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Postado em 09/03/2013 - 7:51
Olho subjetivo
João Paulo Quintella

Exposição coloca em xeque propriedades do vídeo, como a visualidade, e questiona sua fruição estética

Povo_na_praia

Legenda: Cena de Povo na Praia, de Tadeu Jungle.

A relação direta entre imagem e existência é a síntese da exposição Videoarte 2013, com curadoria de Alberto Saraiva, que inaugura nova galeria no Oi Futuro Ipanema. Entre as obras de 13 artistas expostas, Jozias Benedicto chama a atenção para sua experiência literária intitulada Minha Vida de Menina. Neste trabalho, o artista narra um texto produzido por ele próprio, assumindo sem medo a posição de um contador de histórias diante da câmera. Por sua mínima utilização dos recursos próprios do suporte vídeo (plano fixo e único, fotografia simples e cortes escassos), à primeira vista, sua presença parece estranha em uma exposição cuja intenção é apresentar um panorama da produção recente no País. Alguns minutos mais e fica claro que o conceito por trás da curadoria vai além do virtuosismo visual que se pode esperar de um meio tão cheio de efeitos, mas nem tão especiais. O trabalho está para além do que se vê, parafraseando Marcelo Camelo, e recusa sua propriedade mais óbvia, a visualidade.

Em outros dois trabalhos, Olho, de Cid Campos, e Povo na Praia, de Tadeu Jungle, existem pistas de que essa mecânica do olhar, da fruição estética, é que está em xeque nessa coletânea. A exposição aponta não para a evolução de um meio mas para sua apropriação por diferentes poéticas. Relicário, vídeo de Alessandro Sartore, é outro a apontar para fora das experimentações de linguagem do próprio suporte. Aqui vemos uma simples caixa de sapato aberta e brilhante e ouvimos uma música que remete ao universo infantil. A carga imaginativa dialoga com o texto de Jozias Benedicto, formando uma espécie de palíndromo sobre a questão da construção de subjetividade.

O questionamento do sujeito e do espectador (des)aparece ao longo da visitação. A exposição não foge das respostas e, para concebê-las, ninguém melhor que o próprio Nietzsche. As palavras do filósofo alemão foram digitalizadas e programadas para responder a qualquer questão do visitante no trabalho Diálogos, de Ricardo Barreto e Maria Hsu. Nietzsche encarna um rosto feminino em sua versão avatar, talvez para trazer à tona um pouco da ilusão que a linguagem imagética digital disseminou no mundo contemporâneo.

Um segundo módulo da exposição acontece na fachada do prédio, repercutindo no espaço físico o mesmo movimento que as obras produzem: para fora do suporte. Esse deslocamento redimensiona a relação entre a arte e a instituição com o espaço urbano. As projeções tomam conta da arquitetura, deixando evidente o foco na mais recente característica incorporada pelo vídeo, a mobilidade.

Saiba mais:

VIDEOARTE 2013
Oi Futuro Ipanema
Até 31 de março

*Publicado originalmente na edição impressa #10.