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Sem Título (2015), de Solange Pessoa (Foto: Cortesia Mendes Wood DM)
Postado em 23/05/2017 - 7:00
Novos ases do jogo
No tabuleiro do mercado de arte, quais jovens artistas dão as cartas em 2017?
Luciana Pareja Norbiato

O que é preciso para “chegar lá” no mercado de artes visuais? Uma rede de fatores alavanca as carreiras incipientes. Seus sujeitos são tanto formandos de cursos de graduação das mais importantes instituições brasileiras quanto autodidatas que, com uma boa dose de sorte, acabam despontando sobre seus irmãos de geração.

Sair de uma boa faculdade já coloca o artista iniciante em vantagem. Bons projetos pedagógicos não apenas põem o jovem artista em contato com as diretrizes estéticas da atualidade como também o colocam em diálogo com mestres que são agentes importantes desse universo. Mas nada impede que formação e contatos sejam supridos no trabalho como assistente de um artista consagrado, como é o caso de Elvis Almeida, que trabalhou com Luiz Zerbini e, de maneira muito autoral, absorveu influências de sua pintura.

A validação da produção desses jovens artistas passa em grande parte pelos editais de instituições e curadorias de peso, que funcionam como uma peneira qualitativa. Os salões – como o já consagrado Salão dos Artistas Sem Galeria, uma iniciativa do jornalista Celso Fioravante – ajudam a tornar conhecido o nome inaudito.

Também ajuda a conquistar uma luz ao sol ganhar representação de uma pequena galeria e, com sorte, consistência e perseverança, ser assimilado por uma major. Paralelamente a exposições individuais e coletivas, a indicação para Bienais vale como consagração. Prêmios de importância nacional, como Pipa e Marcantônio Vilaça, são a cereja do bolo; se forem internacionais, como o Future Generation Art Prize, do Pinchuk Art Centre, podem catapultar o artista para uma art gallery nos EUA, Europa ou Ásia.

Qual desses fatores é mais importante para fazer um artista se consagrar como a ficha valiosa do momento? Não há matemática nessa fórmula. O imponderável é que dá o impulso definitivo para o pódio e nem todo mundo passa por todas as etapas acima. Um exemplo disso são os oito nomes que seLecT traz nestas páginas, cada um a seu modo anunciado como a bola da vez.

(Foto: Cortesia Galeria Mercedes Viegas)
(Foto: Cortesia Galeria Mercedes Viegas)

ELVIS ALMEIDA, SEM TÍTULO, 2016
Não dá para ignorar o fato de Elvis Almeida ter sido assistente de Luiz Zerbini. A influência de um dos papas da Geração 80 é o pano de fundo dos trabalhos recentes desse carioca nascido em 1985. Mas o trabalho do pupilo não se reduz ao do veterano. Almeida vai além sem cerimônia, fazendo um mash-up de elementos pop, do grafite e da cultura de rua sobre madeira, que usa como suporte. A Escola de Belas Artes da UFRJ e as aulas na EAV Parque Lage, além do curso de História da Arte nas Redes da Maré, ONG do complexo de comunidades no Rio de Janeiro, também ajudaram a burilar o seu talento. E o reconhecimento veio na forma da indicação ao Prêmio Pipa no ano passado, e no convite a integrar a Galeria Mercedes Viegas. Mas seu gingado não para por aí. Já participou da Abre Alas, projeto de A Gentil Carioca que revela novos nomes; da Internacional de Arte SIART (Bolívia); da Arte Pará e da coletiva Reality Reimagined, na Modified Arts (EUA).

(Foto: Paula Alzugaray)
(Foto: Paula Alzugaray)

LAIS MYRRHA, DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS, 2016
Lais Myrrha parece já ter sido carimbada com os principais referenciais artsy no Brasil. Mestra em artes pela UFMG (2007), rapidamente chamou a atenção de curadores e instituições culturais com sua pungente investigação sobre as ruínas do projeto de civilização do modernismo brasileiro. Arrematou a Bolsa Pampulha, o Rumos Itaú Cultural, a Temporada de Projetos do Paço das Artes e alguns prêmios da Funarte, entre os quais a Bolsa Estímulo às Artes Visuais. Foi indicada em quase todas as edições do Prêmio Pipa (ficou de fora apenas em 2011 e 2014), mas a consagração veio no ano passado, com a marcante participação na 32a Bienal de São Paulo, com Dois Pesos, Duas Medidas (2016). A instalação que ocupou o vão entre as rampas do prédio de Oscar Niemeyer é formada por dois empilhamentos simétricos de materiais usados para construir as ocas indígenas, de um lado, e as casas de alvenaria, de outro, tensionando as relações entre as tradições construtivas do passado e do presente. Hoje, ela integra a coletiva Avenida Paulista, em cartaz no Masp até 28/5, com um vídeo comissionado pelo museu.

