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Postado em 10/02/2014 - 4:45
O mundo como museu
Paula Alzugaray

Nas bancas, polêmicas em torno do Estatuto dos Museus, uma entrevista com Diretor do MoMA-NY, novos conceitos de museus e 100 anos de Lina Bo Bardi

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Legenda: Instalação Primavera Noturna, de Ernesto Neto. Compõe a matéria A casa é sua, sobre intervenções artísticas em coleções e acervos pessoais (foto: Vicente de Mello)

Ao chegar no Brasil em 1946 e ser convidada a projetar um museu de arte em São Paulo, Lina Bo Bardi, impregnada pela paisagem tropical, afirmou: “Os museus novos devem abrir suas portas, deixar entrar o ar puro, a luz”. Em cada um dos museus que projetou no País, revisitados nesta edição por Lisette Lagnado, Lina Bo reinventava as funções e as relações dos edifícios com os seus meios, abrindo-os para o mundo, sempre em busca do frescor da experiência. Assim como o escritor e político francês André Malraux havia idealizado o Museu sem Paredes em 1935.

Dos projetos de Lina aos textos de Malraux, a função do museu vem sendo continuamente revista. Em alguns dos programas institucionais mais interessantes que temos hoje, o discurso unidirecional foi adequado em diálogos bidirecionais; a visão compartilhada superou a visão singular; a função de proteção foi relativizada pela de acolhimento. Pilotado por Giselle Beiguelman, o Mundo Codificado elucida, em linhas curtas e grossas, o que está mudando em termos de prioridades, estratégias de gestão e comunicação dos museus contemporâneos.

“Os museus devem ser o pivô, o ponto de articulação entre passado e futuro”, diz Glenn Lowry a Marcos Augusto Gonçalves. O diretor do MoMA-NY afirma que, por um lado, os melhores museus estão sempre procurando aperfeiçoar suas coleções, buscando adquirir trabalhos icônicos e importantes do ponto de vista histórico e critico. Mas, por outro, afirma categoricamente que a função de um museu não é só colecionar, mas estabelecer canais de comunicação com a comunidade de artistas emergentes, instituindo-se como plataforma de experimentação.

Com o respeito que uma importante instituição como o MoMA merece, para os brasileiros não é exatamente uma novidade que um museu seja lugar de trocas de conhecimento e comunicação. Entendemos o museu como observatório do mundo desde que Walter Zanini dirigiu o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), entre 1963 e 1978. A gestão vanguardista do MAC-USP está revista na exposição Por um Museu Público: Tributo a Walter Zanini, aqui resenhada pela repórter Luciana Pareja Norbiato.

Mas os argumentos de Glenn Lowry na entrevista exclusiva concedida à seLecT nos são de imensa utilidade em um momento em que o sistema de arte brasileiro se inflama com o recém-publicado Estatuto de Museus – discussão levantada na reportagem Decreto-Confusão, conduzida por Márion Strecker. Em seu afã e know-how colecionista, o MoMA tem como questão crucial a delimitação de seus critérios de escolha. “A questão mais interessante é a conceitual. Quais os parâmetros a considerar?”, indaga Lowry. A mesma dúvida caberia ao IBRAM. O que o Brasil deve colecionar? O que deve se comprometer a preservar? E quem deve responder por essas estratégias?