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Postado em 27/05/2014 - 5:43
Lugares em aberto
da Redação*

As manifestações de rua evidenciam que a demanda por espaço público é também uma demanda pelo direito ao desfrute da cidade. A convite de seLecT arquitetos propõem espaços desse perfil para cidades brasileiras

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Cápsulas Sonoras | Anna Dietzsch (DBD–Arc)

Nosso lugar de livre expressão é aquele onde qualquer um pode falar, até mesmo sem precisar ser ouvido. Um lugar onde a palavra se concretiza pela própria força ou pelo prazer de sua concretização. Onde a cidade se expressa no coletivo polifônico de milhares de falas. Com ou sem público. Um lugar que, como a cidade, irradia ensinamentos e experiências.

Escolhemos o Largo da Batata porque ele, para nós, simboliza o vazio. A cidade arrasada a despeito de tantos gritos contra a destruição. Nesse deserto plantamos um grid de cápsulas sonoras. Cúpulas que conseguem ampliar a voz ao mesmo tempo que delimitam um campo de escuta, já que fora de cada cortina acústica não se ouve o som amplificado. A soma de suas falas e escutas é que compõe a cidade.

Cada cúpula é também uma ilha de conexão à internet que permite o envio para um site e projeção em um painel eletrônico colocado em uma das empenas cegas que dão para o Largo.

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Praças portáteis | BijaRi

Imagine levar, na sua bicicleta, bancos e sombra para o espaço público. Praças portáteis. Vamos lá: imagine uma bicicleta-praça. Imagine uma bicicleta com um banco de praça e guarda-sol acoplado. Onde quer que ela pare, nasce uma praça portátil, nasce um lugar de estar, um banco para conversar, uma unidade mínima de encontro na cidade.

O lugar escolhido está longe de ser um local de encontro: Largo da Batata. Já foi vivo em gente e cultura, mas hoje está deserto. Depois das obras do metrô, restaram poucas barracas de camelôs, alguns forrós e um ou outro comércio popular. A gentrificação anda a passos largos. Não há nenhuma sombra, nem nos pontos de ônibus, que agora são de vidro.

Aqui é lugar de intensa passagem, mas não de parada. Pessoas atravessam no sol e na chuva até o seu destino. Não precisamos esperar as praças serem construídas, imaginamos uma praça-portátil e a criamos. Nossas praças são nômades. Fazemos o encontro onde antes era impossível. Ocupado, vivo, agora o Largo da Batata é a Praça da Batata.

* Colaboraram: Anna Dietzsch, Pedro Pereira, Julieta Fialho, Vinicius Gaio, Gustavo Massimino, Julio Cecchini, Clarissa Morgenroth e Giselle Martins

** Publicado originalmente na edição #17