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Postado em 30/09/2014 - 5:55
O dia seguinte
Paula Alzugaray

Bienais é o tema da nova edição da revista seLecT. Também: o tempo algorítmico de Fernando Velázquez, o cinema na pintura de Gisele Camargo, financiamento e arte, e muito mais.

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Entre agosto e setembro de 2014, durante a produção desta seLecT #20, ao menos 17 bienais tiveram novas edições inauguradas ao redor do mundo. Mas esse número, capturado do site da Biennial Foundation, não considera, por exemplo, a Bienal Naïfs do Brasil, que chega à sua 12ª edição em Piracicaba, no interior de São Paulo, garantindo visibilidade às manifestações artísticas não hegemônicas. Imagine então quantas outras bienais inauguraram fora do espectro das capitais só neste período. De Gwangju a Sorocaba, passando por Taipé e Montevidéu, todos os cantos do mundo querem uma bienal para chamar de sua.

A abertura da 31ª Bienal de São Paulo, em setembro, e a enxurrada de anúncios de novas bienais, trienais e quadrienais nos estimularam a trabalhar sobre o tema das exposições periódicas. O papel das bienais é analisado aqui. Falar em bienal é falar da relação entre artista e instituições, entre arte e mercado, entre arte e cidades, entre arte e política.

O objetivo de diplomacia geopolítica da Manifesta, bienal nômade, realizada em uma capital diferente a cada edição – surgida na esteira da queda do Muro de Berlim atendendo a um desejo de convívio pacífico pan-europeu – é destacado em resenha de Angélica de Moraes. A vinculação das bienais às dinâmicas do mercado é o foco da análise de Ana Leticia Fialho, que destaca a bienal como plataforma de negócios e as feiras como organizadoras de eventos de natureza cultural. Ela revela o que pouca gente sabe: a primeira feira de arte, que aconteceu em Colônia, teve origem em uma Documenta de Kassel.

Relações perigosas, mas às vezes necessárias, como essa, de tempos em tempos voltam à tona. Se a Bienal de Veneza surgiu de um projeto de dinamização turística e econômica da cidade italiana e a Bienal de São Paulo almejou desde o princípio a reputação de principal evento da América do Sul, nesta temporada tivemos pelo menos dois grandes acontecimentos que amplificaram as tensões entre exposições e seus investidores, a saber: o dinheiro do governo de Israel na Bienal de SP e a exposição de arte nas ruínas do Hospital Umberto I. A questão é o Fogo Cruzado do momento e nos incitou a lançar a pergunta: “Como o patrocínio impacta na produção cultural?”

A feitura desta revista após a abertura da 31ª Bienal nos permitiu, ainda, um distanciamento crítico para entender seus efeitos. E, diante da melancolia de uma exposição que nasceu de um estado de incertezas, nos oferecemos à leitura e ao desfrute como um antídoto para a ressaca.