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Postado em 05/10/2011 - 6:03
Quero ser Nelson Leirner
Paula Alzugaray

O artista solta o verbo sobre sua obra e o que pensa da criatividade

Select01-nelson Leirner Por Juan Estevestif

La Gioconda, produzi mais de 60 delas.

Sempre tento fazer uma síntese, mas nunca consigo parar. Sempre vem alguma coisa que me leva a fazer outra e a síntese nunca surge. Volto e continuo trabalhando.

De repente, o Hobby pode ser um final, uma síntese. O Hobby é uma nova instalação que será mostrada na retrospectiva da Galeria do Sesi, feita a partir de uma coleção de trabalhinhos que eu fazia e dava para a Liliana, minha mulher.

Não quero ser um Andy Warhol da arte. Porque o número de trabalhos que eu fiz já é tão grande… que, de repente, você já se sente assim um Andy Warhol.

A mostra Quero Ser Nelson Leirner (Casa da Xiclet, 2002) foi uma das maiores emoções que tive. Eu me tornei um trabalho naquele momento. Se eu fosse receber uma medalha de honra ao mérito no palácio do governo, não ficaria tão emocionado nem tão eufórico, como me marcou essa homenagem da Xiclet.

Os outros artistas dentro de mim? Todos. Vou fazer uma exposição em Miami, no dia 12 de novembro, que eu chamo Who is Who. Trabalho em cima do Monet, do Beuys, do Andy Warhol, do Picasso, e, lógico, do Duchamp. Em cima do Leonardo da Vinci, do Damien Hisrt, do Jeff Koons. É quase um “Adivinhe se puder”.

Nunca copiei outro artista. Me aproprio do conceito.

Já fui copiado e apropriado. Homenagem a Fontana foi copiado, vieram até me mostrar, queriam saber o que eu achava da cópia da cópia.

Tudo o que eu vier a fazer vai ser contestador. Isso é um estigma que não sai mais. Não adianta.

Sou acomodado. Muita gente enxerga mudanças no meu trabalho, mas eu não vejo. Não sou contestador. Arte pra mim é obsessão.

No meu trabalho, continuo sendo um colecionador. Ter um olhar consumista me dá satisfação.

Eu usava muito camelô, loja de museu. O Saara, a 25 de Março, a Liberdade, a Rua Augusta, bancas de jornal. De vez em quando, fico mais
sofisticado, vou a lojas de design.

Tudo o que eu uso é pirataria. Meu trabalho com adesivos deveria se chamar “China mon amour”.

É paradoxal que os stickers virem trabalhos únicos, originais. Meus mapas com adesivos são os trabalhos mais procurados, porque ainda há o fetiche da manualidade no gesto de colar os stickers. Meu galerista de Paris disse que o interesse pela fotografia está decaindo.

Não coleciono nada que não vire obra de arte. Mas é isso que estou procurando. Preciso colecionar alguma coisa e parar de fazer arte. Penso muito, mas não consigo encontrar alguma coisa pra fazer. O que vou colecionar? Borboleta? Fósforo? Canecas?

Os patuás são um ritual. Todo dia 31 de dezembro, à meia-noite, troco de colar. Ao longo do ano, vou juntando as peças. Tem de ter sempre um apito, um São Jorge (sou da confraria de São Jorge), uma estrela de Davi, uma figa, um espelho pra rebater (porque ele é muito olhado). Tem de ter sempre algo em relação ao meu cachorro, o Dog, tem de ter sempre algo ligado ao cristianismo, à cruz. Tem de ter algo daquela Maria Silenciosa, da Rue du Bac, de Paris. O resto são presentes, um Mickey da Disney… Às vezes, quando chega outubro, o colar está tão carregado de energia que o espelho explode.

Havia um valor afetivo em coisas que eu fazia. Eu gostava muito de fazer cartões de Natal. Mandava para uns 120 amigos. Enchia de selinhos, de bananas… Tinha gente que colecionava, colocava na parede, em quadrinhos… Hoje, vejo meus cartões em leilões. R$ 5 mil o lance inicial de um cartão de Natal. Meus presentes, todos no moldureiro. Passei a mandar por e-mail.

A série Sotheby’s é a mais procurada. É o best seller. Adorei quando a própria Sotheby’s vendeu um catálogo Sotheby’s. Tenho o catálogo em que esse trabalho estava sendo vendido. Essas são as coisas que realmente me divertem e gratificam.

Um problema não solucionado: Encontrar um hobby.

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