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Postado em 16/03/2013 - 2:03
Livro de cabeceira
Paula Alzugaray

Lacunas críticas em relação à obra de Nelson Leirner inspiram os textos do novo livro sobre seu trabalho recente

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Legenda: “A própria arte de Nelson Leirner parece se apoiar num tempo sem tempo”, escreve Schwarcz (Imagens: divulgação)

Em entrevista concedida em 2012 para a revista IstoÉ, Nelson Leirner passou à repórter a lista dos seus cinco livros de cabeceira, relativos aos grandes temas que têm ocupado sua cabeça durante suas noites e dias. Nenhum deles se referia ao tempo. Mas o texto que a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz escreve no recém-lançado Nelson Leirner – A Arte do Avesso surge como que para sanar essa lacuna da mesa de cabeceira do artista. Com imagens da grande panorâmica na Galeria do Sesi, em 2011, o livro tem também textos de Agnaldo Farias e Piero Leirner.

O texto de Lilia Moritz Schwarcz evoca o tempo descrito por Italo Calvino, por Thomas Mann e pelo antropólogo Pritchard Evans para discorrer sobre como o tempo se comporta na obra do artista. Descobre-se, então, uma obra regida por um tempo não controlado, não civilizado, portanto, irracional, que funciona contra o relógio do modelo ocidental de civilização. “A própria arte de Nelson Leirner parece se apoiar num tempo sem tempo, num tempo da paródia, da burla e do humor, que brinca com nossa temporalidade, com nossa história: essa ideologia que nos constrói e nos dá sentido”, escreve Schwarcz.

Agnaldo Farias, que vem sendo o grande interlocutor de Nelson Leirner nos últimos anos (foi o curador da panorâmica Nelson Leirner 2011 – 1961 = 50 anos, e um ano antes da Ocupação Nelson Leirner no Itaú Cultural) é o autor do texto Abrindo o Jogo, que justamente abre o livro. É surpreendente que, após tantas incursões ao corpo da obra de Leirner, Farias ainda encontre um ponto de vista inédito sobre esse trabalho que, afinal, acaba por se mostrar caleidoscópico.

Farias também encontrou lacunas a preencher. O autor localiza duas obras recentes “do mais alto nível” que nunca ganharam atenção crítica à altura “de sua sofisticação”, mas que tiveram, segundo ele, reação vaga por parte da mídia ou, no máximo, um “julgamento descuidado”. São elas a sala especial da Bienal de São Paulo de 2002 e a instalação Hobby (2011). Assim, em um texto crítico lúcido, de um detalhismo amoroso, Farias passa em revista essa extensa produção – da Rex Gallery, dos outdoors confiscados, do amor aos objetos, das excursões ao Saara, às estratégias do jogador. Para, enfim, chegar ao Hobby, considerado por ele “a súmula de sua obra” e “sua definição do que seja arte”.

O fato é que Nelson Leirner merece essa interlocução e cada décimo de segundo de tempo que autores do calibre de Agnaldo Farias e Lilia Moritz Schwarcz dedicam à sua obra.

Saiba mais:

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Nelson Leirner – A Arte do Avesso

Autores: Lilia Moritz Schwarcz, Piero Leirner e Agnaldo Farias

Ed. Andrea Jakobsson Estúdio
230 págs, 2300 imagens
R$ 95

*Publicado originalmente na edição impressa #10.