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Postado em 07/06/2012 - 10:47
Na cadência do morro
Paula Alzugaray

O artista carioca Raul Mourão projeta um memorial da paz para o Complexo do Alemão

Memorialdapaz

Legenda: Projeto Memorial da Paz inclui esculturas cinéticas (Imagem: divulgação)

Raul Mourão nasceu no Rio há 44 anos e há pelo menis dez desenvolve um trabalho artístico em intensa sintonia e diálogo com o espírito das ruas de sua cidade. A estética dos botecos, as quadras de futebol de praia, os ambulantes e as grades de segurança – marcos identitários das grandes cidades brasileiras – são seus objetos de trabalho. Mesmo com essa intimidade toda, o artista nunca havia realizado trabalhos em comunidades.

Mas, desde que os morros vêm sendo ocupados pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), ele já integrou dois projetos. “Isso tem a ver com as mudanças que estão acontecendo no Rio, que está se reintegrando e perdendo sua condição de cidade partida”, diz Mourão. Em 2011, ele instalou duas esculturas cinéticas monumentais na exposição Travessias – Arte Contemporânea na Maré, coordenada pela ONG Observatório de Favelas, e atualmente está trabalhando com a Secretaria de Segurança do Estado do Rio na concepção de um memorial da paz no Complexo do Alemão.

“Inicialmente, o secretário (José Mariano) Beltrame me encomendou um marco escultórico como um memorial da paz. Após visitas ao local, fotos, vídeos, sobrevoos e entrevistas com moradores, percebi que uma simples intervenção artística não causaria impacto e daí surgiu a ideia de um parque no topo da Serra da Misericórdia”, conta o artista. Criação conjunta entre Raul Mourão e o escritório de arquitetura RUA, de Pedro Rivera e Pedro Évora, o parque terá uma área verde e espaços de lazer, esporte, cultura e educação ambiental, além de dois mirantes voltados para o maciço da Tijuca e para a Baía de Guanabara. O acesso será pelo teleférico do Alemão, que entrou em funcionamento em dezembro do ano passado.

O projeto inclui a instalação de esculturas em chapa de aço, desdobramentos das das obras Balanço Maré, expostas na Favela da Maré, em 2011. A interação desses objetos com os moradores do Alemão é garantida, afinal eles são manipuláveis e irresistíveis. Desafio é do governo do estado em sintonizar o projeto sociocultural do parque com os interesses da população, correspondendo às suas reais necessidades. Coisa que o Centro Cultural Bela Maré, onde foi realizado o Travessias, iniciou bem no Complexo da Maré, desprezando as “representações centradas no paradigma da carência, precariedade e criminalização”, segundo definiu Jailson de Souza e Silva, coordenador do Observatório de Favelas.

*Publicado originalmente na edição impressa #5

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