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Postado em 04/02/2015 - 7:58
Primeiras palavras
Luciana Pareja Norbiato

Novo curador da Bienal, Jochen Volz lança ideias preliminares para a 32ª edição, em que a incerteza gerada pelos impactos da globalização na atualidade abre caminho para novas possibilidades por meio da arte

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Legenda: O curador da próxima Bienal de SP, Jochen Volz, ao lado do presidente da Fundação, Luis Terepins, durante coletiva durante a manhã desta quarta, 4/2 (foto: Pedro Ivo Trasferetti / Fundação Bienal de São Paulo; foto thumbnail: Sofia Colucci)

Se o mundo está à beira do caos e a incerteza reina, por que não buscar na arte novas formas de compreender a humanidade, sem a necessidade de se fechar em uma resposta certa? É esse o ponto de partida que Jochen Volz lançou nesta quarta para as pesquisas que irão configurar a próxima Bienal de São Paulo, cujo orçamento total está estipulado em R$ 29 milhões. 

O curador foi buscar na teoria da comunicação o conceito de medidas de incerteza representado pela entropia, “uma ideia emprestada da termodinâmica para determinar a proximidade em que um sistema está do equilíbrio ou da desordem”, segundo texto que leu durante a coletiva. 

Longe de querer abraçar a ideia do caos vigente como índice da falência da civilização, Volz busca na ausência de certezas e na aparência de catástrofe iminente a possibilidade de novas formas da razão, mais abertas. Assim, não é surpresa que o processo de seleção dos trabalhos, muitos deles a serem comissionados e produzidos em residências e com bolsas de pesquisa no Brasil e exterior, seja feito por meio de visitas a ateliês e conversas com artistas. Nessa empreitada, desde já estão incluídos como co-curadores Júlia Rebouças, antiga parceira de Volz na curadoria de Inhotim; a sul-africana Gabi Ngcobo; e o dinamarquês Lars Bang Larsen.

A arte, por suas inúmeras estratégias de “apontar para temas como ordem e desordem, inversão, equívoco e mudança fundamental”, seria campo privilegiado de experimentações de novas formas de pensar, agir e compreender a civilização. Na mostra, essas ideias virão pautadas por temas como Subjetividade, Fantasmas, Inteligência Coletiva, Sinergia, Ecologia e Medo. Não só nomes atuantes no momento presente serão elencados, mas também nomes históricos, que “alargaram os limites e as nossas definições costumeiras de arte, que inventaram medidas e técnicas alternativas para descrever o incerto e o fictício, e que desenvolveram estratégias para desmedir e abalar o que geralmente se toma como certo”.

seLecT destaca alguns trechos do discurso proferido pelo curador na coletiva:

“Nos últimos anos, vimos a publicação de diversos livros e artigos científicos sobre o fim do mundo como o conhecemos, uma mudança. Biologistas e médicos descrevem as taxas de extensão na história biológica e geológica do planeta destacando que a Terra tem 45 milhões de séculos, mas que nosso século é o primeiro em que uma espécie, a nossa, é capaz de determinar o destino da biosfera. Eles dizem que estamos passando pela chamada sexta extinção, que é resultado do crescimento da população humana. Entramos numa era que as vezes é chamada Antropoceno, um termo usado para descrever a época na qual as atividades humanas passaram a ter um impacto global significativo.”

“A arte sempre brincou com o desconhecido. Ao longo da história, a arte insiste num vocabulário que descreve mistérios e qualifica a incerteza. Informações são perdidas e dúvidas persistem, mas a arte é capaz de moderar tais paradoxos, criando novos sistemas, escalas e critérios, introduzindo padrões e medidas alternativas. A arte trabalha com a incapacidade dos meios existentes de descrever o sistema do qual fazemos parte, ela aponta para sua desordem. Mais importante ainda, a arte é capaz de fazer isso porque naturalmente une o pensar e o fazer, a reflexão e a ação.”

“Marcel Broodthaers, o artista belga, dizia que a ficção nos permite viver a realidade e, simultaneamente, aquilo que ela esconde. Muitas vezes a entropia é vista como o declínio gradual da ordem, mas existem estados graduais do ser fictício?”

“Podemos dizer com certeza que a incerteza governará as próximas décadas, seja considerando os grandes eventos cósmicos que alguns prevêm para um futuro próximo, ou as crises e mudanças sociais, ecológicas, econômicas, políticas que o mundo enfrenta.”

“Se acreditamos verdadeiramente na arte, devemos pensar em novas fórmulas de fazer com que seus vários métodos de raciocínio sejam aplicados a outros campos da vida pública.”