Pela primeira vez, as pessoas puderam experimentar e brincar com o projeto. As técnicas e conceitos envolvidos na realização foram expostos nos 15 minutos da Mostra de Experiências. Mas a seLeCt foi procurar o idealizador do projeto, e fundador do memeLab, VJ pixel –  que se define como “um fuçador de tecnologias livres” e faz questão de deixar claro que seu nome se escreve assim mesmo, em minúsculas – para entender porque o Jandig não é “apenas mais um projeto de realidade aumentada”.

O que faz com que seu projeto de realidade aumentada não seja só mais um?

O projeto Jandig como um todo implica um processo artístico que inclui o desenvolvimento de um software, a organização de um acervo de obras digitais e a criação/produção dos marcadores que espalhamos como exposições itinerantes. Mas além disso, toda essa ação se completa ou se concretiza no momento em que alguma pessoa pega seu celular ou tablet com Android (e Jandig!) e aponta para um marcador. É aí que uma janela digital se abre na realidade e o sujeito pode ver uma obra digital, que pode ser uma imagem simples ou um 3D. Além disso, o projeto é pautado por princípios de colaboração e co-autoria. Cada obra no Jandig é uma composição formada pelo diálogo entre um marcador e um arquivo digital, criados separadamente por artistas independentes. As obras, portanto, são um produto colaborativo.

De onde surgiu a ideia de trazer a arte pra dentro desse universo? Qual é a sua ligação com a arte?

Com o passar do tempo aprendi a utilizar e desenvolver tecnologias livres, absorver o pensamento hacker e promover a apropriação de formas de criação, remix e difusão de conteúdo – especialmente imagens em movimento – para fazer com que sistemas, sejam técnicos ou humanos, funcionem melhor. E tem também o poder transformador da arte. As realizações artísticas nos atingem diretamente na emoção, e acabam promovendo um engajamento político e poético sincero. Esses são os princípios que norteiam minhas pesquisas, que me conduzem por caminhos que buscam a união entre inovação tecnológica e criação artística. No momento, estou investigando as potencialidades da realidade aumentada e naturalmente veio a ideia de fazer isso pelo viés artístico.

Vj-pixel

VJ pixel, idealizador do projeto, atua como VJ desde 2002 e pequisa o desenvolvimento de interfaces digitais interativas em seu memeLab (Foto: Miguel Peixe)

E como sua trajetória artística e profissional veio culminar no que você apresenta hoje, no que você é hoje?

Comecei a fuçar tecnologias livres em 1999 e fiz minha primeira performance como VJ em 2002. No ano seguinte organizei um evento, que envolveu um workshop, onde todos os DJs e VJs utilizaram softwares livres. Isso me rendeu um convite para atuar na estruturação da Ação Cultura Digital, do Ministério da Cultura, focando no compartilhamento de conhecimento sobre produção multimídia. Durante o tempo que trabalhei no governo, não parei minhas pesquisas sobre tecnologias multimídia livres nem deixei de me apresentar como VJ. Com o que aprendi nesse período, acabei construindo a oportunidade de investir em projetos que acredito, ao mesmo tempo tendo liberdade de criar e experimentar. Tive a sorte de encontrar mais gente que pensa de forma semelhante na Casa de Cultura Digital, onde estou sediado hoje.

E o Garoa Hacker Clube, entra como nesta história?

O Garoa é um espaço aberto e colaborativo que proporciona a infraestrutura e liberdade para que pessoas como eu, entusiastas do uso de tecnologia, realizem projetos e experimentos criativos. Naquele porão é possível dar vazão ao espírito curioso nerd e encontrar gente disposta a trabalhar junto e contribuir para a materialização de ideias e projetos. Foi assim que “angariei” colaboradores dispostos a trabalhar voluntariamente na aplicação do Jandig.

E como outros artistas podem colaborar com o Jandig?

Os artistas podem acessar o site do Jandig e nos enviar suas criações digitais para que sejam integradas ao acervo do projeto. É muito simples, as pessoas podem fazer o upload e envio pelo site mesmo – e lá também estão todas as regras do jogo, que são poucas.

E eu, que não sou artista, posso imprimir os adesivos na minha casa e espalhar pela cidade?

Não pode não, deve! Você e qualquer outra pessoa que se interessar pelo projeto. Essa também é uma maneira de participar ativamente, porque o Jandig pode fazer mudanças em qualquer paisagem. Essa dinâmica viral é parte central do projeto. O engajamento e a ação do público são elementos fundamentais no composto artístico da nossa ideia.

Quais são os demais projetos do memeLab?

Na área de audiovisual e interatividade, temos o Surfluz, uma instalação interativa que permite que o público faça desenhos utilizando LEDs infravermelhos sobre uma tela; o Video Pong, que é uma versão do clássico videogame Pong, na qual os usuários podem controlar as barras com movimentos da mão com realidade aumentada. Além disso, trabalhamos com o desenvolvimento de instalações, criação de websites e tecnologia de transmissão de vídeo ao vivo via internet.

Saiba mais:

Acesse o site do Jandig 

Conheça os demais projetos do memeLab

* Imagem do destaque: objeto Urbano, do artista Wilson Urbano, que é exibida ao apontar o celular com Jandig para este marcador, arte de Andressa Vianna. Experimente!