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Postado em 13/06/2014 - 5:50
Pablo León de la Barra
Paula Alzugaray

Novo Museo Tropical, projeto em desenvolvimento do curador, agitador cultural e editor mexicano, é uma coleção de propostas para uma nova historiografia dos trópicos

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Legenda: Museo Isla Santa Barbara, em Flores, Guatemala (foto: Cortesia do artista)

Questionar a estrutura e a função do museu é a principal vocação do Novo Museo Tropical (NMT), um projeto de Pablo León de La Barra que se desdobra em diversas ações e exposições. Sua mais recente edição deu-se sob a forma de uma publicação, Arquitetura nos Trópicos (2013), produzida para o 33º Panorama da Arte Brasileira. O projeto, parcialmente reproduzido nas páginas da edição #16 da seLecT, é uma coleção de imagens de parques, pavilhões, memoriais e museus (folclóricos, etnográficos, históricos, políticos, artísticos etc.), que compõem um panorama exuberante da cultura. Em abril de 2013, o projeto assumiu a forma de um museu sem paredes, montado na Casa de Vidro de Lina Bo Bardi: com redes nos pilotis e vitrines em forma de mesas, com desenhos, croquis e anotações que lançavam perguntas do gênero “Como acordar museus mortos?”

Em 2012, o NMT desdobrou-se em dois projetos em San José, na Costa Rica: Museo Banana e Cinema Tropical. Com trabalhos de Minerva Cuevas, Javier Bosques, Fernando Bryce e Tonico Lemos Auad, entre outros, as exposições colocavam em perspectiva questões como a exploração política e econômica, a fantasia e o exotismo, associados às plantações de banana em diversos contextos da América Latina.

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Legenda: À esquereda, Museo Amazonico, em Iquitos, Peru. À direita, Museo Fitzcarraldo, também em Iquitos, Peru (foto: Cortesia do artista)

Mas, segundo o texto Tropicália (1968), de Hélio Oiticica, citado no estatuto da 1ª Gran Bienal Tropical, sediada em San José, em 2011, “o mito da tropicalidade é muito mais que araras e bananeiras: é a consciência de um não condicionamento às estruturas estabelecidas, portanto, altamente revolucionário na sua totalidade”.

O Novo Museo Tropical, portanto, é muito mais que uma série de curadorias. É uma coleção de histórias, poemas, textos, referências. É uma enciclopédia cultural, parte de um projeto maior, intitulado Centro de Revolução Estética, que tem o Tropicalismo como atitude. Na opinião da artista Dominique Gonzalez Foerster, com quem León de la Barra realizou, em 2008, o Sitio de Experimentación Tropical (SET), o NMT deveria ser “um lugar para observar, desfrutar e descrever os efeitos da tropicalização”.

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Legenda: Parque Museo La Venta, Villahermosa, em Tabasco, México (foto: Cortesia do artista)

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Legenda: À esquerda, Museu Carmen Miranda, no Rio de Janeiro. À direita, Casa Klumb, em San Juan, Porto Rico (foto: Cortesia do artista)

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Legenda: Museu de Arte, em Brasília (foto: Cortesia do artista)

Se o NMT tivesse um manifesto, poderia ser este, publicado no Diagrama Tropical (2013), apresentado na Casa de Vidro, que configurava a tentativa de construir uma nova historiografia dos trópicos: “Quando os museus e centros culturais fora dos centros hegemônicos da arte ficam vazios por falta de verba para programação e curadores, quando os artistas que vivem nas semiperiferias produzem especificamente para o mercado, feiras de arte e bienais internacionais, ignorando seu público e contexto locais, ou abusando de seu público e contexto locais, quando a arte produzida em outros lugares é comprada legalmente (e não mais obtida por meio de pilhagem, como no passado) por patronos e museus internacionais, não deveríamos repensar o tipo de “arte” que fazemos? Não deveríamos repensar o tipo de exposições que produzimos? Não deveríamos repensar o tipo de museus que aspiramos possuir? O Novo Museo Tropical é um museu sem paredes. Um convite a se repensar o museu fora do centro. Ser tropical não é uma questão de localização, mas uma questão de atitude”.

*Portfólio publicado originalmente na edição #16