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Postado em 28/01/2013 - 6:49
Sensibilidade bruta
Marcos Diego Nogueira

Casal octogenário agrada ao grande público e à Academia ao desafiar, em silêncio, a incondicionalidade do amor diante das intermitências da idade

Amour

Legenda: Cena de Amor, de Michael Haneke

Ao falar sobre sua geração, Michael Haneke conseguiu atingir em cheio o coração do grande público em Amor, seu novo filme. Aos 70 anos, o diretor austríaco nascido na Alemanha trata de um dos grandes medos de quem está na terceira idade: a chegada de um mal súbito que possa selar seu destino ou o de sua companhia.

Haneke filma Georges e Anne, um culto casal octogenário de professores de música. Suas vidas descontraídas e independentes em Paris mudam drasticamente quando ela sofre um pequeno derrame que paralisa o lado direito do corpo. É o momento em que tem seu amor colocado em cheque após tanto tempo de convivência. Para contar as crises e soluções desse casal, Haneke usa seu estilo inconfundível de deleitar o espectador com a mistura de delicadeza e morbidez. E usa muito bem o silêncio, que vez ou outra é interrompido por rompantes de música ao piano, para evidenciar duas lutas solitárias: a dela pela vida e a dele para gerir o sofrimento de sua companheira. Silêncio que deixa também evidente alguns soluços de emoção na sala de cinema.

Não à toa, essa coprodução entre França, Alemanha e Áustria vem arrebatando prêmios e indicações pelos países onde é exibido. A Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2012 abriu o caminho para que o longa-metragem recebesse merecidamente cinco indicações para o Oscar. E ainda que esteja concorrendo na Academia às importantes categorias de melhor filme e filme estrangeiro, diretor e roteiro original, a designação de melhor atriz para Emmanuelle Riva ganha destaque. A francesa que completa 86 anos em fevereiro é a mais velha atriz a concorrer ao prêmio desde 1930, data de seu início. Ela, que fez sucesso, em 1959, como protagonista de Hiroshima, Mon Amour, de Alain Resnais, rouba as atenções cinco décadas depois ao fazer par com Jean-Louis Trintignant, outro veterano na atuação e que estava aposentado há sete anos, mas se apaixonou pelo roteiro a ele entregue por Haneke.

Riva e Trintignant chegam a eclipsar a participação de Isabelle Huppert, musa do diretor, que encarna Eva, a filha do casal. Moradora de Londres, ela acompanha esporadicamente a piora da mãe e causa ruído no calado apartamento ao questionar o novo estilo de vida dos seus pais, que relutam em buscar uma casa de repouso para Anne. Ao final, a imprevisibilidade dos fatos nos leva a questionamentos sobre o que é exatamente o amor e quais os seus limites. Assim como acontece na vida real.

Amor, Michael Haneke, desde 18 de janeiro nos cinemas brasileiros