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Postado em 17/04/2012 - 2:18
Mais importante do que a Copa e as Olimpíadas
Ronaldo Lemos

Sem que a Rio+20 seja levada a sério, não temos futuro

Rio20

O principal evento do Brasil nos próximos anos não é a Copa nem as Olimpíadas, mas a Rio+20, a conferência global sobre o clima. Sem os primeiros o mundo vai “tale e quale”. E sem que a Rio+20 seja levada a sério, não temos futuro.

Falar de fim do mundo em 2012 é pop. Sobram imagens de prédios desabando, monumentos indo ao chão, inundações e explosões. Mas o “fim do mundo” é muito menos dramático. Ele é lento e sofrido e afeta primeiro quem não tem dinheiro. Chegamos a 7 bilhões de pessoas. E com isso a constatação (compartilhada até pela China!) de que o mundo simplesmente não tem recursos para expandir o modo de vida ocidental para todos os seus habitantes.

Como disse Hermano Vianna no seu seminal texto O Direito de Querer Menos, se todo mundo quiser viver no padrão ocidental, viajando de avião, comendo carne, checando e-mails e sonhando com ao menos um carro na garagem, os recursos globais já eram. Não é um modelo viável. A questão é saber o que fazer com o fim da ilusão de que todo o planeta pode virar “Ocidente”.

O alarme não vem só dos economistas, mas de gente como Peter Thiel, o megainvestidor que primeiro apostou no Facebook. Ele está desencantado justamente com o que fez dele um milionário: a inovação. Diz que o único setor que ainda apresenta algum tipo de invenção relevante é a Tecnologia da Informação. Os demais estão estagnados. Não há sinais de outra revolução verde no horizonte. Nem de que a nossa matriz energética vai mudar. Até a corrida espacial já foi para o espaço. Estamos presos ao único planeta que temos. Com isso, a solução é repensar o que significa desenvolvimento.

Como diz Eduardo Viveiros de Castro: “Desenvolvimento para quê? Para a obesidade?” Mais do que ninguém, o Brasil precisa enfrentar essa questão. É só olhar a nossa lista de exportações: soja, minério de ferro, petróleo. Em síntese, dependência brutal da China. A Rio+20 é o momento de o País ajudar o mundo a pensar como quer se desenvolver. Podemos mostrar que é possível, democraticamente, superar os vícios do século 20, dentre eles o petróleo. Dar um salto tanto tecnológico quanto de modos de vida. Ambos igualmente essenciais para o futuro do planeta.

Ronaldo Lemos é professor visitante da Universidade de Princeton (EUA) e diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV, RJ. Foi curador do Tim Festival.

*Publicado originalmente na edição impressa #5.