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Postado em 10/09/2013 - 9:23
Reflektor aponta para onde vai a imagem depois do tubo
Giselle Beiguelman

Veja com as mãos, assista conectado

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Legenda: Imagem do clipe interativo Reflektor

Reflektor é o novo single da banda Arcade Fire. Foi lançado como videoclipe interativo na segunda, 9/9, e bombou nas redes. Motivo? Muito simples: Reflektor é o audiovisual depois do tubo. Convenhamos, tanto se se fala na revolução do vídeo depois do YouTube, no fim dos modelos tradicionais de televisão e no final das contas o que se vê? Uma penca de vídeos lineares, que, na melhor das hipóteses reproduzem o modelão televisivo. 

Sem dúvida que a produção de séries alternativas para web, como as da Porta dos Fundos, várias disponíveis na Netflix e esquemas independentes de cobertura jornalística ao vivo, como as feitas pelo Mídia Ninja, são fatos importantes da história do audiovisual on-line, especialmente no que diz respeito a novos modelos de produção e distribuição. Contudo, do ponto de vista estético, das transformações nos modos e nos regimes de olhar, de perceber e interagir com as imagens, o que trazem de novo? 

É para essa direção que Reflektor aponta. Assim como o The Wilderness Downtown, também do Arcade Fire, é um projeto que explora as potencialidades do vídeo em rede, aproveitando os recursos do browser. No caso de the Wilderness…, explorou-se as possibilidades de jogar com a cidade em que o “espectador” (na falta de melhor palavra) cresceu, misturando imagens e dados desse local à música We Use to Wait. Agora, em Reflektor, transforma-se a webcam do computador em um olho maquínico. Esse “olho” nos liga à história de uma mulher, protagonista do clipe, que transita entre o seu mundo e o nosso. Por meio de um código rastreador — uma senha que se recebe ao se entrar no site e que se deve digitar no celular — o site de Reflektor se conecta ao nosso dispositivo. Ao apontar o celular para a webcam, ele é refletido na luz da câmera, e se comporta como se fosse um pequeno projetor. A tela se transforma em um espelho (ou, literalmente um refletor) e, conforme movimentamos o celular ou o mouse, efeitos se produzem nas imagens. Para completar, imagens captadas no Haiti e som na caixa.

Não é a primeira vez que a webcam é utilizada como elemento decisivo do processo de interação com um videoclipe. Sour/Mirror (2011), dos japoneses Masashi Kawamura, Tomohiko Koyama, Hiroki Ono e Qanta Shimizu para a música Utsushi Kagami (Espelho), não só usou, como combinou com dados do Twitter, do Facebook e de pesquisa no Google Images de quem assiste ao o clip, de forma absolutamente inusitada.
Existem quilos de projetos no site do Processing , uma linguagem de programação criada por Ben Fry e Casey Reas (portfólio da seLecT #7) que se valem dessa estratégia.

O interessante em Reflektor não é propriamente esse aspecto, mas a forma como está interligado a diversos dispositivos cotidianos e especialmente os modos pelo qual solicita o uso dos gestos na percepção das imagens e as formas de reinvenção do uso das tecnologias mais populares. Tudo isso faz dele um conjunto que fica entre o audiovisual, a web arte e a linguagem dos games. Mix que o transforma em um novo formato de imagem em que a ordem é: Veja com as mãos, assista com o celular, estabeleça conexão. É aí que aparece como vídeo depois do tubo.

Conheça os bastidores do videoclipe interativo Reflektor