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Postado em 20/03/2012 - 9:08
Jovens, em suas próprias palavras
Juliana Monachesi

Confira os melhores momentos das entrevistas com André Feliciano, Felipe Bittencourt, Flávia Junqueira, Rafael Carneiro e Sofia Borges

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Legenda:Os cinco artistas em fotografia de Bob Wolfenson

No processo de apuração da reportagem Retrato do Artista Quando (Muito) Jovem, os cinco artistas retratados foram entrevistados pessoalmente e também responderam, por escrito, a uma entrevista comum, que reproduzimos aqui no site para que os leitores conheçam melhor o que pensam os prodígios André Feliciano, Felipe Bittencourt, Flávia Junqueira, Rafael Carneiro e Sofia Borges.

Quando e como você se deu conta de que a arte era uma vocação?

Felipe Bittencourt – Não sei se vocação seria um termo que me mobilizaria a pensar nesta questão. Porém penso que sempre há motivos pessoais, íntimos e não revelados em qualquer arte produzida. Me recordo de perdas familiares, amorosas e outras catástrofes que me levaram a realizar o primeiro projeto que considero, de fato, um trabalho de arte válido e potente.

Jardineiro André – A arte surgiu na minha infância como uma dúvida: eu tinha uma memória muito forte de estar brincando em um galinheiro em um sítio que visitava nas férias em Minas Gerais, mas não sabia se essa memória provinha de uma experiência ou uma fotografia. Passei muitos anos com essa dúvida que, de certa forma, nutriu minha vontade de querer entender mais sobre a natureza da fotografia. Entretanto, isso não despertou minha “vocação” para arte. Com o passar do tempo, fui acumulando mais e mais experiências fotográficas, até que em certo momento, no colegial, me encontrava em uma situação difícil de imobilidade. Por algum motivo misterioso, me tornei uma fotografia: não tinha ação própria, não conseguia me comunicar e vivia em um lugar plano. No final do segundo colegial comecei a fotografar, a pensar sobre a arte e a fotografar, elaborei meu primeiro manifesto sobre a próxima arte que chamei de Neo-Pós-Pós (que de certa forma é o início do meu cultivo da Arte Florescentista), criava e costurava minhas roupas, elaborava algo intensamente. A arte me possibilitou conseguir sair do mundo estático e fotográfico em que eu havia me metido; ela não surgiu como uma vocação, mas como o único modo de comunicação que encontrei para continuar vivendo.

Flávia Junqueira – Não sei se consigo responder esta pergunta usando a palavra vocação, mas creio que me dei conta que a Arte (como um todo) me interessava muito antes de entrar na faculdade. Eu me interessava por filosofia, literatura, artes a outras matérias, isso sem necessariamente apresentar habilidades técnicas incríveis para arte, aliás acho que isso não é necessário para ser um bom artista. Durante o colegial fiz cursos de artes plásticas e música, tentando encontrar o que eu realmente gostava e fazia bem. Ainda assim, cursei três anos de direito e filosofia antes de optar finalmente pela faculdade de artes.

Rafael Carneiro – Eu gostava de desenhar desde criança, tinha uma coleção de livros de pintura, foi um caminho natural.

Sofia Borges – Eu sempre soube que trabalharia em alguma área ligada à criação. Durante o colegial cheguei a resolver que seria escritora. Mas quando, morando em São Paulo havia uns dois meses, eu visitei uma exposição de arte contemporânea, me dei conta de que havia uma área do conhecimento na qual eu poderia exercer aquele tipo de prática. Ao me dar conta disso decidi cursar artes plásticas.

Por que optou por fazer uma faculdade de artes plásticas?

Felipe Bittencourt – Era uma necessidade vital que eu trabalhasse com a área de criação. Já havia feito teatro, música e dança. Todas me encantaram, mas nunca me completaram. Resolvi prestar o curso de artes, não fui aprovado na prova de aptidão de duas escolas públicas, apesar de ter sido na particular que cursei. Acasos. Sorte que tive um curso do qual não me arrependo de nenhuma etapa do processo.

Jardineiro André – No ambiente intenso de criação em que me encontrava no final do colegial eu não conhecia outra possibilidade a não ser cursar uma faculdade de artes plásticas. Como todo bom aluno de artes, perdi um pouco a noção de realidade durante o curso e, particularmente, me aprofundei nas questões sobre a natureza da fotografia; incorporei mais algumas características da imagem fotográfica e me tornei mais estático e incapaz de me comunicar; me tornei o próprio contemporâneo. Durante a faculdade estive preso ao contemporâneo e só consegui sair do buraco com ajuda do meu querido orientador Felipe Chaimovich, que me ensinou a ler e escrever textos de modo claro e estruturado, para enfim conseguir me comunicar.

