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Mobilização é pacifista e prioriza educação
Postado em 21/10/2011 - 1:45
Occupy Wall Street vai desembocar no G20?
Occupy Wall Street mostra a indignação geral e os impasses das multidões
Giselle Beiguelman

Quem acreditava que a celebração mundial do primeiro mês da ocupação da praça Zuccoti, em Manhattan (NY), marcaria também a festa de encerramento da mobilização #OccupyWallSt enganou-se. A onda de ocupações se espalha por várias cidades (dos EUA e de outros países) e se ramifica em outros movimentos.

Ontem foi lançado em Nova York o Occupy Museums, saindo do MoMA e terminando no New Museum. A organização, liderada por Noah Fischer, conclama o público a confrontar as regras de “um sistema de arte hierárquico, baseado na falsa escassez e na propaganda”, que visa apenas “o ganho monetário da elite das elites”.

O movimento dos artistas segue o dos escritores e aparece quase simultaneamente ao anúncio da convocação da #RobinHood Global March pelos ativistas do Ad Busters para o dia 29 de outubro, véspera do encontro do G20 em Paris.

A marcha pretende reunir milhões de pessoas em todo mundo para pedir o estabelecimento da taxa Robin Hood, que recolheria 1% de toda e qualquer transação financeira e monetária. O dinheiro seria aplicado em um fundo e destinado a programas sociais e iniciativas de proteção ambiental.

A diversidade de formatos que as reivindicações mundiais vêm assumindo desde a ocupação da Praça do Sol, em Madri, pelos “Indignados”, em maio último, indica mais que atualização de ideais com toques de maio de 1968. Evidencia a frustração com utopias de uma era de riqueza globalizada, que floresceram depois da queda do muro de Berlim.

Essa frustração está relacionada às saudações de boas vindas à “mudança de paradigma” (Welcome to the Paradigm Shift), um dos slogans dos ocupantes de Wall Street.

Occupy Wall Street combina palavras de ordem bem-humoradas com cartazes que confundem os limites entre a perplexidade e a inocência. Mostra o ceticismo de uma juventude que não vai ter direito de sonhar com o American Dream e a tristeza de uma outra geração que se sente assaltada pelo sistema financeiro mundial.

O centro de gravidade é um pequeno parque privado, a praça Zuccoti, que fica entre o antigo World Trade Center e Wall Street. À primeira vista, parece um parque temático da política.

Tem gente fantasiada, um monte de pessoas posando com cartazes para fotos, barraca de cachorro quente, ponto de imprensa pra lá de cor de rosa, biblioteca comunitária e uma hilária estação de primeiros socorros, a Cruz Vermelha e Negra.  (Veja fotos, acima).

No meio de tudo, um cara vende as tradicionais camisetas I Love NY. As camisetas são compradas pelo público e imediatamente entregues a um grupo de ativistas. Eles passam o spray nas camisetas e carimbam a frase: Occupy Wall Street.

Na perversão do souvenir, Occupy Wall Street mostra a sua cara e sua frágil e irônica consciência do tamanho do poder que confronta.

Saindo dali, caminhando pelas redondezas, essa ironia vai ganhando contornos de sagacidade. Terrenos com obras paralisadas, a interminável história da construção das novas Torres, imóveis fechados. O impacto cultural e econômico do 11 de Setembro de 2001 ainda aguarda profundos estudos por fazer.

Quando se avista, o que não é difícil, diga-se, o monumental edifício de Frank Gehry, parcialmente habitado, olhando para a Brooklyn Bridge, a conclusão é inequívoca: ficou ali o último suspiro e aposta num mundo Yuppie.

Das suas ruínas, resta seguir em frente e, na primeira oportunidade, quebrar e subir a Broadway. Bombando de camelôs vendendo a cópia da cópia de tudo numa tarde de sábado outonal em Nova York.

É para lá ou para a Robin Hood March que a multidão está indo?

Fotos: Giselle Beiguelman/Estúdio seLecT (Nova York, 15/10/2011)