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Postado em 15/05/2014 - 7:14
Mapeamento poético
Guilherme Kujawski

Intervenção no Anhangabaú apresenta um mapa do tráfego de pessoas durante a décima edição da Virada Cultural

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Legenda: Imagem de fundo para o infográfico das três ações da intervenção (cortesia: Lab.E)

No próximo sábado, 17 de Maio, tem início um dos eventos urbanos mais queridos da cidade de São Paulo: a Virada Cultural. A programação é massiva e, portanto, faz-se necessário usar o recurso da seletividade. Há de tudo, para todos os gostos. Música, gastronomia, arte…

Um projeto de arte e tecnologia caiu na rede da seLecT. O grupo Lab.E (LabExperimental) é o idealizador e realizador de Mapa de Público, uma intervenção que envolve tecnologias de visualização de dados para o registro do fluxo de público. O conceito lembra um conto de Jorge Luis Borges, no qual o escritor argentino associa os passos que uma pessoa executa na vida com um mapa complexo, ou um labirinto. Remete também aos mapas de tráfego diário de pedestres pela região metropolitana, elaborados pelo escritório Cauduro Martino para o Metrô de São Paulo no final da década de 1960.

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Legenda: Mapeamento do tráfego de pessoas por dia na região metropolitana, um dos levantamentos que compõem a publicação Metrô de São Paulo, 1968-69 (imagem extraída do livro Design Total – Cauduro Martino, de Celso Longo, editora Cosac Naify)

Para participar, basta preencher um simples formulário e fazer o check-in, ou por meio de um aplicativo para celulares (que pode ser baixado gratuitamente nas lojas virtuais dos sistemas Android e iOS) ou nos tablets de diversos monitores espalhados em pontos estratégicos. A partir desse momento, os pontos do trajeto de cada inscrito viram uma referência geográfica, passando a ser “monitorados” e projetados ao vivo em telões de LED instalados no Vale do Anhangabaú. Com uma certa dose de pareidolia, espera-se a transformação de simples caminhadas em desenhos complexos.

O projeto nos lembra que, pelo simples fato de carregarmos dispositivos móveis, já estamos sendo monitorados. Para o bem ou para o mal, essa é a era do eu quantificado. No crowd map do Lab.E, porém, o sujeito é o sujeito da intervenção, mais do que um indivíduo social. E a mensuração não é rígida, pois o sujeito pode (e é incentivado) a se perder, mas o perder-se, no caso, é diluir-se na imprecisão de dados, já que os participantes podem fornecer dados pessoais não verdadeiros, porque o objetivo é puramente artístico, e não comercial.