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Bando Teatro Favela (Foto: Divulgação)
Postado em 14/07/2016 - 6:50
O Morro conta sua história
Moradores do Morro da Providência, no Rio de Janeiro, formam grupo teatral e encenam histórias da comunidade
Felipe Stoffa

Destruído em 1893, o cortiço Cabeça de Porco foi um dos primeiros a surgir no Rio de Janeiro. Sua história é famosa e triste. O local que serviu de inspiração para o famoso romance de Aluísio Azevedo, O Cortiço, foi também palco de políticas racistas e higienistas, destruído no século 19. Alguns dos antigos residentes passaram a habitar uma região próxima, então denominada Morro da Favela. Com o fim da Guerra de Canudos, soldados regressavam à cidade carioca seguros de que seriam recompensados. Não receberam a prometida condecoração, o que forçou muitos deles a se juntar aos habitantes do extinto cortiço. De Morro da Favela, a comunidade passou a se chamar Morro da Providência e foi possivelmente a primeira favela do Rio de Janeiro.

Passados mais de 120 anos de história, a comunidade existe até hoje, agora palco e propulsora de diversas iniciativas culturais. Uma delas é o novo grupo Teatro da Favela, formado por atores da própria comunidade que lançam sua nova peça: Entre Becos e Vielas. O objetivo do grupo é justamente reunir atores que saibam e falem de sua própria história.

Bando Teatro Favela
Bando Teatro Favela (Foto: Divulgação)

Na peça, o cenário é o próprio Morro da Providência e seus personagens os moradores dali. A história é justamente a da comunidade, com foco em relembrar e homenagear as raízes de seus primeiros moradores. Esse viés também propõe uma narrativa que não precisa cair no tema da violência, e sim explorar ricos relatos pessoais, pouco conhecidos ou apagados.

“Quando criamos o Bando Teatro Favela queríamos fortalecer o movimento cultural aqui no Morro da Providência, com uma trupe teatral para chamar de nossa e que fosse feita por nós e para nós, debatendo nossas questões. Isso porque entendemos que não há ninguém melhor do que nós mesmos para falar e definir o ótica do discurso sobre nossa realidade”, diz Mônica Saturnino que, junto com Cintia Sant’Anna e a produtora Sarah Alonso, fundaram em 2015 a Colombina Realizações, companhia que idealizou o o grupo teatral.

Bando Teatro Favela (Foto: Comunicação)
Bando Teatro Favela (Foto: Divulgação)

Saturnino e Sant’Anna são atrizes, habitantes e agitadoras culturais da comunidade. “Toda a concepção deste espetáculo merece destaque por seu esforço e luta na escolha de seu local de apresentação, no alto da Praça do Cruzeiro, bem lá em cima do Morro; na criação de seus personagens, afetivamente inspirados em seus moradores e, claro, na escolha de seu público alvo. Moradores deste lugar de difícil acesso que terão, muitos pela primeira vez, contato com o teatro”, complementa Sant’Anna. O grupo é uma de suas realizações, que não para por ai. A iniciativa ganha potência principalmente ao reunir moradores interessados em promover e discutir questões sociais, políticas e, claro, culturais. O grupo Teatro da Favela e sua nova peça são exemplos disso, que acontece aos sábados, até o fim de julho, no Largo do Cruzeiro.

Serviço
Entre Becos e Vielas
Bando Teatro Favela
Sábados, até 30/7
A partir das 16h30
Mais informações: link do evento