Flávia Junqueira – A decisão em optar pela faculdade de artes plásticas não foi fácil. Cresci em um ambiente familiar que sempre me deu liberdade de escolha, porém, por estar imersa em um contexto de valores mais tradicionais, me sentia pressionada a escolher profissões que proporcionassem aparentemente maiores garantias no mercado de trabalho. Como já mencionei, cursei direito e filosofia antes de assumir que o que eu realmente desejava era estudar artes. Precisei passar por esse processo para perceber que eu precisava de um meio mais eficaz para apresentar meu olhar sobre o mundo, algo que as artes plásticas me proporcionavam.

Rafael Carneiro – Eu não sabia exatamente do que se tratava arte contemporânea no momento em que fui fazer a faculdade. Mas esse curso na USP era claramente o que trataria dessas questões.

Os conflitos pós-11 de Setembro marcaram sua trajetória de alguma maneira? Como?

Felipe Bittencourt – Pesquiso relações de dor física e compartilhamento disto com o público. Assunto que considero delicado em uma situação de fragilidade social e com a possibilidade de ser mal compreendido, de não ser visto como uma comunicação expressiva e, sim, um certo ataque. Meu trabalho, entretanto, veio à tona em uma época posterior em que não convivia mais com estes riscos.

Jardineiro André – Os conflitos de 11 de Setembro não me influenciaram diretamente.

Flávia Junqueira – Diretamente, não, mas eu acho que é um fato importante para se dar conta de como a informação chega a nós. Se comparado com uma geração ligeiramente anterior à minha, houve um grande contraste na velocidade com que os meios de comunicação tem abarcado a vida das pessoas.

Quais outros fatos históricos (de ordem política ou social) foram marcantes em sua formação?

Felipe Bittencourt – Recepção da arte. Sempre recepção. Toda e qualquer ação artística, por assim dizer, que eu apresentava em uma instituição gerava uma multiplicação de opiniões e ações. Coisa essa que eu, ingênuo, só conhecia por alguns documentários e relatos em livros e publicações. Os anos 1970, 1980, o ativismo vienense, as indagações sobre o que provocava tanta reverência em relação a Oiticica e Clark na boca da classe, compreender a causa, Abramovic e suas palestras, ser assistente de Abramovic por um mês, a constante crítica de que minha produção não renderia dinheiro, o benefício disto quando resolvi produzir somente pela arte e não pelos seus fins financeiros.

Jardineiro André – Puxa, talvez o aquecimento global.

Flávia Junqueira – Acredito que a eleição de Lula para presidente do Brasil no ano de 2002 foi um dos fatos mais marcantes para minha formação, isso porque, na minha opinião o país pôde presenciar historicamente um momento de conclusão na trajetória de uma figura que representou um valor político vindo de uma persistência simbólica para uma parcela muito grande do povo. Independente do que ele fez ou deixou de fazer como presidente, presenciar este momento, para mim, foi presenciar a construção e conclusão de um mito.

Rafael Carneiro – Acredito não ter o distanciamento necessário para perceber o processo histórico de maneira realmente crítica.

Sofia Borges – Acho que a construção da história do ponto de vista político e social é um processo contínuo, dinâmico e complexo. Não vejo como a tentativa de destacar alguns fatos (mais ou menos explorados pela mídia) conseguiria definir, para mim, a forma como esses processos me influenciam.

A internet, para você, é uma ferramenta de pesquisa, trabalho e contato social separada da vida cotidiana ou um contexto da vida como outro qualquer?

Felipe Bittencourt – Qualquer pesquisa, trabalho e contato social, é impossível de ser dissociada da vida cotidiana.

Jardineiro André – A internet funciona para pesquisar os acontecimentos da arte, como salões, exposições, prêmios etc. Faz parte do dia a dia profissional de alguém que trabalha no campo das artes. Ajuda também em alguns contatos sociais.

Flávia Junqueira – Para mim, a internet é uma ferramente de pesquisa totalmente atrelada ao trabalho, contato social e à vida cotidiana. Na minha opinião, a internet se tornou um contexto como outro qualquer na vida das pessoas, além de ser um instrumento de comunicação e informação talvez mais importante que a televisão e o próprio telefone. É praticamente impossível trabalhar e viver sem essa ferramenta.

