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Postado em 27/04/2015 - 6:11
O dono da cor
Roberto Wagner

Uma entrevista com o fotógrafo norte-americano William Eggleston, que tem exposição no IMS do Rio de Janeiro

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Legenda: William Eggleston por Roberto Wagner

Nos anos 1970, quando William Eggleston começou a usar cor em suas fotos de cenas frugais dos EUA, os museus torciam o nariz para essa modalidade. Foto artística só em p&b. Foi preciso que o então diretor de fotografia do MoMANY, John Szarkowsky, fizesse uma expo em 1976 para que Eggleston virasse um mito e influenciasse gerações de fotógrafos e cineastas, como Wim Wenders. O também fotógrafo Roberto Wagner esteve com ele no Rio de Janeiro e entrevistou-o para a seLecT.

Você é um pioneiro no uso da cor na fotografia. Mas também fazia fotografias p&b no início de sua carreira. De que forma se deu essa transição?

Descobri um novo filme (Kodachrome) e já entendia de composição, de como as cores funcionam juntas. Também fui estudando o que era o todo da fotografia, os elementos básicos dessa arte e de como criá-la. Antes de tudo, comecei pela composição, pelo conteúdo e pela maneira como as cores interagem numa imagem plana. Ou seja, o que se aprende estudando pintura. E ainda estou estudando não só pintura, mas afresco também. Isso demanda muita reflexão… o que pode ser um problema (risos).

Depois de trabalhar com a impressão por dye transfer (técnica direta, por contato, que resulta em cores muito vivas) por tanto tempo, como você vê o advento da fotografia digital?

Tem funcionado muito bem para mim. Amo dye transfer e ainda uso. Mas venho tendo resultados maravilhosos com o processo do novo pigmento (mineral sobre papel de algodão). Nunca vou deixar de gostar do dye transfer, é tão bonito. Mas te digo que o novo pigmento é ainda melhor.

Você é citado como influência por diversos diretores, de Gus Van Sant a John Huston. Você também foi influenciado pelo cinema?

Sim, trabalho muito com um diretor-irmão, David Lynch. E adoro Hitchcock e sua linda cor.

William Eggleston, A Cor Americana, até 28/6, Instituto Moreira Salles, Rua Marquês de São Vicente, 476, Rio de Janeiro

*Entrevista publicada originalmente na edição #23