Legenda: Jonathas de Andrade por Esdras Bezerra de Andrade
Jonathas de Andrade
Artista, trabalha com instalações, vídeos e fotopesquisa. Vive no Recife, Pernambuco
Nasci em Maceió e tenho relação forte com o jeito com que as pessoas, o pensamento e as relações se movem aqui. Escolhi Recife para morar há 12 anos porque é uma cidade caótica, densa culturalmente, desafiadora. A memória transborda por todos os lados, mas nem sempre é reconhecida como tal. Muitas vezes a ruína e o esquecimento são os melhores cenários para a sua preservação, pois muito frequentemente são alvo do governo, há um bom tempo aliado às construtoras, pilhando a cidade para a construção de uma cidade elitista, higienizada, segregadora. Tudo que não for carnaval, maracatu e a cultura popular – cartão-postal da região – fica fora de um espectro de reconhecimento oficial e acaba marginalizado, podendo não resistir a essa higienização. É um terreno duro, mas muito rico e cheio de contradições. Meus projetos têm respondido a esse contexto e por isso tem feito sentido estar aqui.
Legenda: Moacir dos Anjos (foto: Divulgação)
Moacir dos Anjos
Curador de artes visuais e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco. Vive no Recife, Pernambuco
Menos do que viver no Nordeste do Brasil, vivo numa cidade, Recife. Mas ao mesmo tempo vivo além da região. Como viajo bastante a trabalho, costumo pensar que vivo em vários pedaços de cidades, situadas em várias partes do mundo e articuladas por uma geografia do afeto. Mas é a partir do Recife que faço as articulações entre elas. É com o sotaque daqui que pronuncio seus nomes e os invoco. É claro que poderia ser outro esse ponto de ancoragem, e mudar-me “de vez” para outra região, para outra cidade. Convites sedutores vez por outra desorganizam o meu sentido de orientação e pertencimento. Mas há razões para manter-me no Recife, algumas de ordem pessoal, outras ancoradas na convicção de que, para além de ser sempre possível “mudar de cidade”, é preciso também entregar-se à tarefa de “mudar a cidade” em que se vive. Se até que o mundo acabe ou somente por mais algum tempo, não sei dizer. E acho que não me interessa tanto saber.
Legenda: Jarbas Jácome (foto: Divulgação)
Jarbas Jácome
Músico, artista eletrônico e professor da UFRB. Vive em Cachoeira, Bahia
Porque é no Nordeste que fica a Bahia, e é na Bahia que fica o Recôncavo. O Recôncavo expõe as feridas não cicatrizadas de nossa colonização. Quem estiver a fim e tiver condições mínimas de lutar e encarar esse problema de frente será muito bem-vindo nesta terra. É como me sinto aqui, muito bem-vindo.
Legenda: José Rufino, por Adriano Franco
José Rufino
Artista visual. Vive em João Pessoa, Paraíba
Porque faz parte do meu trabalho, de uma decisão política e de uma poética que pede doses de isolamento geográfico dos polos hegemônicos do sistema da arte. No ateliê, crio meu centro irradiador e me mantenho circundado por campos de silêncio. O Nordeste é um lugar fértil para cultivar processos com especificidades, mistérios, estranhezas. Porém, como não há muros, posso escutar parte das vozes vindas das bordas e, vez por outra, enviar meus emissários (obras) ansiosos por burburinhos.
Legenda: André Lemos por Mari Fiorelli
André Lemos
Pesquisador de mídia digital e professor da UFBA. Vive em Salvador, Bahia
Boa pergunta. Nunca decidi de fato. Nasci no Rio, de pais baianos. Foram eles que me trouxeram para Salvador. Voltei ao Rio na segunda metade da década de 1980 para estudar, mas retornei pela comodidade do trabalho e pelo amor. Depois, no começo dos anos 1990, fui para Paris e voltei pelo convite para lecionar na universidade. Nunca optei exatamente, fui levado sempre. Nunca fui exatamente o senhor da ação. Será que somos em algum momento? Portanto, nunca decidi exatamente viver no Nordeste. Aliás, nunca pensei em “Nordeste”. Essas escalas são incompreensíveis e completamente artificiosas. Só há o lugar construído pouco a pouco. Não há Nordeste para mim.
*Fogo cruzado publicado originalmente na edição #21