Rafael Carneiro – É um contexto como outro qualquer na minha vida, tanto para pesquisa como para os contatos.

Sofia Borges – A internet é um contexto da minha vida cotidiana, ainda que um bastante significativo.

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Legenda:Rafael Carneiro, André Feliciano, Flávia Junqueira, Felipe Bittencourt e Sofia Borges fotografados por Bob Wolfenson

Como a Bienal de São Paulo afetou sua formação? Pode indicar outras exposições ou experiências de igual ou maior importância?

Felipe Bittencourt – Trabalhar na mostra como educador e ter um olhar mais preciso para observar trabalhos de arte fez surgir uma pergunta: Quando minha mãe me levava para ver a Bienal na minha infância, aquilo parecia monumental; a Bienal está menor… ou eu que cresci? Hoje sei que cresci. E foi de suma relevância ver uma grande mostra coletiva para compreender a comunicação global que uma exposição tem a potência de realizar. Não somente falando, agora, em termos globais, penso neste coletivo também presente nos Panoramas da Arte Brasileira no MAM. Também quero afirmar que minhas decepções com exposição foram, sem dúvida, fatores importantes. Mostras em algumas galerias, por exemplo, salões de que não compreendo a seleção ou a premiação. Alguns exemplos.

Jardineiro André – Quando se é aluno de artes plásticas, a Bienal é sinônimo de boa arte que se produz na atualidade; mas com o passar do tempo seu sentido de vanguarda se enfraquece e ela se torna mais um lugar de pesquisa. As boas exposições de arte deixam de ser as grandes exposições de arte e passam a ser aquelas que possuem obras realmente impressionantes. Por exemplo, a sala de neblina do Olafur Eliasson recentemente exposta no Sesc Pompéia me impressionou e nutriu meu entendimento sobre arte. Ou as fotos de Michel Wessely que vi em uma SP-Arte. É uma obra ou outra, e não uma exposição inteira que me afeta.

Flávia Junqueira – Viver em uma cidade como São Paulo é um privilegio pela quantidade de exposições que acontecem em instituições e galerias, tendo a oportunidade de conhecer muito bem o que se produz no Brasil. Por outro lado, a exposição da Bienal é uma ponte entre São Paulo e o restante do mundo, pois ela nos coloca em contato direto com o que está em evidência na arte contemporânea. Freqüentar a Bienal desde muito jovem, ainda que sem saber qual o tamanho de sua influencia, possibilitou esse contato e me despertou interesse pela arte. Pontualmente outras instituições conseguem fazer o papel da Bienal em proporções menores, por exemplo, o Panorama da Arte Brasileira do Adriano Pedrosa, a mostra de Louise Borgeois no Tomie Ohtake, a exposição de Olafur Eliasson no Festival Videobrasil, para citar as mais recentes.

Rafael Carneiro – A minha formação como artista se deu sobretudo através de livros, seja de literatura ou de reproduções de obras.

Sofia Borges – Por ser de Ribeirão Preto e ter morado lá até os 18 anos, as vezes em que visitei a Bienal (antes de decidir cursar Artes Plásticas) foram sempre em caráter excursional, com o colégio. Ainda assim, me lembro de ter sido impactada por várias obras. De todas as bienais que visitei nesse contexto, me marcou especialmente a 24ª, em especial a obra Desvio Para o Vermelho, do Cildo Meireles, que ficou gravada na minha memória.

Como você vê a sua geração (vamos considerar a turma de artistas com quem você se formou), que inquietações você diria que compartilham?

Felipe Bittencourt – Pensando em idade, vejo que existo uma geração ativa e que de fato se preocupa e pensa arte. Cada vez menos vejo “qualquer coisa” sendo feita no circuito de novos artistas. Já minha turma de formação foi um núcleo que se esforçou para conseguir um TCC e depois foram para outros rumos. Inclusive não os vejo mais. Um ou dois, talvez.

Jardineiro André – Aos poucos percebo que as questões de arte dessa geração deixam de ter qualidades contemporâneas (preocupações com o mundo do entorno e atual, vontade de inventar uma nova linguagem para quebrar algum paradigma, entender o presente etc.) para começarem a ter uma qualidade de tempo (arte como educação, arte como cultura cotidiana, arte como experiência de vida e tipos de arte que só têm sentido com o passar do tempo).

