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Postado em 28/09/2011 - 6:50
Projeto de peso
Da redação seLecT

Escultura, arquitetura e engenharia são somadas em projeto efêmero que usa mil toneladas de vagões de carga desativados

 

Legenda: Local da intervenção Canteiro de Operações de Resende e Brissac

Se fosse ópera, certamente o escultor José Resende e o filósofo e curador Nelson Brissac seriam tenores wagnerianos. Eles se reuniram para realizar, neste ano, um projeto de escala gigantesca denominado Canteiro de Operações. Trata-se de cortar e agrupar em arranjos efêmeros mais de mil toneladas de aço e ferro arrancadas de 30 vagões de carga pela ação de maçaricos e guindastes. O objetivo é refletir sobre os destinos do bairro paulistano da Mooca, epicentro de onda de especulação imobiliária que começa a destruir galpões e arrasar a memória de parte importante da história da industrialização do Brasil. A estação ferroviária, com quilômetros de vagões sucateados ainda presos aos trilhos, integrava a principal via de escoamento para o porto de Santos.

“É um laboratório de manipulação dessas grandes massas de aço”, conta Brissac. “Vamos deslocar, desestabilizar e transformar esses vagões”, diz Resende. O escultor será auxiliado por uma equipe de arquitetos e engenheiros de cálculo e metalurgia. Os exercícios serão acompanhados por estudantes de  arquitetura, gestores da esfera pública e associações de moradores. Não restará nenhuma obra escultórica, apenas a memória de um work in progress. Tudo será documentado em textos e fotos que integrarão um livro. Formato já utilizado por Brissac, aliás, na série de intervenções urbanas Arte/Cidade, realizada em São Paulo desde 1994, demarcando escala e modelo de curadoria até então inéditos no País.

*Publicado originalmente na edição impressa #1