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Postado em 19/10/2013 - 2:09
Menos é mais
Paula Alzugaray, de Londres


Amanda Sharp, diretora da Frieze London, confirma que máxima de Mies van der Rohe ainda vigora

Decision Making (abertura)
Legenda: Momento de decisão em compra, na Frieze London

A meio caminho entre os Estados Unidos, o Oriente Médio, a Ásia e a Rússia, onde vivem hoje os colecionadores mais abastados e visados, Londres é considerada o locus perfeito para uma feira de arte. Criada em 2003 pelos publishers da revista inglesa Frieze, Amanda Sharp e Matthew Slotover, a Frieze London contribuiu decisivamente para que Londres tenha se tornado, em dez anos, ponto nevrálgico de encontros de curadores, críticos, artistas e diretores de museus e instituições de todo o mundo. 

Com essa condição estratégica, a Frieze é hoje um dos maiores objetos de desejo de um galerista. “Mas não abre mão do lema ‘qualidade, qualidade, qualidade’”, afirma Amanda Sharp à seLecT. Assim, este ano a feira reduziu o número de participantes de 175 para 150. 

Nessa seleção acurada, que conta com a expertise de curadores internacionais de competência e renome como os brasileiros Adriano Pedrosa e Rodrigo Moura, há espaço não só para grandes “grifes” e “transatlânticos” como Gagosian, Houser & Wirth Pace e White Cube – com galerias em Londres, São Paulo e Shangai –, mas para aquelas que apenas despontam na cena internacional como a jovem galeria londrina Carlos/Ishikawa, a berlinense Sandy Brown e a paulistana Jaqueline Martins. Pela primeira vez em Londres, a galeria Jaqueline Martins trouxe a reedição de uma instalação histórica do brasileiro Genilson Soares. “Uma Prancha Encostada na Parede”foi realizada originalmente em 1973 na 12ª Bienal de São Paulo.

Genilson

Legenda: Obra de Genilson Soares, no stand da galeria Jaqueline Martins

Museus à venda

Se o cream de la cream da arte mundial está na Frieze, exclusivo mesmo é estar entre as 120 selecionadas para a segunda edição da Frieze Masters, dedicada à produção artística anterior ao ano 2000. “A Masters é incrível, é uma sucessão de pequenos museus à venda”, compara Jaqueline Martins. De fato, se São Paulo e Rio entram em convulsão cada vez que um Picasso é trazido para uma feira pela Gagosian, nos corredores da Frieze Masters há algumas dezenas de Picassos, outras de Matisses e jóias raras de alto calibre. Sem dúvida, os 50 artistas mais incensados da história da arte estão lá: de Turner a Richter, passando por Malevitch e Monet.

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Legenda: Galeria Dickinson expõe mestres impressionistas e “correspondentes”de Vik Muniz

Curiosa é a operação da Dickinson, galeria especializada em antigos mestres, impressionismo e arte contemporânea, baseada no solene West End londrino. Para vender seus Monets e Constables, a galeria colocou as obras dos mestres ao lado de suas “correspondentes”, produzidas pelo brasileiro Vik Muniz. Se Constable está à venda por 2.500.000 libras esterlinas e Monet por 7.500.000, Vik Muniz é “not for sale”.

 Mas um dos pontos mais altos da Frieze Masters é o encontro inesperado entre Andy Warhol e Man Ray que se produz no stand da galeria noivaiorquina Cheim & Read. É do galerista John Cheim o crédito das relações insuspeitas criadas entre fotografias de nus, tiradas por Man Ray nos anos 1930 e 1940 em Paris, e desenhos de observação de Andy Warhol.

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Legenda: Obras impressionistas da Galeria Dickinson são cotadas em milhares de libras, mas Vik Muniz é “not for sale”

O melhor lugar do mundo é aqui

“Esta é a melhor feira do mundo, em oferta, visitação, logística e infra-estrutura para os expositores”, diz Luciana Brito, que participa pelo segundo ano consecutivo do segmento Spotlight, uma curadoria de Adriano Pedrosa que reúne clássicos da história da arte contemporânea. Este ano, ela mostra obras produzidas nos anos 1970 pela artista argentina Liliana Porter. 

Em um recorte de 23 galerias, estão nos corredores da Spotlight desenhos, fotografias e objetos de Gordon Matta-Clark (Thomas Solomon Gallery, de Los Angeles), objetos cinéticos de Julio Le Parc (galeria Nara Roesler) e uma instalação de Anna Oppermann (Galerie Barbara Thumm, Berlim).

Le Parc

Legenda: Obra de Julio Le Parc no stand da galeria Nara Roesler

Se a produção artística brasileira está em grande evidência na cidade retrospectiva de Mira Schendell na Tate Modern, Anna Maria Maiolino também ganhou seus minutos de fama em um lindíssimo recorte de seu trabalho em papel, desenhos e gravuras, no stand da galeria Milan, no Spotlight da Masters. 

Além da produção conceitual dos anos 1970, a Africa também ganhou atenção de Pedrosa, que selecionou uma instalação de Georges Adéagbo, arista de Benin (galeria Fritelli), e uma coleção de obras do artista baiano Rubem Valentim, sem dúvida um mestre brasileiro, cuja poética se situa em um cruzamento peculiar entre o construtivismo e a simbologia do candomblé.

Valentim
Legenda: Rubem Valentim está na seleção do curador Adriano Pedrosa na Frieze London

Valentim é representado pela galeria paulista Berenice Arvani, estreante em Londres, assim como a Dan Galeria. “Mesmo que Valemtim tenha sido mostrado na Inglaterra na exposição Afro Modern, na Tate Liverpool, em 2010, é um desafio de introduzi-lo aqui”, diz Berenice Arvani à seLecT.