Flávia Junqueira – Na minha geração, vejo uma emergência de inserção no mercado e na instituição, além de uma necessidade de busca de qualificação, seja em uma pós-graduação ou em cursos informais, residências, grupos de estudos ou orientação de projetos. Não sei ao certo se é compartilhado pela totalidade dos artistas da minha geração, porém noto que muitos jovens artistas propõem para sua pesquisa plástica uma única questão particular e não conseguem sair dela e explorar caminhos mais inseguros, próprios de um processo ainda em amadurecimento: algo que deveria ser curioso e trazer conteúdos ao trabalho passa a ser redutor e limitador. Não sei quais são as inquietações que compartilhamos como artistas, o que noto é que cada artista apresenta sua “questão” muito particular com conexões bem distantes.

Rafael Carneiro – Não enxergo algo que oriente as práticas numa mesma direção.

Sofia Borges – Acho que tentar definir inquietações compartilhadas por “gerações” de artistas (do ponto de vista do ano em que se formaram ou ainda da faculdade que cursaram) é algo fadado ao desastre. Também não acredito que o recorte temporal seja uma forma eficiente para se definir afinidades ou características em um grupo de artistas.

E a geração imediatamente anterior à sua (a geração da Lia Chaia, André Komatsu, Marcelo Cidade, por exemplo), qual sua opinião sobre ela? São gerações marcadamente diversas ou vê mais pontos em comum?

Felipe Bittencourt – Não sei se posso afirmar isto de forma muito precisa, mas penso nesta leva como um passo que fomentou novas discussões sobre corpo e recepção e criou um cenário que hoje abriga muitas manifestações e performances. Acho que mais que uma manifestação com assuntos em comum – artísticos, sociais e políticos – são artistas que consolidaram uma trajetória e poética pessoal mais do que uma situação de época em si. Uma recolocação de mercado surgiu, instigou produtivamente novos artistas. Hoje vivemos em um boom de galerias. Coisa que vejo como muito positiva, mas espero que nossa geração não comece a fazer uma arte pervertida, somente de fundo comercial ou interesse mercadológico. Acho que não estamos fazendo isso.

Jardineiro André – Acho que não há uma diferença clara entre essas gerações; os novos trabalhos do Marcelo Cidade, Lia Chaia, André Komatsu ainda poderiam integrar salões de arte jovem (a diferença é que são artistas mais maduros com uma prática mais profissional).

Flávia Junqueira – Noto mais pontos em comum do que divergências, porém não tenho tempo e distanciamento suficientes para dar uma resposta concreta. A minha opinião sobre essa geração é que muito dos problemas e realizações que falamos aqui em outras perguntas são compartilhados também pela geração anterior.

Rafael Carneiro – Não sei ao certo qual seria a geração realmente anterior à minha. Acho que há uma ansiedade em querer discernir diferentes gerações em um curto espaço de tempo. Provavelmente o que muitos consideram uma geração anterior à minha eu considero como artistas da minha geração também.

Sofia Borges – Para definir como um grupo compartilha das mesmas influências ou dos mesmos universos de reflexão, é preciso levar em conta um série de outras questões, por isso não me interesso muito por iniciativas que tentam segmentar um conjunto de artistas simplesmente por serem de uma mesma “geração”, ou por compartilharem uma mesma linguagem artística. Uma forma possível para criar segmentos em arte é considerar o conteúdo ou tipo de reflexão que um conjunto de trabalhos ou de artistas propõem, mas mesmo assim é difícil eu encontrar, no contexto da arte contemporânea recente, recortes que considere significativos ou elucidativos. Acho que existe uma ansiedade nisso tudo.

Como foi a sua entrada no circuito das artes visuais?

Felipe Bittencourt – Bem torta. Sou carioca e quase sempre morei em São Paulo. Para minha surpresa, fui convidado para participar de uma primeira mostra coletiva em minha cidade natal. Meu trabalho foi extremamente desrespeitado, assim como o de muitos outros, por um edital enganoso e um espaço precário que não atendeu a nenhuma exigência dos artistas. Fiquei decepcionado. Não produzi por um tempo até levar um pé na bunda um ou dois anos depois. Minha primeira performance de limite físico surge aí (clichê, mas foi assim). Fui convidado para expor em Belém, Espírito Santo, Goiânia e, somente então, comecei a me inserir em espaços de arte independentes em São Paulo. Depois de perambular por alguns destes, comecei a ser convidado para espaços institucionais e festivais internacionais, ainda que aqui na capital.

