icon-plus
Postado em 24/02/2012 - 7:53
Ryoji Ikeda em Berlim
Francesca Azzi, em Berlim

“db”, obra de Ryoji Ikeda, é um hai-kai visual e sonoro composto para o Hamburger Bahnhof de Berlim

Em sua primeira exposição individual na Alemanha, o artista visual e compositor japonês Ryoji Ikeda, 46 anos, está ocupando um lugar muito especial no museu dedicado as artes contemporâneas em Berlim, o Hamburger Bahnhof, Museum für Gegenwart.

Para quem não o conhece, os curadores da mostra, Ingrid Buschmann e Gabrielle Knapstein, lembram que desde meados dos anos 1990, Ikeda está entre os principais compositores internacionais e artistas a frente do domínio das tecnologias digitais e sua integração em apresentações visuais e artísticas.

Seus trabalhos são baseados em composições espaço-temporais nas quais a música e o material visual são reduzidos ao mínimo: sinais de onda, pulsação do som, pixels de luzes e informação numérica. Investiga o som, o tempo e o espaço baseado em métodos matemáticos e os transforma em seus concertos e instalações em uma intensa experiência para o público. O artista já se apresentou no Brasil, em 2009, no evento On_Off, experiências em Live Image, no Itaú Cultural.

Para a exposição na Alemanha, Ikeda criou uma instalação que une conceitualmente os dois halls superiores, onde estão as alas leste-oeste do museu, abaixo das torres, da antiga estação de trem. A obra se chama “db”, (abreviação de decibel) e traz em sua concepção um pouco da complexidade e, ao mesmo, tempo, do ultraminimalismo do artista japonês.

“db” trabalha com os conceitos de simetria, simultaneidade, complementariedade e oposição. Dois espaços: uma sala completamente branca (Asa Oeste) e outra completamente escura (Asa Leste) representam este jogo de sentidos.

Em seu experimento estético e matemático, Ikeda pretende um uso mínimo de luz, som e elementos visuais, tempo e espaço.

O branco/Asa Oeste

Todo o ambiente é branco, com exceção dos objetos e quadros pretos. Você é obrigado a colocar um protetor nos sapatos para caminhar pelo território branco, do som. Uma caixa acústica parabólica preta, direcionada, projeta uma simples onda de som nas paredes. Este som é reduzido à apenas uma frequência permanente, um simples bloco de som.

Ao visitante cabe se movimentar no espaço, e isso irá interferir no som que se modifica, decibéis são irritantes aos ouvidos. O número de pessoas ocupando o espaço criará uma interferência ainda maior. A obra The Irreducible [nº1-10] (2009) ocupa as paredes laterais do hall. São 10 quadros com impressões de um milhão de dígitos, renderizado e impressos no preto. Do outro lado…

O preto/Asa Leste

Todo o ambiente é escuro. Um poderoso refletor de luz projeta um facho de pura luz branca direcionado a um buraco na parede no final do espaço. Esta luz ofusca e fica perceptível como um círculo branco (analógica ao som da sala branca?).

Aqui também o movimento de cada visitante altera o campo visual, quando este cruza o facho de luz, reflexos iluminam as paredes e projeções, permitindo experiências individuais.

Nas paredes estão dez vídeo-projeções que fazem parte da obra The Transcendental [nº4] (2012). Elas consistem numa experiência matemática de Ikeda com a representação do infinto, com dígitos, que às vezes param e seguem aumentados e congelados num zoom rápido, que gera ao mesmo tempo um som em tempo real. Esta imagem e som parecem uma janela aberta para a sala oposta.

Em face do poema db impresso na parede da entrada da exposição, fica claro que Ikeda está indo além dos decibéis para construir um quase hai-kai visual e sonoro das contrapartidas de sua arte: escuro-claro, surdo-cego, morte-nascimento, decimal-binário, fazer-ser. Elas trazem a elegância atemporal e matemática do artista que realiza concertos audiovisuais, compõe, publica livros, CDs e LPs, sempre reafirmando um estética precisadas polaridades da experiência da sua obra e vida.

Para saber mais e ouvir as composições do artista
http://www.ryojiikeda.com/