Pela segunda vez este ano, trabalho de arte ressoa em controvérsias pelas redes sociais no Brasil. Agora, o trabalho objeto de discórdia é a performance La Bête, do artista carioca Wagner Schwartz, realizada em 27/9 na abertura do 35º Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. O que deveria funcionar como uma releitura dos emblemáticos Bichos de Lygia Clark, acabou chamando a atenção pela interação de uma criança com o corpo nu do performer.
Os Bichos da artista neoconcreta são obras que começaram a ser produzidas nos anos 1960, feitas a partir de estruturas de metal com dobradiças que permitem a articulação por parte do público. Foi, inclusive, por esse convite à participação que ficaram bastante conhecidas. Pensando nisso, o que propôs Schwartz em sua performance foi que seu corpo fosse usado como as peças de Lygia Clark, livres para a manipulação.
No dia da apresentação única do trabalho em questão, uma criança ao lado de e encorajada pela sua mãe, interagiu com o artista. A ação foi registrada em vídeo e agora circula pela internet. No entanto, como é comum em compartilhamentos de rede, algumas informações são omitidas, mesmo que não voluntariamente, das publicações.
Em nota de esclarecimento, o MAM escreveu: “Importante ressaltar que o material apresentado nas plataformas digitais não apresenta este contexto e não informa que a criança que aparece no vídeo estava acompanhada e supervisionada por sua mãe. As referências à inadequação da situação são resultado de desinformação, deturpação do contexto e do significado da obra”. O museu ainda sublinha que a sala onde aconteceu a performance estava devidamente sinalizada, indicando a nudez artística do trabalho.
Mesmo assim, acusações de pedofilia estão sendo feitas. Em sua página do facebook, o deputado federal Jair Bolsonaro compartilhou o vídeo do acontecimento, após adicionar uma tarja preta sobre o pênis do artista, e escreveu: “CANALHAS, MIL VEZES CANALHAS!”. O Movimento Brasil Livre (MBL) também se pronunciou em sua página: “Mais um caso de obscenidade envolvendo crianças e patrocinado com verba pública”. E, lembrando do recente caso da exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Santander Cultural de Porto Alegre, que encerrou antes do previsto devido a pressões conservadoras, pede o fim da Lei Rouanet. Para o movimento: “Depois dos casos Santander e MAM, isso se tornou uma urgência”. Urgente, no entanto, não seria promover o debate em vez de exigir medidas radicais que colocariam um vácuo no financiamento de projetos culturais?