Jardineiro André – Acredito que ela se deu de fato com a exposição Ecológica, no MAM-SP. Depois dessa exposição as pessoas dizem que entenderam mais o que eu tento falar há muitos anos. Entretanto, meu trabalho é um longo cultivo; a poética do meu trabalho não está pronta, não há um livro que indique conceitualmente o que significam as flores que fotografam ou que indique teoricamente o que pode vir a ser a Arte Florescentista. Sei que meu trabalho e minhas ideias precisam de tempo, e que alguns curadores ainda não encontram sentido naquilo que faço, assim como encontram sentido em um trabalho que, por exemplo, reorganiza os objetos do cotidiano. Em 201, fiz duas exposições em Nova York, uma na Bonni Benrubi Gallery e outra em um prêmio internacional de jovens artistas no Brooklyn. De qualquer forma, cultivo constantemente tanto aqui quanto no exterior para um dia aquilo que chamo de “Arte Florescentista” possa brotar com vivacidade.

Flávia Junqueira – Comecei a trabalhar profissionalmente há mais ou menos 2 anos, antes de terminar a faculdade, em 2009. A maior dificuldade que encontrei foi entrar no mercado muito jovem, pois, apesar de ser uma grande alegria para quem está começando ver interesse no trabalho, também tive que aprender a dividir o tempo entre dar continuidade em meu processo criativo e administrar tarefas que estavam além do que simplesmente produzir. Isso é muito difícil pois estou em um processo inicial de construção e descoberta do trabalho, e eu percebo que muitos jovens artistas também acabam tendo essa dificuldade, que é pouca experiência aliada à demanda comercial, o que pode comprometer a produção.

Rafael Carneiro – No final de 2006 participei da exposição de formatura da ECA no CCSP. Nesta ocasião, o artista Paulo Climachauska ao visitar a exposição se interessou por minhas obras. Após trocarmos trabalhos, ele me indicou para a Galeria Artur Fidalgo no Rio de Janeiro. Paralelamente, comecei a enviar meus trabalhos para salões. Em 2009 eu entrei na Galeria Luciana Brito, em São Paulo.

Sofia Borges – Mesmo já tendo participado anteriormente de salões e exposições coletivas, acho que a minha entrada no circuito das artes em São Paulo se deu quando, ainda cursando a faculdade, fiz minha primeira individual, em 2008, no Centro Universitário Maria Antônia. Coincidentemente, foi durante a abertura desta exposição que fui convidada para entrar na Galeria Virgílio.

Quais as suas expectativas em relação à carreira de artista no mundo atual? Você faz planos de longo prazo ou trabalha no presente e ponto?

Felipe Bittencourt – A longo prazo penso que não quero (e não vou conseguir) parar de produzir. Trabalho sim com o pé mais fincado no hoje, até pela natureza de minha produção, de trabalhos de caráter efêmero. Tenho planos maiores olhando para meus trabalhos. Quero me manter fiel ao que penso e quero que minhas performances sejam, pelo menos, verdadeiras para mim. Quero que certas verdades cresçam, percam cada vez mais certa timidez de serem expostas e que se consolidem como uma arte melhor ao longo do percurso que ainda desconheço. Então, como expectativa de carreira, me contenta o reconhecimento que meus trabalhos recebem e me articulo com esta recepção conforme ela vai se apresentando. No longo prazo, mas construída com um olhar preciso e atento aos dias atuais.

Jardineiro André – Planejo cultivar, cultivar, cultivar sem parar. E espero durante minha vida conseguir tornar a Arte Florescentista autônoma, para que continue viva no futuro sem minha presença.

Flávia Junqueira – Apesar de muitos sintomas que a nossa geração apresenta, e eu me incluo nessa posição, noto positivamente que vivo um momento promissor dentro da área. Sei que precisamos ter o cuidado de direcionar o trabalho para que ele não caia numa sugestão apenas voltada a nós mesmos ou ao mercado, mas de modo geral noto expectativas muito boas e também possibilidades interessantes de dar continuidade à produção no longo prazo.

Rafael Carneiro – Eu trabalho para desenvolver a minha pesquisa da melhor maneira possível. Minha expectativa de longo e curto prazo é produzir trabalhos que me interessam.

Sofia Borges – Sinceramente, acho que a forma mais eficiente de um artista se preocupar com sua carreira é pela qualidade e relevância de sua produção. Por isso procuro me comprometer com o andamento da minha pesquisa, a longo e a curto prazo, a fim de criar trabalhos que sejam significativos para mim dentro do universo de coisas por que me interesso no campo da arte.