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Wagner Schwartz realizando performance no Goethe-Institut Salvador-Bahia em 2016 (Foto: Maíra Spanghero)
Postado em 29/09/2017 - 6:17
Reações extremas
Performance na abertura do 35º Panorama da Arte Brasileira do MAM SP provoca reações radicais em redes sociais brasileiras
Luana Fortes

Pela segunda vez este ano, trabalho de arte ressoa em controvérsias pelas redes sociais no Brasil. Agora, o trabalho objeto de discórdia é a performance La Bête, do artista carioca Wagner Schwartz, realizada em 27/9 na abertura do 35º Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. O que deveria funcionar como uma releitura dos emblemáticos Bichos de Lygia Clark, acabou chamando a atenção pela interação de uma criança com o corpo nu do performer.

Os Bichos da artista neoconcreta são obras que começaram a ser produzidas nos anos 1960, feitas a partir de estruturas de metal com dobradiças que permitem a articulação por parte do público. Foi, inclusive, por esse convite à participação que ficaram bastante conhecidas. Pensando nisso, o que propôs Schwartz em sua performance foi que seu corpo fosse usado como as peças de Lygia Clark, livres para a manipulação.

No dia da apresentação única do trabalho em questão, uma criança ao lado de e encorajada pela sua mãe, interagiu com o artista. A ação foi registrada em vídeo e agora circula pela internet. No entanto, como é comum em compartilhamentos de rede, algumas informações são omitidas, mesmo que não voluntariamente, das publicações.

Em nota de esclarecimento, o MAM escreveu: “Importante ressaltar que o material apresentado nas plataformas digitais não apresenta este contexto e não informa que a criança que aparece no vídeo estava acompanhada e supervisionada por sua mãe. As referências à inadequação da situação são resultado de desinformação, deturpação do contexto e do significado da obra”. O museu ainda sublinha que a sala onde aconteceu a performance estava devidamente sinalizada, indicando a nudez artística do trabalho.

Mesmo assim, acusações de pedofilia estão sendo feitas. Em sua página do facebook, o deputado federal Jair Bolsonaro compartilhou o vídeo do acontecimento, após adicionar uma tarja preta sobre o pênis do artista, e escreveu: “CANALHAS, MIL VEZES CANALHAS!”. O Movimento Brasil Livre (MBL) também se pronunciou em sua página: “Mais um caso de obscenidade envolvendo crianças e patrocinado com verba pública”. E, lembrando do recente caso da exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Santander Cultural de Porto Alegre, que encerrou antes do previsto devido a pressões conservadoras, pede o fim da Lei Rouanet. Para o movimento: “Depois dos casos Santander e MAM, isso se tornou uma urgência”. Urgente, no entanto, não seria promover o debate em vez de exigir medidas radicais que colocariam um vácuo no financiamento de projetos culturais?