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Da série A plasticidade da natureza morta, de Alberto Simon (Foto: Cortesia do artista)
Postado em 22/05/2012 - 9:22
Sacolinha biodesagradável
Delete coletivo faz encalhar nos supermercados a venda de sacolas supostamente verdes
Angélica de Moraes

Quanto tempo levará para aquela grossa embalagem de amaciante de roupas ser lanche para minhocas? Não menos que os cem anos das sacolas, claro, que nunca poderão sair do elenco de vilãs. Ambas são feitas de derivados do petróleo. Pensem no tamanho do problema: apenas 10% do lixo urbano de São Paulo, a sexta cidade mais populosa do planeta, é reciclado.

Foi aí que alguém teve a tal ideia que, no jargão publicitário, costuma ser identificada como “fora da caixa”. Mas muito focada em outra caixa: a registradora, claro. Qual a ideia? Uma campanha de educação ambiental. Ah, sim: que também colocasse à venda, por R$ 0,19 a unidade, sacolas biodegradáveis, feitas de amido de milho, recicláveis pela Mãe Terra em seis meses ou, se jogadas nos lixões comuns, em dois anos.

O rebanho, digo, os consumidores, no entanto, surpreenderam. Ninguém compra as tais preciosas sacolas verdes. Encalhe monumental. Ação “delete” em grande escala. Como o Ministério Público e o Procon exigem que os supermercados ofereçam alternativas sem custo, todos correram para as caixas de papelão. As mais biodegradáveis de todas, aliás. As embalagens de amido de milho são apenas biodesagradáveis, pois joga-se no lixo o que poderia ser alimento.

Aos desavisados pode parecer que os donos de supermercados no estado de São Paulo oscilam entre dois comportamentos antagônicos. Acordo firmado entre eles determinou que seria suspensa a distribuição gratuita de sacolinhas de plástico para os clientes acondicionarem suas compras. Um discurso ecológico parecia bem ensaiado para fazer o rebanho, digo, os consumidores aceitarem mais esse pastoreio.

Mas, como notaram algumas ovelhas negras, aquelas mais observadoras, a tal campanha se fazia nas grandes redes com enormes cartazes de… plástico! Plotados com mensagens alertando para o sufocamento do planeta, que seria causado tão somente pelas sacolinhas. Notaram mais: no entorno desses cartazes, especialmente na área de material de limpeza (ó ironia), fervilham atentados ecológicos sob a forma de embalagens plásticas rígidas.

*Publicado originalmente na #select5.

Tags  
reciclagem   urbanismo   cidades   lixo