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Postado em 04/04/2013 - 5:15
Linguagem como matéria
Nina Gazire

O questionamento histórico da linguagem pela arte conceitual é ponte para pesquisa sobre arte latinoamericana na curadoria de Tomás Toledo para a SP-Arte

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Legenda: O bordo da noite, Antonio Dias, 1970. Foto: Nina Gazire

Em 1965, Joseph Kosuth, com seu antológico trabalho Uma e três cadeiras, abriu espaço para a desconstrução da ideia formalista de arte. Como matéria para criação o artista usou a teoria das formas de Platão e o giro linguístico de Wittgenstein para questionar as relações morfológicas entre a prática artística e seus produtos. A obra era constituída por uma cadeira física, uma fotografia dessa cadeira e o texto com verbete da palavra cadeira retirado de um dicionário da palavra “cadeira”. “Esse primeiro momento onde a apropriação da linguagem como matéria de criação se deu de maneira ensimesmada, sintética e autorreferencial”, explica o curador da mostra O enunciado em questão, Tomás Toledo, responsável por um dos quatro projetos curatoriais pertencentes ao Laboratório Curatorial da edição de 2013 da SP-Arte.

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Legenda: Ipso Facto, Lawrence Weiner. Foto: Nina Gazire

Na mostra, o curador reúne trabalhos que estão em diálogo com sua pesquisa sobre a linguagem mostrando as diferentes apropriações que a prática teve, tendo como destaque, a arte conceitual latino-americana produzida sob os anos de chumbo da ditadura que teve lugar em vários países do continente. Se Kosuth, bem como outros artistas norte-americanos e europeus, estiveram, a princípio, preocupados com as arbitrariedades das relações entre discurso e imagem, os artistas latinos fizeram uso da estratégia de maneira mais explícita e usando como arquivo o cotidiano midiático, mais preocupadas em mostrar as desigualdades de poder discursivo na própria sociedade. Nesse contexto, aparecem as obras de expoentes brasileiros, como Antonio Dias, Anna Bella Geiger, Antonio Manuel Anna Maria Maiolino, cujas produções apresentadas datam da década de 1970.  

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Legenda: Bartolomeu Mitre 332, Damián Ortega, 2009

O grande trunfo da curadoria é fazer a ponte entre este passado, sua origem _ representado pela obra Ten Unnumbered corrections (7 nights), de Joseph Kosuth, de 1991, onde o artista apresenta suas anotações feita a mão sobre uma conferência de Jorge Luis Borges e na intervenção Ipso Facto de Lawrence Weiner_ e a produção contemporânea que faz um uso de maneira menos enviesada, como é o caso da obra Domingo, de Rivane Neuenschwander, vídeo onde um papagaio come sementes com pontuações estampadas enquanto um jogo de futebol é narrado ao fundo. Em diálogo estão as obras do argentino Jorge Machi, Speaker’s Corner, onde as aspas dadas em jornais tem seu conteúdo retirado e obra do mexicano Damián Ortega, Bartolomeu Mitre 332, onde o artista transforma o grafismo de pichações em esculturas. 

Participam também mostra Sandra Gamarra (Espanha), Jac Leirner (Brasil), Rosângela Rennó (Brasil), Iran do Espírito Santo (Brasil), Lawrence Weirner (EUA), Mateo López (Colombia), Mira Schendel (Brasil).

Serviço:

O enunciado em questão 4 a 7 de abril
Curadoria Tomás Toledo
Laboratório Curatorial
SP-Arte – Fundação Bienal, Pq. Ibirapuera, São Paulo