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Postado em 28/08/2014 - 6:34
Muito além do clichê
Giselle Beiguelman, de Nova York

Guggenheim-NY adquire 50 obras de arte da América Latina. Exposição vem ao Brasil em 2015

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Legenda: Mapa-múndi/BR (2007), de Rivane Neuenschwander, mostra lugares no Brasil que têm nomes de cidades estrangeiras (foto: Kristopher McKay/cortesia Guggenheim Foundation)

Sob o Mesmo Sol: Arte da América Latina Hoje, exposição em cartaz no Museu Guggenheim de Nova York, é parte de um megaprojeto de aquisições e pesquisa. Com curadoria e coordenação-geral do agitador cultural mexicano Pablo León de La Barra, a exposição, em cartaz até 1º de outubro, é resultado de dois anos de trabalho. Dividida em núcleos temáticos, como tropicologia e conceitualismo, apresenta 40 artistas e duplas, contemplando 15 países – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Peru, Porto Rico (EUA), Uruguai e Venezuela – e cerca de 50 obras. Todos os trabalhos em exposição foram adquiridos pelo museu, abrindo sua coleção para a arte contemporânea não europeia e não norte-americana, sob a rubrica de América Latina.

Território difuso, que, grosso modo, é tudo aquilo que fica abaixo do Texas mais o México, América Latina é um complexo geopolítico e cultural que se repõe há décadas. No meio desse angu conceitual, o Brasil sempre foi um problema para defensores e contestadores da ideia de latinidade. Teve outro processo colonial, outra economia, escravidão africana, dimensões continentais, fala português… Entre os artistas participantes, seis são do Brasil: Adriano Costa, Erika Verzutti, Jonathas de Andrade, Paulo Bruscky, Rivane Neuenschwander e Carla Zaccarigni (argentina, mas radicada por aqui). O perfil do grupo de brasileiros repete-se na exposição como um todo: uma combinação entre artistas emergentes, como Adriano e Jonathas, com artistas em meio de carreira, como Rivane, e consolidados, como Paulo Bruscky (que comparece em obra feita em dupla com Daniel Santiago).

Para o curador Pablo León de La Barra, no entanto, a noção de América Latina tornou-se muito mais interessante hoje. “América Latina, como definição geral, é um clichê”, diz. “Trabalhamos aqui com um campo expandido, procurando reconhecer e dar visualidade mais às diferenças do que às unidades”, afirma De La Barra.

Isso não quer dizer que não existam pontos comuns nas abordagens. As questões raciais, indígenas e a tropicologia são algumas delas. A questão tropical, diz o curador, “não é só brasileira, mas está também muito presente em outros países, como Cuba, Peru e Venezuela. Acho que essa é uma ideia que conecta vários aspectos da exposição como um todo”.

*Review publicado originalmente na edição #19