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Estudantes nigerianos na Ucrânia esperam na plataforma da estação ferroviária de Lviv [Foto: cortesia Bernat Armangue/AP / via @forgeprojectny]
Postado em 04/03/2022 - 3:17
O outro do outro somos nós
Quais imagens da guerra na Ucrânia você está consumindo?
Da Redação

Quais veículos de comunicação ou canais independentes de informação você acompanha para saber o que acontece do outro lado do mundo? Na guerra dentro da guerra (a das narrativas), os meios pelos quais você se informa determinam a leitura que você consegue fazer da guerra dos mundos. Num esforço de descentralização e descolonização, alinhada com os seus programas anuais #floresta (2021) e #arte_e_política (2022), seLecT retoma a seção digital media reader para trazer aos leitores a cobertura da invasão russa na Ucrânia feita por um canal de Instagram dedicado a “honrar os ancestrais indígenas e construir futuros nativos”.

O Forge Project, iniciativa liderada por povos nativos do território estadunidense com foco na educação decolonial, arte indígena e apoio a líderes em cultura, segurança alimentar e justiça da terra, postou hoje, 4/3, a imagem acima, que retrata estudantes nigerianos na Ucrânia na plataforma da estação ferroviária de Lviv. A seguir, leia a tradução do texto da postagem.

As representações da guerra na #Ucrânia e da “outridade” [othering] da violência fora do Ocidente na grande mídia propagam, na melhor das hipóteses, uma perspectiva eurocêntrica dos eventos mundiais e, na pior, uma hierarquia racializada da história. Como a Associação de Jornalistas Árabes e do Oriente Médio (AMEJA) apontou, as representações racistas e orientalistas da guerra normalizam a tragédia em lugares como Oriente Médio, África, Sul da Ásia e América Central, e “contribuem para o apagamento das populações ao redor do mundo que continuam a sofrer ocupação e agressão violentas”.

Como @forgeprojectny aprendeu no início desta semana em uma apresentação do Dr. Kirsten Pai Buick, o conceito de “Outro” é uma “forma generalizada de formação racial tóxica particular à era moderna”. No Ocidente, o “Outro” representa, como o Dr. Buick explicou, “formação racial violenta, branca, heteronormativa e contínua à custa de grupos definidos e tomados como alvo”. Essa visão de mundo supremacista tem impactos locais: pessoas negras e pardas que vivem na Ucrânia enfrentam discriminação ao tentar fugir e têm asilo recusado em países vizinhos, como a Polônia.

Essa discriminação não é nova e está ligada às maneiras como o governo dos EUA e outros estados-nação ocidentais mantiveram estruturas de poder global ao longo dos séculos. As crises de refugiados em curso em todo o mundo destacam as maneiras pelas quais a liberdade de movimento e segurança é negada a pessoas do Oriente Médio e Norte da África na Europa e a pessoas do México e da América Central nos Estados Unidos.

O #ForgeProjectNY recomenda seguir fontes de notícia verificadas e mídias independentes, como @democracynow, @kyivindependent ou fontes acadêmicas, como @NanaOseiOpare, professor assistente de História da África e da Guerra Fria, para uma cobertura mais nuançada da guerra em andamento na Ucrânia.