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Vista de Sob as Cinzas, Brasa, com obras de Giselle Beiguelman, Gustavo Torrezan e Marina Camargo
Postado em 23/07/2022 - 10:53
Panorama instagramável
Sob o signo do fogo e das cinzas, mostra propõe autoanálise de um Brasil em ebulição e convida público a se colocar em cena

O teto vermelho e paredes cinzas sinalizam: a 37ª edição do Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo coloca em pauta as tensões sociais e políticas no Brasil nos últimos quatro anos e anuncia as que ainda estão por vir. 

”A força do fogo e da brasa nos mobilizou. Queremos inverter a noção de um Brasil em que o progresso está ligado a devastação ou extração da terra. Aqui, posicionamos a brasa como possibilidade de resistência e, as cinzas, de renascimento”, explica Cauê Alves, Curador-chefe do MAM e integrante do grupo curatorial da mostra, junto de Claudinei Roberto da Silva, Vanessa Davidson e Cristiana Tejo. A mostra busca levantar soluções artísticas frente ao cenário de emergência atual, investigando como os artistas enraizados no Brasil enfrentam a multiplicidade de problemas herdados há 200 anos do modelo colonial.

Composta por 26 artistas, a edição deste ano traz, em sua maioria, obras inéditas e comissionadas, discutindo símbolos nacionais, território e identidade. Responsável pelo Projeto Parede, No Martins apresenta a série Encontros Políticos (2022), composta por pinturas retratando as relações interpessoais cotidianas da pessoa negra, além da instalação Danger, que sinaliza para o lado de fora do museu, em luz vermelha piscante, a violência de Estado exercida pela polícia contra a população negra. 

Danger, de No Martins

Na entrada da sala principal, o visitante depara-se com Meio Monumento (2022), instalação interativa da artista e professora Giselle Beiguelman. A réplica da estátua de Borba Gato, partida ao meio e derrubada, será utilizada como local de debates e conversas durante a programação da mostra. Ao lado, a instalação de Lais Myrrha investiga a arquitetura da marquise do parque, projetada por Oscar Niemeyer, e que abriga o museu.

A revisão do Brasil colonizado se estende ao longo da mostra. Independência e Morte (2022), pintura inédita de Jaime Lauriano, apropria-se da conhecida obra de Pedro Américo para retratar uma terra vazia e destruída, evocando os crimes ambientais de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. Lauriano retira os personagens históricos da tela, utilizando alguns adesivos, como o do Canarinho Pistola – mascote da seleção nacional na Copa do Mundo de 2014, ou escreve frases em letras garrafais, como ”QUEM NÃO REAGIU ESTÁ VIVO” e ”PASSA BOI, PASSA BOIADA”, fazendo alusão à frase do ex-ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles. No topo da moldura, soldadinhos de chumbo representam diversas instituições da esfera política e outros hasteando bandeiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e do Movimento Antirrascista.

Em diálogo com a obra de Lauriano, Ana Mazzei apresenta peças da série Garabandal (2019-2022) que permitem que o espectador, ao sentar-se em uma reprodução do cavalo de Dom Pedro, protagonize seu próprio grito de independência.

Peça da série Garabandal (2019-2022), de Ana Mazzei

”Este Panorama é resultado de um esforço coletivo, formado, sobretudo, pela equipe do museu. Colocamos em primeiro lugar a diversidade, tanto na escolha de artistas quanto nos assuntos abordados. Vai desde questões políticas do Brasil até as chamadas “artistas-florestas”, que abordam a questão matriarcal pela luta, acolhimento e compartilhamento de saberes”, conta Tejo. 

SERVIÇO
37º Panorama da Arte Brasileira – Sob as Cinzas, Brasa
Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque Ibirapuera – Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3
De 23/7/2022 a 15/1/2023
R$ 25