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Onça Caetana [Foto: Denise Andrade]
Postado em 20/07/2022 - 4:42
Maracatu, literatura e arte celebram 50 anos do Movimento Armorial
Com idealização de Regina Godoy, mostra, no CCBB São Paulo, faz retrospectiva de peso do movimento artístico pernambucano

“Sou apenas uma mulher que teve uma ideia.” Essa é a resposta da idealizadora da mostra Movimento Armorial 50 Anos, Regina Rosa de Godoy, à pergunta sobre sua conexão com Pernambuco. Com 30 anos de atuação na gestão e produção cultural, a coordenadora geral da exposição afirma que a grande comunidade nordestina de São Paulo é um público-alvo muito aguardado no CCBB, no centro da cidade. “Ariano Suassuna é uma figura reconhecida pela população”, explica, referindo-se ao sucesso na TV de histórias do escritor paraibano radicado no Recife. “Nas duas versões que já realizamos da mostra, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, foi muito gratificante ver como a colônia nordestina se reconhece no Movimento Armorial, que estabelece conexões profundas entre as festas e tradições populares do Nordeste e a cultura erudita”, conta em entrevista à seLecT

Filha de mãe baiana e pai paranaense, que se conheceram em São Paulo, onde Regina Godoy nasceu, a produtora defende que o percurso da exposição pelas unidades do CCBB se assemelha aos caminhos que os nordestinos fizeram nos fluxos migratórios: “O movimento estético criado por Suassuna possibilita a identificação dos brasileiros com a sua cultura. Como mulher negra, nordestina e feminista, valorizo muito esse pertencimento cultural e social que a arte propicia”, completa.

Pois partiu dela a ideia de celebrar os 50 anos do início do Movimento Armorial pelo intelectual aficionado pelas expressões populares nordestinas. Regina conta que entrou em contato com Dantas Suassuna, o filho de Ariano Suassuna (1927-2014), algum tempo depois de assistir a um show do Rosa Armorial em Curitiba. “Aquela mistura de sons da rabeca e o violino, da percussão com os sintetizadores me encantou e fui pesquisar sobre o grupo”, relata. Da experiência sonora ao convite à curadora Denise Mattar, com quem colabora há 20 anos em diferentes projetos, para conceber com ela a exposição, e a concretização dessa mostra exuberante que abre hoje, 20/7, ao público paulistano, foi simples. Simples, claro, para esta “mulher que teve uma ideia”: Regina Godoy é uma grande inspiração.

IMERSÃO ARMORIAL
Com curadoria de Denise Mattar, a mostra é organizada em cinco núcleos, ocupando todos os andares do rebuscado edifício do CCBB, localizado no centro de São Paulo. Em cada um deles, Mattar define uma expografia específica, de maneira que a diversidade, as tradições e as mais representativas raízes da cultura popular nordestina, tal qual idealizado por Ariano Suassuna, estejam em evidência. “As obras não foram escolhidas por mim. Faziam parte da coleção da figura tão importante que aqui homenageamos. Quero que as pessoas saiam dessa exposição com orgulho de suas origens”, afirma a curadora em coletiva de imprensa.

Ao entrar no centro cultural, o visitante é recebido por uma Onça Caetana, elemento cenográfico inspirado nos desenhos de Suassuna e anfitrião da exposição. O núcleo Ariano Suassuna, Vida e Obra, no Quarto Andar, é uma alternativa para iniciar a imersão ao universo da arte Armorial. Além do alfabeto sertanejo, criado com base na pesquisa Ferros do Cariri, manuscritos e capas das obras literárias, uma completa e inédita cronologia ilustrada do autor ocupa a parede da sala. “A coisa mais preciosa que temos aqui é a cronologia, totalmente atualizada, traçando a trajetória de Ariano ao passar por sua formação sertaneja, a morte de seu pai e muito mais. Antes desta mostra, não tínhamos essas informações disponíveis”, conta Mattar.

O Terceiro Andar é dedicado aos figurinos criados pelo artista plástico pernambucano Francisco Brennand (1927-2019) para o filme A Compadecida (1969), primeiro longa-metragem dirigido por George Jonas e baseado na peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Além de 12 desenhos, estão também trajes dos cinco principais personagens da história: a indumentária original da Compadecida e figurinos do Palhaço, Diabo, João Grilo e Emanoel, reproduções feitas especialmente para a exposição. 

A verdadeira imersão no Movimento Armorial acontece no Segundo Andar, onde são introduzidos seus dois momentos: Fase Experimental (1970-1974), com obras de Aluísio Braga, Fernando Lopes da Paz, Miguel dos Santos, Fernando Barbosa e Lourdes Magalhães. E a Segunda Fase (1975 – 2000), que reúne quinze iluminogravuras de Ariano Suassuna, litogravuras, cerâmicas e tapeçarias de sua esposa Zélia Suassuna, pinturas de Romero de Andrade Lima, de Manuel Dantas Suassuna, e espetáculos do Grupo de Dança Grial. Neste andar, é possível conhecer Ariano como artista plástico: três grandes iluminogravuras sem título do escritor tomam as paredes do CCBB.  

Armorial – Hoje e Sempre, núcleo localizado no primeiro andar, reúne produções de cinema e TV, realizadas a partir das peças teatrais de Suassuna, como Farsa da Boa Preguiça, A Pedra do Reino, O Auto da Compadecida, e o espetáculo Lunário Perpétuo de Antônio Nóbrega. Já, no subsolo, Armorial – Referências, abriga o universo dos cordéis: xilogravuras de J.Borges, Mestre Noza e Mestre Dila, entre outros, e também a Cidade de Cordel, criada especialmente para a exposição por Pablo Borges, filho de J.Borges. Há, também, referências a folguedos populares, como o Maracatu, o Reisado e o Cavalo-Marinho, reunindo máscaras, trajes, fotos, vídeos, estandartes e adereços. Vale a visita!

SERVIÇO
Movimento Armorial: 50 Anos
Curadoria de Denise Mattar
De 20/7 a 26/9
Entrada gratuita