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A Floresta de Jonathas, Sérgio Andrade, no IC Play (Foto: Divulgação)
Postado em 17/06/2021 - 11:55
Novos ares para o audiovisual
Itaú Cultural Play disrupciona ecossistema de streamings com plataforma cinematográfica gratuita, brasileira e não-hegemônica
Da redação

No sábado, 19 de junho, dia do cinema brasileiro, o Itaú Cultural lança, em um gesto inaugural, uma plataforma de streaming totalmente gratuita, o Itaú Cultural Play. O catálogo tem início com 135 títulos, que abrangem produções de diferentes formatos, contemplando 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. A plataforma se torna, com isso, um importante meio de circulação da produção nacional, com potencial para produzir e veicular obras do Acervo do Itaú Cultural, dos projetos realizados através da instituição e de parceiros estratégicos.

Com a parceria de curadores convidados, o Itaú Cultural Play nasce com títulos que vão de filmes clássicos a contemporâneos, contemplando uma ampla quantidade de obras recentes de autoria negra e indígena. A grade também busca um equilíbrio de gênero por trás das câmeras, são 56 diretoras e 64 diretores contemplados. “A plataforma tem o cuidado de cobrir a diversidade temática e geográfica da produção nacional e aproximar o público deste conteúdo”, diz Eduardo Saron, diretor da instituição.

Mostras sazonais serão organizadas através de recortes temáticos. As primeiras homenageiam a filmografia de Glauber Rocha e Luiz Carlos Barreto. Os programas permanentes tem como foco a autoria negra e indígena e uma representativa cobertura das produções dos estados brasileiros. O universo das artes está amplamente representado no catálogo. Um exemplo é o documentário A paixão de JL, um ensaio poético sobre Leonilson, vencedor do Festival É Tudo Verdade em 2015 e parte do Acervo do Itaú Cultural.

A Paixão de JL, de Carlos Nader, no IC Play (Foto: Divulgação)

A mostra permanente, O Ser Amazônico, faz um amplo e profundo recorte da produção recente de todos os estados do Norte do país. A seleção de filmes é do Matapi – Mercado Audiovisual do Norte, articulação dedicada ao desenvolvimento do audiovisual amazônico. Floresta de Jonathas, longa-metragem de estreia de Sérgio Andrade, é um dos destaques da mostra. O protagonista mora com a família em uma zona rural do Amazonas, ajudando o pai a vender frutas na estrada. O contato com os turistas o ajuda a saber o que acontece no mundo. Um dia, ao lado de amigos, do irmão e de uma ucraniana, ele vai acampar na mata e entra em uma aventura inesperada. A obra recebeu o prêmio de Melhor Ator para Begê Muniz no 9º AFF – Amazonas Film Festival, em 2012.

A mostra permanente Um Outro Olhar: Cineastas Indígenas, faz um recorte cuidadoso ao trazer ao público filmes de autoria indígena. A documentarista, curadora e diretora, Júnia Torres, foi a responsável pela seleção. O filme Hiper Mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, é um dos destaques da mostra. O filme é considerado um clássico de autoria indígena, tendo levado o Kikito Especial do Júri e de Melhor Montagem no 39° Festival de Gramado, em 2011; o Candango de Melhor Som no 44° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 2011; o Prêmio de Melhor Longa-Metragem no Festival de Cinema Brasileiro de Hollywood, Estados Unidos, em 2012, e o Prêmio Al Jazeera de Melhor Documentário no Festival de Cinema Latinoamericano de Vancouver, Canadá, em 2012.

As Hiper Mulheres, de Takumã Kuikuro, Leonardo Sette e Carlos Fausto, no IC Play (Foto: Divulgação)

Divino Tserewahú é outro cineasta que se tornou uma referência no audiovisual indígena. É dele Wai’á rini, o poder do sonho, documentário realizado em 2011. A partir do diálogo com seu pai, um dos líderes do Wai’á, revelam-se os segredos desse rito desconhecido, que inicia os jovens na vida espiritual. Sueli e Isael Maxakali também estão contemplados na mostra com a obra Yãmĩyhex – as mulheres-espírito. A partir da ótica Maxakali, o documentário capta a passagem das mulheres-espírito pela terra de Aldeia Verde, em Minas Gerais.

Um dos acervos permanentes mais importantes que fará parte da plataforma, é o acervo de animações, com dois focos diferentes de público: crianças e adultos. O super premiado curta-metragem Caminho dos gigantes, de Alois Di Leo, é uma das animações de destaque. Com intensa trilha sonora do peruano Tito de la Rosa, o filme conta a história de Oquirá, uma menina indígena que se recusa a compartilhar de um ritual de passagem de um dos membros da aldeia e foge para a selva. Ali, a garota inicia uma jornada de conhecimento onde compreende o ciclo da vida, na qual os seres humanos são parte integrante da natureza.

Caminho dos Gigantes, de Alois Di Leo, no IC Play (Foto: Divulgação)

Além das mostras, séries selecionadas por instituições parceiras como a Festa Internacional Literária de Paraty (Flip), a São Paulo Companhia de Dança, os institutos CPFL e Alana, além de dois canais de televisão, Arte1 e TVE/Bahia também fazem parte da programação. Festivais de cinema como forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte; IN-Edit – Festival Internacional do Documentário Musical e o É Tudo Verdade, também fazem parte da plataforma. No total, já são cerca de 30 parceiros que completarão a programação nos próximos meses, entre eles, o Instituto Moreira Salles, Canal Futura, Sesc, São Paulo e a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.

O Itaú Cultural Play está em processo de desenvolvimento já há dois anos e sua chegada ao mercado de streaming é a culminância de um longo ciclo de relação da instituição com o mundo da arte e da tecnologia. “Trata-se de uma plataforma em evolução, que será constantemente alimentada com novas produções e ajustada de acordo com as demandas que virão dos espectadores e da produção audiovisual brasileira”, afirma Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura da instituição. É possível que no futuro, salas com sessões especiais pagas também sejam ofertadas na plataforma, sem afetar o propósito central de ofertar conteúdo gratuito.

‍Com o avanço cada vez mais agressivo da publicidade em plataformas gratuitas de streaming como o Youtube, o movimento do Itaú Cultural Play é disruptivo. Com a integração da plataforma com outros conteúdos do Itaú Cultural, como a Enciclopédia, por exemplo, a plataforma garante um acesso saudável e verdadeiramente gratuito a obras que podem ter um impacto e papel profundo na educação estética das próximas gerações e na formação e consolidação de espectadores de audiovisual brasileiro.

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