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Postado em 11/06/2012 - 6:10
Máquinas urbanas
da redação seLecT

Nova edição de Intervenções Urbanas (Editora Senac) e o aguardado registro de Arte/Cidade Zona Leste (Dardo) têm lançamento e debate com Regina Silveira, José Resende, Fernanda Barbara, José Spaniol e o curador Nelson Brissac

Artecidade

Foram quatro edições de Arte/Cidade desde 1994. O projeto começou pela ocupação de um matadouro desativado, que hoje abriga a Cinemateca Brasileira, na Vila Clementino. Para um espaço delimitado, as intervenções estabeleceram um embate com o peso e a opacidade da edificação. A segunda edição aconteceu no centro da cidade, em três edifícios e em seu entorno, cortado pelo Viaduto do Chá. A mudança de contexto do projeto propiciou percursos a pé e a descoberta de outras visualizações daquele espaço. Predominaram obras voltadas para o olhar e a utilização de aparatos óticos, que chamavam a atenção, sobretudo, para a necessidade de revitalização das áreas centrais. 

O terceiro projeto foi desenvolvido ao longo de um ramal ferroviário, de 5 km, na região oeste. “O projeto coincide com a privatização das companhias ferroviárias, quando ocorria o sucateamento dos equipamentos e a perda da memória coletiva relacionada ao trem. Em jogo, a questão da conservação do patrimônio industrial e o destino das áreas urbanas lindeiras. Uma situação que, dada sua extensão, problematizava a observação visual direta, exigindo modos de deslocamento e percepção de caráter metropolitano”, resume Brissac em Máquinas Urbanas. As três primeiras edições do Arte/Cidade já haviam sido documentadas no livro Intervenções Urbanas, que a Editora Senac enfim reedita.

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Faltava o acesso do público ao livro Intervenções Urbanas, obra que sistematiza uma metodologia e um repertório único sobre o trabalho desenvolvido por Brissac com artistas, arquitetos, urbanistas, críticos e poderes públicos e privados. Faltava, acima de tudo, o registro e a reflexão resultantes da quarta etapa do projeto, que ocorreu em 2002 na região Leste da cidade. 

“Em vez de uma configuração ordenada pelo traçado do trem, tem-se agora intervenções espalhadas por uma vasta região, profundamente desarticulada pela implantação de diferentes infraestruturas de transporte e por processos de reestruturação urbana de caráter global. Uma complexidade que acarreta o colapso da experiência individual e dos procedimentos convencionais de percepção e mapeamento. Este projeto é apresentado nesse livro”, diz Brissac em Arte/Cidade Zona Leste – Máquinas Urbanas

Publicado pela editora Dardo, Arte/Cidade Zona Leste – Máquinas Urbanas, de autoria de Brissac, o idealizador do Arte/Cidade, e Intervenções Urbanas (Editora Senac), têm lançamento nesta quarta-feira, dia 13, às 20h, no Instituto Tomie Ohtake (rua dos Coropés, 88). Na ocasião, acontece um debate entre Regina Silveira, José Resende, José Spaniol, Fernanda Barbara e Nelson Brissac.

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Legenda: Esboço de José Wagner Garcia para intervenção no entroncamento da Marginal com a avenida Salin Farah Maluf

Prefácio de Arte/Cidade Zona Leste – Máquinas Urbanas, por Nelson Brissac Peixoto

Em 2002, Arte/Cidade foi realizado na Zona Leste de São Paulo, num perímetro de cerca de 10 km2, compreendendo os bairros do Brás, Pari e Belenzinho. Palco da imigração e da primeira industrialização da cidade, a região atravessou longo período de desinvestimento, além da implantação de vastos sistemas de transporte. Recentemente surgiram ali enclaves corporativos e condomínios habitacionais modernizados. A área foi alvo de grandes projetos internacionais de desenvolvimento urbano, nos moldes daqueles que reconfiguraram as metrópoles mundiais.

Nos vastos intervalos abandonados da Zona Leste, porém, proliferam favelas, comércio de rua, atividades de reciclagem e outros modos informais de ocupação do espaço urbano. É onde diversos grupos sociais desenvolvem novos dispositivos de sobrevivência na metrópole. Agenciamentos constituídos pela associação de materiais, ferramentas, processos construtivos e modos operacionais provenientes de diferentes contextos técnicos e sociais. Articulações maquínicas de instrumentos e práticas sociais.

As populações afetadas por esses processos dinâmicos desenvolvem equipamentos para habitar e operar na cidade global. Artefatos, veículos, barracas de vendas, arquiteturas de moradia precária: uma parafernália para deslocamento e assentamento, um ferramental de sobrevivência em situações urbanas críticas. Traquitanas compostas com os mais diversos materiais e técnicas, desmontáveis, transportáveis. Instrumentos para enfrentar cercas e regulamentos, para ocupar terrenos vazios ou intensamente trafegados, para suprir necessidades de estadia e circulação.

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Legenda: Desenhos preparatórios de Regina Silveira para intervenção na torre do Belenzinho

Os artistas e arquitetos participantes de Arte/ Cidade – Zona Leste desenvolveram propostas de intervenção para diferentes situações da região. Projetos que indicam procedimentos alternativos diante da reestruturação global da cidade, baseados na ativação dos espaços intersticiais e na diversificação do uso da infra-estrutura. Propostas que, em certa medida, retomam os procedimentos engendrados pelas populações itinerantes que ocupam esses vazios urbanos. São operações que visam detectar o surgimento de novas condições urbanas, identificar suas linhas de força e instrumentalizar seus agentes. Intervenções que se contrapõem à apropriação institucional e corporativa do espaço urbano e da arte.

Arte/Cidade busca desenvolver um novo repertório –estético, técnico e institucional– para práticas artísticas e urbanísticas. No momento em que se processa a inserção do Brasil no sistema econômico e cultural globalizado, o projeto pretende discutir os processos urbanos e os dispositivos da produção de arte. Trata-se de, no cenário vigente da administração das cidades e da cultura, dominado por operações corporativas e institucionais de grande poder econômico e político, criar novos modos de intervenção em megacidades.

Lançamento de Arte/Cidade Zona Leste – Máquinas Urbanas (Dardo) e Intervenções Urbanas (Editora Senac)
Debate: Regina Silveira, José Resende, José Spaniol, Fernanda Barbara e Nelson Brissac
Quarta-feira, dia 13, às 20h, no Instituto Tomie Ohtake (rua dos Coropés, 88. São Paulo – SP)

Mais sobre o projeto Arte/Cidade: www.artecidade.org.br