(Foto: Cortesia Raquel Arnaud)
(Foto: Cortesia Raquel Arnaud)

CARLA CHAIM, VOLUMES III, 2014
Se o curso de Artes Visuais da Faap (SP) é o celeiro de novos artistas no País, Carla Chaim é uma de suas ex-alunas notórias. Duas vezes formada pela instituição, na graduação e pós em História da Arte, a paulistana coleciona chancelas. Uma delas é fazer parte de coleções como as do MAM-RJ, Itamaraty e da poderosa Ella Fontanals-Cisneros. Já fez residências em lugares como Arteles (Finlândia), Halka Sanat Projesi (Turquia) e The Banff Centre for the Arts (Canadá), e exposições em países como EUA, Portugal e o inusitado Cazaquistão. Suas obras seguem procedimentos de regras pré-estipuladas, em que o corpo tem papel preponderante. Representada pela Galeria Raquel Arnaud, tem entre suas conquistas o Prêmio CCBB Contemporâneo e o Prêmio FOCO Bradesco ArtRio, ambos em 2015, além do Prêmio Funarte de Arte Contemporânea e o Prêmio Energias na Arte, do Instituto Tomie Ohtake. Na virada do ano, despontou na lista dos 21 artistas indicados ao Future Generation Art Prize – selecionada entre nada menos que 4.421 inscritos de 138 países. Em 2010, a mineira Cinthia Marcelle venceu a primeira edição do Prêmio.

(Foto: Cortesia Galeria Millan)
(Foto: Cortesia Galeria Millan)

ANA PRATA, SEM TÍTULO, 2015
Atualmente no cast da Galeria Millan, Ana Prata fez sua estreia na cena institucional com exposições da Temporada de Projetos do Centro Cultural São Paulo e do Centro Universitário Maria Antônia. A graduação na UCA-USP foi a plataforma de lançamento dessa mineira nascida em 1980, cujas pinturas trazem forte carga gestual, misturando padrões geométricos e pinceladas abstratas vigorosas. Com incursões também em vídeo, que lhe abriram a participação na 18a edição do Videobrasil, já expôs em países como França, Portugal e EUA. Se, em 2011, participou da residência da Red Bull House of Art, com curadoria e bênção de Luisa Duarte, em 2016 sua temporada foi internacional. Além da residência na Residency Unlimited, em Nova York, a artista ganhou a individual Dropping the Guru na Pippy Houldsworth Gallery, em Londres.

(Foto: Cortesia Mendes Wood DM)
(Foto: Cortesia Mendes Wood DM)

LUIZ ROQUE, MODERN (FRAME), 2014
Quem também subiu nas cotações pela inclusão na 32a Bienal de São Paulo foi Luiz Roque. O artista, que nasceu, em 1979, em Cachoeira do Sul (RS) e é formado em artes pela UFRGS, tem motivos para esperar o melhor em 2017. Trocou de galeria, foi assimilado pela descolada Mendes Wood DM e, com isso, internacionalizou de vez sua carreira. A prova é ter sido indicado como um dos 17 artistas emergentes do mundo inteiro para se ver neste ano pelo site Artsy. Sua obra transgressora e multimídia usa de assemblages a vídeos em mídias obsoletas, como Super-8 e 16 mm, para encenar histórias surreais que desafiam noções de gênero, comportamento e até da história da arte. Sua estética particular já arrebatou editais do Centro Cultural São Paulo, Paço das Artes e Rumos Artes Visuais, além de ter figurado em inúmeras exposições em países como China, Lituânia, Inglaterra, Áustria e Espanha.

(Foto: Filipe Berndt, Galeria Leme)
(Foto: Filipe Berndt, Galeria Leme)

JAIME LAURIANO, ARTEFATOS #4, 2016
Além de artista, Jaime Lauriano agora também é gestor. O paulistano nascido em 1985 assumiu, desde o fim de 2016, a administração do Ateliê 397, um dos espaços independentes mais conhecidos da capital paulista. Nada mal para o ex-aluno da Faculdade Belas-Artes (SP) que traz em sua poética a crítica social e racial inserida na História do Brasil. No circuito das majors, segue ascendendo sob os auspícios da Galeria Leme, que o representa e se posiciona para que suas obras alcancem coleções como a da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Museu de Arte do Rio e da Schoepflin Stiftung: The Collection (Alemanha). Se, em 2016, fez residência na Ocupação Cambridge, no antigo e famoso hotel paulistano, já está arrumando as malas para a Casa Wabi, residência artística fundada por Bosco Sordi e coordenada pelo curador Pablo León de La Barra, em edifício de arquitetura de Tadao Ando, localizado na paradisíaca costa de Oaxaca, no México.

SOLANGE PESSOA, SEM TÍTULO, 2015 (Imagem acima, no destaque)
Formas orgânicas em desenhos, pinturas, cerâmicas, esculturas e instalações de dimensões colossais compõem a cosmogonia arqueológica de Solange Pessoa. A mineira nascida em 1961 e formada pela Escola Guignard já era veterana na virada do século 21, mas foi só aí que viu sua carreira galgar territórios além-mar. Em 1996/1997, ganhou a prestigiada bolsa da The Pollock-Krasner Foundation, que concede ajuda financeira a artistas que trabalham com papel como suporte, mas não promove mostras com os eleitos. Se, em 2001, veio a primeira coletiva internacional, na França, foi com a representação pela Mendes Wood DM desde 2015 que a artista chegou aos cubos brancos do Reino Unido e EUA. Nestes, entrou pela porta da frente, com uma obra adquirida pela peso pesado Rubell Family Collection, uma das maiores do mundo, participou de três coletivas do museu do casal Don e Mera Rubell, em Miami. Entre elas, New Shamans/Novos Xamãs: Brazilian Artists, em cartaz até 27/9.