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Rape/Murder (1973), registro de performance de Ana Mendieta (Foto: Divulgação)
Postado em 24/11/2015 - 1:00
No es natural, es tropical
A contundência de artistas cubanos marca a grande exposição de encerramento da Casa Daros
Márion Strecker

Quando, em dezembro, a Casa Daros fechar as portas do edifício neoclássico de 1866 que pos- sui em Botafogo, no Rio, terá cumprido dois anos e dez meses de atividades artísticas de altíssimo nível. Com curadoria de Hans-Michael Herzog e Katrin Steffen, a última exposição traz um re- corte cubano da excelente Coleção Daros Latina- merica, fundada pela suíça Ruth Schmidheiny no ano 2000 e sediada em Zurique. Ela possui cerca de 1.200 obras de 120 artistas, criadas desde 1960. Na exposição atual, são mais de cem obras de 17 artistas, a maioria residente em Havana. Entre eles Tania Bruguera, Los Carpinteros, José Bedia, Marta María Pérez Bravo, Manuel Piña, Santiago Rodríguez Olazábal e Tonel. Se não abrangem todas as correntes artísticas contemporâneas de Cuba, cobrem a grande maioria, com temática so- cial, política e/ou religiosa.

Um dos destaques é Ana Mendieta (1948-1985), artista conceitual, escultora, pintora e videoartista, cuja obra é autobiográfica e feminista. Ela foi despachada para Miami aos 12 anos, na chamada Operação Peter Pan, em 1961, quando 14 mil crianças e adolescentes, por vontade das famílias e com apoio da Igreja Católica e da CIA, se exilaram nos EUA para fugir do regime de Fidel Castro.

Mendieta viveu em campo de refugiados, antes de se integrar a outras instituições e se formar na Universidade de Iowa, pós-graduada em Intermedia sob orientação do artista Hans Breder. Reencontrou a mãe apenas em 1966 e o pai em 1979, depois que ele passou 18 anos preso por envolvimento na invasão da Baía dos Porcos.

Ana Mendieta morreu jovem ao cair (ou talvez se jogar) do 34o andar do edifício onde morava, em Nova York, com o escultor Carl Andre, seu marido havia oito meses, e com quem tinha tido uma discussão violenta. Ele chegou a ser acusado por sua morte, mas acabou absolvido.

O Brasil vai perder a Casa Daros antes de banir o uso do amianto, a substância cancerígena que mata mais de 107 mil pessoas todos os anos e está proibida em mais de 50 países, segundo a Organização Mundial da Saúde. A proprietária da Coleção Daros foi casada com o bilionário Stephan Schmidheiny, herdeiro da Eternit. Schmidheiny foi condenado, em 2012, pela Justiça italiana em ação coletiva por expor ao amianto e vitimar milhares de trabalhadores e vizinhos das fábricas da Eternit na Itália.

Cuba foi o primeiro país onde a Daros pretendeu criar sua Casa, antes de se decidir pelo Rio. Da discreta colecionadora sabemos apenas que re- solveu mudar de estratégia, embora tenha gasto mais de 6 anos e R$ 67 milhões para restaurar o edifício de 11 mil metros quadrados no Rio.

Cuba – Ficción y Fantasia até 13/12, Casa Daros, Rua General Severiano, 159, Botafogo, Rio de Janeiro