icon-plus
Still do vídeo Drive In (2019) de João Loureiro (Foto: Divulgação)
Postado em 11/10/2019 - 12:06
Motos, adesivos, circulação
Trabalhos de João Loureiro comentam as coisas do mundo em simulações esquemáticas, com humor e acidez
Leandro Muniz

Peixe-Elétrico-Moto-Clube é a primeira exposição de João Loureiro na Sé Galeria, instalada em um prédio do século 19 no Centro de São Paulo, em meio a estabelecimentos comerciais que funcionam como pontos de partida para o projeto. No estacionamento, logo abaixo da galeria, um projetor foi adaptado ao farol de uma motocicleta, no trabalho intitulado Drive In (2019), que apresenta animações sobre as paredes do espaço quando vazio, ou sobre outros veículos quando em atividade. Em algumas ocasiões, a “moto-cinema” foi levada para circular pelas ruas, projetando narrativas sobre a cidade.

Entre as ações descritas nos vídeos, uma pessoa que acende um cigarro deixa-o queimar até o fim e solta a fumaça; uma fatia de presunto que desliza pelo espaço como uma minhoca; uma corrente de linguiças circula sobre três churrasqueiras. Situações banais, de um tom tragicômico que a simplificação das imagens reitera. A trilha sonora segue o mesmo esquematismo: são sons onomatopeicos de uma organicidade mecânica.

Dentro da galeria, outra moto, invertida sobre um suporte de metal, evoca um modelo de projetor antigo. A imagem apresentada, desta vez, é uma marmita redonda girando continuamente, assim como as rodas do veículo. A imagem sugere outros signos usados anteriormente na produção do artista, como buracos, por exemplo, abrindo possibilidades de leitura para imagens codificadas. O uso do looping na edição reforça a repetitividade das ações e objetos descritos nos vídeos, especialmente a ideia de circulação – ou sua impossibilidade. O movimento cíclico desses trabalhos, no entanto, é pontuado por um ritmo regular, sem o frenesi das ruas, a que aludem.

Um adesivo de um boneco Michelin é fixado apenas pelos cantos superiores, assumindo a flacidez do adesivo e da figura, em um procedimento que enfatiza a materialidade de imagens produzidas para consumo rápido. O modo icônico como os objetos são representados e dispostos na produção de Loureiro faz pensar em uma encenação. O trabalho comenta as coisas do mundo por meio de simulações esquemáticas. Entre articular uma circularidade de sentidos entre imagens, seus usos sociais e elementos formais, e o leve atrito com o contexto, cada um desses trabalhos reitera e põe em xeque o estatuto de seus referentes, sem julgamento ou elogio.

Serviço
Peixe-Elétrico- Moto-Clube, individual de João Loureiro, encerrada, Sé Galeria, Rua Roberto Simonsen, 108, segaleria.com.br