Tem menos da metade do tamanho de um iPad e é pouco maior que um smartphone. As superfícies de navegação que oferece, porém, são tão ou mais sensíveis. Não precisa tela de toque. Basta olhar para acioná-las. O livrinho Martinelli, Pedro, lançamento da editora Terra Virgem na coleção Fotógrafos Viajantes, é uma jóia de bolso. Daquelas que a gente custa a se desgrudar e quer ficar revirando infinitamente nas mãos. Reune uma emocionada amostragem de imagens de um conjunto imenso, que o fotógrafo Pedro Martinelli realizou ao longo de quase meio século de expedições ao interior do Brasil.
Há uma ou outra foto de viagens ao exterior mas a insistência nas imagens amazônicas se impõe pela enorme qualidade e quantidade dessa produção. A obsessão de Martinelli em fotografar a Amazônia vem desde os anos 1970. Entre outras raridades, fez a primeira foto de um Kranhacãrore, no primeiro contato com esses índios empreendida pelos irmãos sertanistas Villas Boas, na região da então futura estrada Cuiabá-Santarém. O espanto foi mútuo e Martinelli, de dentro de uma canoa, só conseguiu disparar uma vez a máquina. Foto tremida. A segunda tentativa teve êxito e vemos surgir da mata fechada um índio alto e forte, o corpo todo pintado de preto, de olhar agudo e ainda atônito. Cada imagem do belo livrinho nos provoca a pensar e sentir em sintonia com Martinelli, o desbravador de signos e sensível criador de significados. A edição, cheia de sutilezas, de Roberto Linsker, aciona reflexões sobre a noção de progresso e civilização.